No olho do furacão (por Zeh Augusto Catalano)

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Crise? Confusão? Celeumas políticas? Rebaixamento/ameaça? É comigo mesmo. Meu time está me fazendo PHD nesses assuntos.

Mas, quando eu acho que nada mais pode me surpreender no futebol, surge o momento atual do Fluminense.

Há menos de dois anos, a gestão atual foi reeleita de forma contundente e parecia ter tudo sob controle. Navegava em mares calmos, ainda que os resultados não viessem a gosto. Até que tudo saiu de prumo.

No epicentro disso tudo, três personalidades muito parecidas. Uma dentro de campo, duas fora dele. Autossuficientes, completamente avessos a críticas, senhores da verdade. Personalidades marcantes, que tendem a entrar em choque com qualquer outro galo no terreiro.

O equilíbrio da gestão passa pelo equilíbrio deste trio. Cada um no seu quadrado, com seu raio de ação limitado pelo do outro. São as três peças-chave do clube.

Peter, no entanto, parece já ter se cansado da brincadeira. Aguarda o final de seu mandato para sair de cena e ir cuidar de sua vida. Intervém apenas quando muito necessário. Mário é o comandante em chefe. É claríssimo que pleiteia o lugar de Peter quando da saída deste.

Com esse quadro, dentro e fora de campo, quem colocar no banco, interagindo entre as duas partes? Técnicos samaritanos, que não batam de frente com nenhum dos dois polos. O líder dentro de campo, batendo pênaltis, com a braçadeira, só saindo de campo contundido ou expulso. Os chefes por cima, contratando.

Alguém vê Cristovão, Drubscky ou Enderson questionando contratações?

Quem pediu e trouxe Wellington Paulista? Pra você que acertou, aquele abraço!

Até que acontece algo que quebra toda essa “harmonia”. Surge nas Laranjeiras a figura de Ronaldinho, sujeito carismático, simpático, campeão do mundo. Rica Perrone descreve a “saga” da contratação no seu site em três capítulos, num formato que me fez lembrar de Pedro Bial no seu inacreditável livro sobre Roberto Marinho. O texto começa com a seguinte frase: “Há algum tempo Mário Bittencourt comentava que esse time do Flu precisava de mais um medalhão para blindar a garotada.” Não houve blindagem. Nem do próprio Ronaldinho.

Rica Perrone e a saga Ronaldinho.

Menos de um mês depois e com pouquíssimas atuações, vacilando mas sem influir decisivamente em nenhuma derrota, é posto no banco para “apurar a forma” (ou pelos famosos “problemas internos”).

No jogo anterior, contundido mas no banco de reservas, o líder de dentro de campo quebra a cadeia hierárquica e, numa cena emblemática, começa a berrar com o time em campo, ao vivo pra todo o Brasil.

Enderson ficou quieto. Colocou panos quentes. Tinha de ter pedido o boné na hora. Literalmente na hora. Meia volta e túnel.

A diretoria também pôs panos quentes. Enderson foi prestigiado. Não houve reprimendas. Os líderes não entraram em choque.

Mas que técnico é esse, fraco o suficiente pra aturar um desmando desse tamanho de um subordinado e forte o suficiente pra barrar a maior contratação do time?

O técnico do tipo necessário para administrar o craque dentro de campo e o chefão lá em cima.

Por que Enderson podia barrar (ou mesmo sacar do time) Ronaldinho mas não Fred, por exemplo, ou qualquer outro jogador? O que (ou quem) o impedia de fazê-lo?

Que diretoria investe uma fortuna num craque de seleção, divulga a contratação do ano e menos de um mês depois vê o gênio (não) ir para o banco num Fla-Flu (saindo à última hora por um “problema”)? E ainda ficar no banco no jogo seguinte?

Mas se o técnico é fraco, de onde vêm o poder e a autonomia para barrar a principal contratação do time neste ano?

Mas se a diretoria fez essa aposta, como não demite o cidadão que bota o maior investimento do ano no banco?

É uma questão de holofotes. De poder. Todos os três técnicos (Cristovão, Drubscky e agora Enderson) foram demitidos algumas rodadas depois do esperado. A imprensa pedia. A torcida pedia. Os resultados pediam. O time pedia! Então, o líder não o faz, pois precisa exercer seu poder. Mostrar quem manda.

Ontem, no meio da chuva de especulações e cochichos, surgiram nomes como o de Muricy, com personalidade forte o suficiente para capaz de mudar o equilíbrio dessas forças.

A opção foi conservadora, para não bater de frente com os líderes. A troca de nomes ainda não resolveu o problema. É mais do mesmo.

Mário Bittencourt às vezes me lembra muito um certo dirigente lá de São Januário. Pela forma como lida com a imprensa, com os holofotes, com as críticas e, principalmente, pelo jeito centralizador como conduz as situações. Claro, uma versão muito mais refinada e embrulhada para presente. Mas, no fundo, está tudo ali, nele. Os arroubos, como a exibição da lata de refrigerante concorrente ao próprio patrocinador. As grandes cenas, os julgamentos e o já famoso abraço em Wellington Paulista (Wellington Paulista?). Resta saber como evoluirá com o tempo.

O de lá involuiu. Parou no tempo.

Que tudo dê certo neste sábado.

Obrigado pela leitura. Abraços.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: jac/pra

o fluminense que eu vivi tour outubro 2015

1 Comments

  1. Na mosca, Catalano. Mário Bittencourt precisa cair fora do Flu pra ontem.

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