A última partida de Márcio Baby (por Paulo-Roberto Andel)

Zagueiro do Fluminense entre 1992 e 1994, Márcio Baby morreu hoje no hospital, não de Covid19, mas de uma doença conhecida da vida carioca: a violência insana. Foi assassinado num assalto. Horripilante.

Jogou numa época que muitos chamam de vergonhosa, pela falta de títulos. Discordo. Apesar da seca de conquistas por nove anos, da falta de dinheiro, de grandes equipes e de dirigentes de ponta, o Fluminense não foi um figurante: disputou muitos títulos e não ganhou alguns por causa de péssimas arbitragens. Ganhamos turnos, mas isso não se comemorava à época.

A Copa Rio era uma espécie de Carioca alternativo, cujo bônus era uma vaga para a Copa do Brasil. Geralmente jogada à tarde, durante a semana e sem TV. Um campeonato cult. Na final, disputada em dois jogos, o Flu disparou 4 a 1 na primeira, mas perdeu o segundo por 1 a 0 (roubado) nas Laranjeiras e, como não havia vantagem no saldo, a disputa foi para os pênaltis. Deu Voltaço. Placar de 5 a 4, com um pênalti desperdiçado por Djair, emérito cobrador. Na saída, decepção plena e tumulto.

Curioso pensar que alguns dos derrotados daquele dia se tornariam verdadeiros heróis seis meses depois, como campeões do centenário em 1995. Wellerson, Djair, Leonardo e Ézio. Lira não jogou e parecia carta fora do baralho, mas acabou ficando. A gente nunca sabe o que vem pela frente.

O veterano craque Eduardo, lateral tricolor dos anos 1980, tinha virado camisa 10 e faria ali sua última partida pelo clube.

O grande destaque tricolor em campo foi o lateral-direito Galo, que desapareceu.

O Fluminense teve um gol erradamente anulado, acertou a trave e o goleiro Sandro pegou tudo (depois de ter ido muito mal na primeira partida da decisão). Havia um cheiro de zebra no ar e nem era daquela tarde: meses antes, o Volta havia empatado com o Flu nas Laranjeiras, com direito a ninguém menos do que Paulo Victor defender um pênalti cobrado pelo nosso Super Ézio.

O lance derradeiro do jogo foi uma cabeçada perigosa desferida por… Márcio Baby, mas o goleiro pegou de novo.

No banco tricolor, o eterno Altair segurava as pontas para a futura chegada de Joel Santana. No Volta Redonda, Wilton Xavier, símbolo tricolor dos anos 1960 com direito a gol eterno sobre a Gávea.

Márcio Baby na verdade se chamava Márcio Roberto dos Santos Ribeiro, nascido em 08 de junho de 1972. Deixou o Fluminense aos 22 anos de idade. Por muito pouco, não se tornou o herói do último título conquistado nas Laranjeiras (continua a ser a Taça Guanabara de 1993), diante de pouco mais de 1.600 torcedores pagantes, dentre eles este cronista, que precisou arrumar uma “reunião fora” para deixar o escritório e torcer nas velhas arquibancadas de Álvaro Chaves, hoje tão desprezadas.

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