O Fla x Flu de Bob Dylan (por Paulo-Roberto Andel)

escudo-fluminense-1905-colorido

vibraram-os-tricolores-1941

Hoje é o Fla x Flu. Deixem de lado as politicagens e os araques. Às favas com os doces tirados das mãos das crianças. Chega de mágoa e ódio que só alimentam as mentes primitivas. Libertem as viadagens maleficamente oprimidas. Hoje temos a missão de vencer o eterno pré-campeão, o devastador de tabuadas, o argentino enrustido. Hoje é o Fla x Flu, em memória de Barthô, Romeu, Telê, Castilho, Assis e Washington. O clássico maior que precisa voltar a ser disputado no estádio cheio, aquele que ficou no lugar do falecido Maracanã. Nós contra eles. A guerra das cores, das bandeiras. Eles têm multidões, nós temos humanidade. Eles falam de ídolos, nós celebramos títulos. O Fla x Flu da Rua Guanabara, de São Januário, de General Severiano, de Ítalo Del Cima, Caio Martins, Mané Garrincha, Castelão e tantas outras praças. Vencer significa dar mais um passo rumo à confirmação da vaga à Libertadores 2017 e isso é o mais importante. Não que baste para o Fluminense, mas é o que podemos alcançar por ora. O Fla x Flu dos 3 a 2 de 1969, dos 4 a 2 de 1973, dos 3 a 0 de 1975, dos 3 a 0 de 1979. O Fla x Flu de Assis, de Renato Gaúcho, de Fred em 2012 – com seu lindo voleio usurpado por um lambe-lambe – e até mesmo de Roni na Sulamericana de 2009. O Fla x Flu daquele golaço de Conca no 2 a 2. O Fla x Flu do créu. Eles também têm suas belas histórias para contar, mas aqui vamos celebrar as nossas. Ainda é possível ouvir os ecos da conquista de 1941 com o empate em 2 a 2 na Lagoa – que eles insistem em chamar de Gávea. Uma ou duas bolas navegando as águas outrora límpidas da Rodrigo de Freitas, enquanto os perdedores do título corriam feito loucos para buscá-las, ansiando por uma vitória que jamais viria e é somente nossa, eternamente nossa. Qualquer Fla x Flu vale a pena, porque em cada um deles temos a sensação de que é o jogo que nunca termina – as dívidas de caráter contraídas desde 1911/1912 ainda estão muito vivas. Qualquer, mas qualquer Fla x Flu mesmo, tanto faz se debaixo de uma tempestade em 1986 com “apenas” vinte mil pagantes, ou na geral sofrendo com os segundos intermináveis de Amauri carregando a bola até vencer a meta rubro-negra e marcar um a zero no último minuto. Hoje é dia  de Fla x Flu e o Fluminense precisa vencer mais do que nunca, subir mais do que nunca, mostrar que é o time que desafia definições até mesmo quando seu propalado planejamento fraqueja – mas as camisas em campo são pedras que rolam, não criam limo e, por isso mesmo, bebem da água da fonte da juventude – ou do mar da tranquilidade. O Fla x Flu é a força que nunca seca, a água que nunca renega o mar, o vento que alimenta as tardes áridas, o amor que incendeia corações tristes. Vençamos este jogo: é o sentido.

II

bob-dylan-green

Em minha coluna anterior, publicada ontem, escrevi “Já adulto, aprendi que Bob Dylan, o maior artista estadunidense vivo, saiu da casa dos pais para sempre depois de ter lido “On the Road”, o clássico de Jack Kerouac. O Fluminense foi, para todos os garotos da minha geração, uma espécie de interminável livro dos dias – o nosso “On the Road”. Éramos as crianças de colo da Máquina, jogadas para o alto a cada grande apresentação daquela equipe monumental. Lemos aquele livro de três cores em plena alfabetização e nunca mais deixamos de relê-lo a cada dia, cada semana, cada jogo, cada renascer”.

CLIQUE AQUI.

Jack Kerouac fez a cabeça de Bob Dylan e este, a minha. Eu o escuto regularmente desde os nove anos de idade, há quadro décadas. Tenho todos os seus CDs oficiais, todos! Fã de uma ponta à outra. Eu o conheci num álbum de figurinhas chamado “Multicolor”, com cromos sobre música, esporte, geografia e outros temas. Aquele nome logo me despertou curiosidade. Pouco tempo depois, pude ouvir seus LPs e, de lá para cá, eu o persegui da mesma maneira que persigo o Fluminense. Aliás, o tempo do álbum também era do da inesquecível Máquina Tricolor, e isso deve fazer todo sentido.

O maior artista estadunidense vivo e um dos maiores nomes da história da música.

Também descendente direto da tradição trovadora de Woody Guthrie e da poesia magistral de Walt Whitman, Bob Dylan tem honrado a prosa e a literatura há meio século. O que dizer que um artista que mudou o pensamento dos Beatles?

Nesta quinta-feira, Bob Dylan colocou seu nome no Olimpo da Literatura Mundial, ao vencer o Prêmio Nobel. Este PANORAMA, sempre alinhado com as letras, celebra esta conquista fantástica. Particularmente, não caibo em mim mesmo de tanta alegria, ainda que estes quarenta anos tenham voado tão depressa.

Pouco importa o que diz a mofada realidade: para mim, Bob Dylan é tricolor de coração. Este Nobel justamente no dia de um Fla x Flu não é coisa à toa. Ponto.

III

Por outro lado, Dario Fo, outro nome inquestionável do Nobel, saiu de cena hoje. Não se pode vencer todas, mas as belas histórias têm a vocação da eternidade – e parecem até o Fluminense.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: rap/dylan