Fluminense: muita falácia, muitos erros (por Aloisio Senra)

Tricolores de sangue grená, o Fluminense de hoje comandado por Odair se caracteriza por um aglomerado de decisões erradas, seja de seu treinador, seja de seus dirigentes. Vimos uma partida absolutamente ineficiente contra o Grêmio e outra quase tão ineficiente quanto contra o Palmeiras. O Fluminense não agride e vê em Evanílson, quando bem escalado, o único alento das chances de gol, tal qual um Ézio no deserto ofensivo que foi boa parte da década de 90. A zaga, apesar de segura, não tem uma cobertura adequada porque as laterais inexistem. Apesar de Egídio não ter comprometido contra o Palmeiras, o gol do Grêmio está, em boa parte, na sua conta. A defesa bate cabeça quando alguém perde a bola no ataque de forma inesperada, e os últimos gols que tomamos foram todos muito parecidos nesse sentido. Além disso, Odair parece querer nos irritar, escalando Nenê e Evanílson de pontas, barrando Marcos Paulo e apostando em Fred para iniciar os jogos, apesar de a titularidade de Frederico estar vinculada, provavelmente, a ordens de cima, se é que me entendem.

E nós, meros torcedores, que jamais demos dois treinos na vida – me pergunto se o presidente já o fez – somos obrigados a acompanhar um dos Fluminenses mais bizarros de nossa história. Odair tem uma vitória nas últimas nove partidas. E duas delas foram contra times pequenos. Outras duas, amistosos. Tudo bem que enfrentamos X três vezes, e mais dois times que brigarão lá em cima. Foram cinco jogos difíceis nesses nove, mas a postura muitas vezes covarde com que o time se postou de forma até desnecessária, e por vezes mal escalado, me faz questionar o que diabos Odair faz durante os treinamentos. Já defendi sua saída, a menos que mude seus conceitos, suas visões e passe a escalar direito, parando de irritar a torcida. Existem, com o elenco que temos, duas possibilidades para formar o time. Uma delas, no 4-4-2, esquecendo essa merda de três na frente, teria um meio com provavelmente Dodi, Hudson (ou Ganso), Michel Araújo e Nenê (depois Miguel). O resto do time é previsível.

Todavia, isso não resolve o problema das laterais. Após a saída de Gilberto, Julião assumiu a titularidade e, infelizmente, não tem qualidade para isso. Gosto dele, mas não vou passar pano: ele não tem o potencial ofensivo que o time precisa e é somente regular na defesa. Até que Calegari (ou as outras três opções que temos para a posição vindas da base) se firme ou contratemos alguém para a posição (teve um argentino do Estudiantes sondado), ficaremos com este setor fragilizado. E tem a lateral esquerda, na qual Egídio adora entregar uma paçoca, embora ofensivamente ele seja razoável. Não temos substituto para ele (se Orinho é jogador, eu sou astronauta, e Marlon, bem, é o Marlon), ao menos no elenco titular, e deve ser mais uma posição em que precisaremos usar a base – ou contratar. O que me leva à outra opção, o 3-5-2, recuando talvez Hudson para a zaga, escalando Egídio numa ala e Fernando Pacheco ou Wellington Silva na outra, mantendo basicamente o mesmo time citado acima. A chance de Egídio entregar o ouro será menor, e teremos um potencial ofensivo razoável pelos lados do campo.

Odair já deveria estar treinando ambas as opções de esquema tático, adequando-se a cada adversário conforme suas características. Se for uma ideia melhor centralizar o jogo e abrir pouco pelas laterais, usa-se o 4-4-2. Se for melhor explorar muito os lados do campo, usa-se o 3-5-2. E notem… o time é quase o mesmo. Dá pra fazer UMA singela alteração durante a partida e mudar o esquema. Mas para isso é necessário ser um treinador ousado e, principalmente, não ser pau mandado. Fred é BANCO. A lesão dele infelizmente nos ajudou, porque Evanílson não faria aquele gol se não fosse ele o centroavante. Nenê não pode jogar os 90 minutos nunca e não tem que sair puto. Precisa entender a necessidade de colocar sangue novo, e esse sangue novo é o Miguel em seu lugar. Também não pode ser mais escalado de ponta e aceitar isso passivamente. Algo precisa ser feito para mudar, Odair. Caso contrário, é melhor que volte o Marcão, faça seu feijão-com-arroz bem temperado e voltemos a vencer.

Uma história de raízes tricolores

No dia do aniversário do clube, conversando com uma tia minha por Whatsapp, de nome Maria Helena, ouvi um relato que me deixou bastante emocionado, então vou compartilhar com vocês.

“Nós temos um tio irmão da sua avó (minha saudosa e maravilhosa avó Maria, que nos deixou em 2004, aos 87 anos), que trabalhou na obra de construção da sede do Fluminense. Infelizmente teve uma queda, caiu do andaime e, em consequência disso, veio a falecer. O nome dele era Lindolpho. Ele chegou a ser internado na Santa Casa de Misericórdia. Lindolpho nasceu no dia 04/04/1906 e faleceu no dia 29/08/1925 (ou seja, no próximo dia 29 sua morte completará 95 anos). Meu pai também jogou no amador do Fluminense; não sei o período, mas devido a um problema no joelho, não pôde mais jogar. Meus pais eram fanáticos igual a você e ao seu irmão. Quando eu residia em Laranjeiras, na rua em que eu morava tinha um palacete que veio a ser concentração do Fluminense. Na década de 1950, o Fluminense tinha grandes jogadores; conheci pessoalmente Castilho, Píndaro, Pinheiro, Telê Santana, Didi, Carlyle, Orlando Pingo de Ouro, Veludo e outro que no momento não recordo. Foi uma grande época aquela, o técnico era Zezé Moreira. Até hoje não entendo porque sua avó era Flamengo, porque todos os filhos da minha avó Maria [é outra pessoa] nasceram em Laranjeiras e só minha mãe era Fluminense. E se o Flamengo existe, tem que agradecer ao Fluminense, porque foi uma dissidência entre o pessoal que fazia parte do Fluminense que saiu e criou o futebol do Flamengo, que na época só tinha regatas. Apanhei muito brinquedo no campo do Fluminense na época de Natal. Eles faziam uma festa muito bonita, distribuíam brinquedos, tinha uma apresentação de circo e distribuíam sorvete para as crianças. Bons tempos que não voltam mais. Era uma festa muito bonita.”

Esse relato me deixou pensativo acerca de algumas questões, que agora me puseram a ponderar. Meu tio-avô Lindolpho, que jamais conheci ou tinha ouvido falar, faleceu enquanto ajudava a construir a sede do Fluminense. Sede que, hoje, muitos tricolores enxergam como se tornasse o Fluminense pequeno, caso nela jogasse. Minha tia me mostrou raízes tão indeléveis que mudaram meu modo de pensar. Está no sangue. Se não fôssemos Fluminense, meu irmão e eu, teria sido obra, realmente, do acaso. A última parte do relato também me evoca uma questão relevantíssima: como nos é tão impensável a festa, a distribuição de brinquedos e sorvetes, o contato com a população comum nos dias de hoje, quando à época era algo absolutamente normal. Hoje, no máximo são Flu Fests da vida, pra quem puder pagar, com pompa e circunstância completamente desnecessárias. Espero que um dia voltemos a ter dirigentes que enxerguem um Fluminense do povo, e não das elites ou das panelas. Há um vácuo propenso para isso, deixado pelo novo-rico das regatas. Quem souber aproveitar, crescerá.

Curtas:

– Facundo Sánchez, de 30 anos, é o lateral-direito do Estudiantes que pode ser contratado pelo Fluminense. Viria a custo zero e pode atuar também como meia direita. Ele era o titular da posição. Acho um bom investimento, que encorpa o elenco e, se Calegari vingar, nos deixa com dois laterais-direitos minimamente confiáveis. O Brasileiro é longo e precisamos de um plantel decente.

– Vamos encarar em casa neste domingo o Internacional, que bateu o Coritiba fora na primeira rodada e venceu o Santos em casa na segunda. O Coritiba é candidato a rebaixamento e o Santos está indo ladeira abaixo esse ano – alguns especialistas esportivos também o relegam à luta para não cair. Jogos mais fáceis que os que tivemos, mas eles fizeram os seis pontos. Não será moleza, ainda mais se o gramado do Maracanã estiver a mesma bosta que quarta, mas se a primeira vitória vier, nos dará um pouco mais de tranquilidade.

– Na quarta, encararemos o Red Bull Bragantino, no estádio de nome não menos bizarro Nabi Abi Chedid. Até agora, a equipe paulista arrumou dois empates: um contra o Santos e outro contra o Botafogo, dois possíveis candidatos ao rebaixamento. Se temos uma boa chance de arrematar três pontos, será nesse jogo, mas devemos ter muita atenção, pois os jogadores desta equipe chutam de fora em qualquer oportunidade que têm – e na direção do gol. Será um certame em que Muriel certamente trabalhará bastante e no qual nossos corações serão testados.

– Por último, porque serão três partidas em sequência sem que eu escreva outra coluna, vamos pegar o Athletico-PR, que hoje é o líder do campeonato (mas muita coisa pode mudar após duas rodadas), e tem um time jogando bem certinho. Acho bem difícil, no momento atual, ganharmos deles lá, mas sempre é uma possibilidade trazer pontos da Arena da Baixada. Só espero que o time esteja mais azeitado quando entrarmos em campo no Paraná no outro sábado e façamos uma apresentação digna.

– Palpites para as próximas partidas: Fluminense 1 x 0 Internacional; RB Bragantino 1 x 2 Fluminense; Athletico-PR 1 x 1 Fluminense.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

2 Comments

  1. Caro Xavier, foi o que falei… é necessário saber se estas opções são mesmo viáveis e possíveis ou meros refugos da base. Calegari é coringa, mas não lateral de ofício. Se fosse, provavelmente teria barrado Julião, que está mal. Para mim, contratar o lateral argentino seria bem mais uma questão de encorpar o elenco, já que não se testou as opções citadas antes. Testá-las durante a competição, pra mim, é um risco. Mas respeito sua opinião, e pra mim todos os seus demais questionamentos são…

  2. Senra, porque contratar um lateral de 30 anos, se esta é uma posição que exige muito preparo físico? Temos 4 laterais da base pedindo passagem: Callegari, Wisney, Diogo e Daniel, será que nenhum deles serve? Porque jovens de outros times jogam e se firmam e os nossos são sempre considerados inexperientes? Porque nossos nossa base não serve pra nós, mas são vendidos a preço de banana, em negócios mal explicados e lesivos ao clube? Qual a função de xerem? A torcida está cansada de conversa fiada..

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