O dinheiro e o futebol (por Zeh Augusto Catalano)

sus-1Prezado leitor,

Você tem plano de saúde? Ou depende do SUS pra sobreviver se tiver um problema qualquer?

Pois é. O Fluminense tem plano de saúde. E hoje depende dele para sobreviver. Muita gente deseja a ruptura. Acredito que Peter também. Mas para isso precisa de um substituto. Mais modesto, que seja, mas que lhe dê algum fôlego.

O Vasco estampa, como muitos outros clubes, um banco público. Não é lá muito rentável e tem diversos problemas atrelados à relação, pois a grana depende das famosas certidões. Afogado em dívidas, as certidões, algumas que valem por dois, três meses, vêm e vão. Então, cada aporte de verba do patrocinador é uma novela amplamente noticiada pela imprensa.

Como essa grana é curta, o Vasco e os demais times se apoiam mesmo é no SUS. O SUS, na prática, é um banco desses de empréstimo. Visa lucro. Enrola cada vez mais seus credores soltando mais e mais dinheiro para salvá-los da falência por meio de adiantamentos. Com isso, mantém os clubes como carneirinhos, por pura dependência financeira. E isso permite ao SUS controlar os destinos de todo o mercado, pois todo ele depende da sua grana.

Acontece que o SUS – os seus chefões – não quer um mercado livre, com os clubes em pé de igualdade, fazendo um campeonato que poderia ser o mais sensacional do mundo. Elegeu dois clubes por razões de mercado  – não justificáveis, de forma alguma – e, passou a, escancaradamente, favorecer esses dois prediletos com um investimento escandalosamente maior do que para os demais. Claro, se eu estou botando mais (o dobro, em média) grana num determinado negócio, significa que eu espero que essa grana renda muito mais do que os demais.

Mais ainda: como eu sou o principal investidor em todo o mercado – e os meus favoritos não podem ser os únicos a sobreviver -, eu não posso deixar de dar dinheiro para os outros. Se eu fizer isso, estes vão, certamente, quebrar. E se quebrarem, o SUS matou a galinha dos ovos de ouro.  Não vai dar pra ter só dois clubes vivos no país. Ainda…

A transmissão de jogos de uns poucos clubes estrangeiros não é coincidência. Tenho certeza de que o sonho é uma liga mundial, nos moldes da Champions. Com os favoritos, claro. Mas pra isso, é preciso manter o estado das coisas. Os favoritos ganhando e os demais, cordeirinhos, submissos, mantidos assim pela dependência financeira.

Estamos ainda, felizmente, no princípio dessa (termo da moda) espanholização. O São Paulo, um dos cordeiros, está tomando a frente de um início de motim. De alguma forma o clube viu que a própria sobrevivência está em jogo nesse momento. Será que os demais sairão do torpor? Ou permanecerão sendo pastoreados pelo lobo?

Por último, uma reflexão: o que aconteceria com o Brasil se o SUS parasse de funcionar? Perceba, não parece ser uma possibilidade no atual estado das coisas. Mas é um investimento. Visa lucro. Retorno financeiro. E não tem compromisso com a coisa em si. É dinheiro. Então, se começar a não agradar, se outros mercados forem mais rentáveis, ou mesmo se a coisa sair de prumo…  a torneira pode secar!

E ai? Olhem para o futebol brasileiro de hoje e tirem a Globo e seu dinheiro do mercado. O que iria acontecer? Não é provável que isso aconteça. Mas surpresas maiores já ocorreram no mundo dos negócios.

Será que esse quadro seria o fim do futebol brasileiro? Ou um saudável recomeço?

abraços

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: www.substantivoplural.com.br

5 Comments

  1. Os clubes “excluídos” têm que se unir e peitar o sistema, incluindo aí os “preferidos”.

  2. Se a Globo sair do futebol será não o recomeço, mas sim o começo de uma nova e promissora era, com os clubes podendo negociar seus jogos com a TV que pagar mais! O monopólio NUNCA é saudável!

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