O amor onipresente (por Eric Costa)

eric costa romerito 2Na última quarta-feira, o Fluminense veio a Natal, capital potiguar, para enfrentar o América. Sobre o jogo, grandes colegas já escreveram por aqui. Eu, porém, me detenho a tudo aquilo que vivenciei na última semana desde que o elenco tricolor aterrissou em terras potiguares e, sobretudo, às horas que antecederam o jogo.

No extremamente receptivo Clube de Funcionários da Petrobras, ocorreu no próprio dia 06 o evento Tricolor em Toda Terra, muito bem promovido pelo departamento de marketing do clube, e que contou com a presença do ídolo Romerito. Ao saber da ocasião do evento, tive a ciência de que ali teria uma oportunidade gigante de homenagear um ídolo de tamanha relevância e, de forma a se destacar: em vida. Não é apenas de homenagens póstumas que os guerreiros de outrora merecem. É necessário escancarar a importância deles aos próprios e aos demais tricolores, tendo vivido a época ou não, sendo este meu caso.

E uma homenagem vinda de mim não poderia ser de outra forma: escrevi a “Carta ao ídolo” e a registrei em uma placa de vidro e metal, entregando-a em suas mãos, em um dos momentos mais arrepiantes de minha vida.

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Assim, a ele, com amor, escrevi:

“Carta ao ídolo

Natal, 6 de Agosto de 2014.

Romerito,

Escrever esta carta de forma curta é tarefa árdua. Assim como os goleiros e defesas adversárias nos gramados de décadas atrás, linhas e páginas apequenam-se diante de um ídolo de tamanha grandeza e importância.

Nasci em um fim de Setembro de 1992. Por acaso de alguns anos, não tive a honra de, das arquibancadas, vê-lo jogar com a camisa tricolor. Mas ao invés de telas de televisão ou computadores, “assisti” suas atuações muito antes. Eu as vi do alto das asas de minha imaginação quando criança.

Nossos pais, em geral, povoam nossas inocentes cabeças de histórias de heróis antes de dormirmos. Nelas, os personagens quase sempre são os mesmos. Eu diria, porém, que de meu pai escutei, por tantas vezes, históricas únicas. Ao lado de minha cama, em muitas noites ele narrava feitos em campo de um certo paraguaio de alma bastante carioca anos antes de eu nascer. Os finais de cada batalha, claro, eram sempre felizes. E os superpoderes desse herói eram aquilo que mais encantava a minha criativa imaginação de uma criança de seis para sete anos: como não se impressionar ao saber, por exemplo, que o herói era capaz de com duas chuteiras, vários dribles e alguns chutes fazer milhares de pessoas nas arquibancadas e em suas casas em 1984 se emocionarem e irem às mais sinceras lágrimas de alegria? Nosso herói Romerito definitivamente era fantástico nas histórias: eu, ao mesmo tempo em que via o Fluminense enfrentar dias difíceis no fim da década de 1990, escutava atento aquelas histórias e sabia que, um dia, talvez um “Don Romero”, como me acostumei a chamar depois, ressurgisse e colocasse tudo de volta ao seu lugar.

Os anos voaram. Cresci. A história do Fluminense, clube de vocação para a eternidade, também. Nela outros ídolos surgiram, marcaram gols, emocionaram-se de felicidade e trouxeram títulos e sorrisos de volta.

Em todos eles, confesso, procurei, incansável, tentar enxergar algo comparável àquilo que você representa.

Jamais, porém, encontrei.

E disto percebi algo muito evidente ao torcedor mais maduro que com o tempo me tornei: não são superpoderes que você, nosso querido Don Romero, possui ou possuía. Não foi com dribles e chutes que fez história. Com a licença divina e poética de adaptar as palavras de Nelson Rodrigues, você, Romerito, é único por já vestir o verde, o branco e o grená desde quarenta minutos antes do nada. Muitos já vestiram e ainda vestirão nossa camisa. Seu grupo, porém, é seleto. Você, Don Romero, tem a camisa como a própria pele e possui a alma pintada daquilo que nosso hino, a mais bela poesia de toda a eternidade, traduz: a paz em seu sorriso, esperança em seu olhar terno e o vigor e amor ao Fluminense a cada gesto de sua vida.

Poucas linhas deveriam deter minhas ideias. Como você percebe, não consegui. Neste texto, sou apenas sentimentos e emoção. Seja nas palavras ou com a bola, equilibrar sentimento e talento é tarefa para os gênios, como Nelson Rodrigues nas páginas de livros e você dentro das quatro linhas.

Não bastasse genialidade e amor ao Fluminense, você também trouxe de berço a garra e vontade de lutar insaciáveis. Se há poucos anos o mundo nos passou a chamar de “guerreiros”, Don Romero, você mais de duas décadas antes já fazia jus a essa alcunha.

Romerito e Fluminense: se alguém ainda duvida de ter sido o encontro desses dois gigantes algo escrito desde quarenta minutos antes do nada, eu vos respondo na mais elementar etimologia que os cerca. “Ídolo” deriva do grego “-éidolon” e diz respeito a “imagem, ser a se espelhar”. Fluminense deriva do latim “-flumen”, de rio, daquilo que flui. E é assim, pelas raízes da língua, que se percebe finalmente: é nas águas desse rio de vocação eterna que é o Fluminense Football Club em que você será para todo sempre uma imagem a se espelhar e admirar.

Estas são palavras escritas por mim, mas que hoje as registro nesta placa, com a fidalga e nobre ajuda de meus amigos da FLUCAICÓ – RN, e as enuncio na plena certeza de que representam o carinho e amor de toda a torcida tricolor por você, nosso querido Don Romero.

Que hoje as dunas de Natal não sejam de areia: sejam de pó-de-arroz.

Um abraço. Saudações tricolores e muito obrigado por tudo!

Eric de Medeiros Costa – Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Maranhão, colunista do Panorama Tricolor (www.panoramatricolor.com), integrante da FLUCAICÓ – RN e tricolor de coração para toda a eternidade.”

Ao fim, ele me abraçou, agradeceu e disse a todos: “Essa placa estará entre os meus mais importantes troféus em minha casa”

Palavras cessam diante disto e páginas não seriam capazes de traduzir a confluência de sentimentos que ali vivi. Inesquecível.

Em tempo: ver o Flu vindo jogar em “nossa terra” é sempre diferente e especial para nós que moramos a milhares de quilômetros daquele que é o grande amor da vida de muitos de nós. É comovente ver a demonstração de amor sincero ao Tricolor nessas ocasiões, para as quais nos deslocamos e desdobramos já que, para muitos, é uma oportunidade quase única de ver o Fluminense em estádio. Eu sou mais um desses. E assim não poderia deixar de citar e parabenizar, com o perdão dos que eu esquecer, grupos de torcedores como a FluNatal, JampaFlu, AxéFlu, Flunião – PB, torcedores vindos com faixas de Catolé do Rocha – PB e Currais Novos – RN, e, em especial, a todos os meus grandes amigos da FluCaicó – RN, que além de me ajudarem na homenagem ao Romerito, enfrentaram calor(muito calor!) e cansaço por 276 km até Natal e levaram do sertão potiguar mais de 70 tricolores, como se vê na foto abaixo no terminal rodoviário de Caicó.

O time pode ser de guerreiros. Mas guerreiros também somos nós. Apenas o que sentimos justifica aquilo que fazemos.

Saudações tricolores.

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Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: er

2 Comments

  1. Bom dia Eric! São pessoas como vc que me fazem sentir imenso orgulho de ser tricolor. Parabéns pela brilhante homenagem ao nosso eterno ídolo Dom Romero. Só mesmo sendo tricolor, para, com 22 anos, escrever de forma tão emociante e com imenso brilhantismo, uma “pequena” carta ao nosso eterno ídolo.

    1. José, muito obrigado pelo prestígio ao texto e pelo elogio a minha pessoa. Nosso eterno ídolo merece muito mais e ser lembrado sempre!

      Grande abraço! STs!

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