Luiz Henrique e o cheiro do ralo (por Paulo-Roberto Andel)

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A SURPRESA?

Dias depois de ter feito um golaço e uma tremenda atuação diante do Olimpia, o jovem atacante Luiz Henrique – que se mata de correr em campo, inclusive cobrindo companheiros que andam – foi mencionado como o mais novo nome de uma lista quilométrica envolvendo o Fluminense: a dos jogadores promissores negociados por valor muito abaixo do razoável, geralmente para cobrir rombos e emergências de uma gestão financeira claudicante. Não é de hoje e provavelmente piorou desde 2019, mas não constitui qualquer novidade.

A explosão de indignação da torcida é justíssima, mas infelizmente se revela seletiva. Tivemos diversos casos idênticos em que a reação foi de quase indiferença. Com isso, o Fluminense não somente não pagou sua dívida colossal mas também abriu mão dos retornos esportivos e, quem sabe, ídolos. É um modelo que tem se repetido através dos anos e, a cada nova gestão, as promessas de mudanças são trocadas pelo velho modus operandi.

A FARSA DE PARTE DA IMPRENSA SEGMENTADA TRICOLOR E DA GRANDE MÍDIA

A indignação deste sábado, acentuada pelo contraste com vitória de quarta, possui outro componente: o sentimento de traição.

Diariamente, dezenas de milhares de tricolores se submetem à “nova imprensa”, muitas vezes representada por picocelebridades instantâneas que se gabam de muitos likes, de milhões de seguidores conquistados subitamente, mas que pouco ou nada acrescentam ao debate sobre a real situação do Fluminense e o clube que todos nós, compromissados com vitórias e títulos, queremos. Alguns casos são tão constrangedores que os indivíduos ou veículos mais parecem sucursais da presidência tricolor, porta-vozes dizendo exatamente o que agrada ao stablishment e serve como açúcar para ouvidos apaixonados. Isso está na internet, no Facebook, no Instagram, no YouTube e na arquibancada. Aliás, desconfia-se que alguns tenham sido realmente plantados pelo próprio clube na internet, o que não seria nenhuma surpresa.

Na grande mídia, especialmente dentro do grupo Globo via SporTV, o Fluminense é tratado como um exemplo de excelência administrativa e seus torcedores uns bobos, que vivem a reclamar enquanto tudo é belo e perfeito…

Quando um tsunami como o da possível negociação de Luiz Henrique estoura, ou mesmo a especulação, o torcedor que só ouve “ótimas notícias”, “informações de bastidores maravilhosas” e outras papagaiadas chapa branca, acaba caindo em si entre o choque da fantasia diária das redes sociais e a realidade dos fatos. E, claro, reage de maneira até passional. “Se tudo funciona bem, por que tenho que abrir mão de um possível craque?”, eis o resumo.

Evidentemente há honrosas exceções na mídia tricolor, mais preocupadas com o clube do que o próprio umbigo e bolso. Que continuem na luta.

Resta ao torcedor que busque o senso crítico.

O Fluminense é sério demais para ser analisado por potenciais convidados do programa Superpop.

GRANA

Quanto custa a aventura de Willian Bigode por dois anos no Fluminense? Dez milhões ou algo parecido? E a de Felipe Melo? Provavelmente dez milhões também? E Cris Silva? E Wellington?

São apenas alguns exemplos do elenco, mas que servem de reflexão e contraponto ao maravilhoso conjunto de resultados recentes (não de jogos, porque vários foram sofríveis neste 2022).

Há uma década, o único meio do Fluminense reforçar seu caixa é com a venda de jovens e promissores jogadores. Ok, pode ser que nem todos emplaquem, mas então o que dizer de veteranos que eram reservas em outros clubes e viraram titulares absolutos no clube? Vão trazer que tipo de retorno? Esportivo em casos excepcionais, porque financeiro é zero.

Por essas e outras é que o Flu precisa rifar suas peças mais valiosas, geralmente a troco de banana. Isso sem contar a necessidade de cobrir as dívidas no decorrer do ano. E sem contar a total falta de transparência nos dados reais sobre as contas do clube. Não me venham com conversa fiada de Portal da Transparência: sou profissional de contas com 30 anos de experiência.

QUAL FLUMINENSE ESTAMOS VIVENDO?

É claro que a sequência de resultados foi legal, bacana que tivesse acontecido, mas em termos práticos o que significou?

Desde o grande recorde de 1919, tivemos a grande época dos anos 1930, o supercampeão de 1946, o mundial de 1952, o bi do Rio-São Paulo no fim da década de 1950, o grande período de 1969 a 1976, 1890, o tri 1983 a 1985, 1995 etc.

Nenhum desses momentos teve a quebra do recorde de vitórias. Em todos eles fomos campeões, escrevendo a história do futebol brasileiro e mundial. Ser campeão é muito mais importante do que ser recordista de vitórias consecutivas.

Hoje o Fluminense é um clube há quase dez anos sem títulos importantes, possuindo um único ídolo que, na prática, é um ex-jogador. Como formar novos ídolos se eles não passam dois anos como titulares e não se conquista títulos? Vão comemorar campeonato de invencibilidade?

RENÚNCIA À GRANDEZA

Quando você deixa escapar que poderá negociar seu melhor jogador num momento decisivo da temporada, qual é a mensagem passada?

“Não me apego ao papel de protagonista”.

“Sou figurante”.

Esse não é nem pode ser o perfil do Fluminense sob hipótese alguma, mas reflexos desse discurso mofado são visíveis desde o ano passado. Na ocasião, decidindo o Carioca e sendo ridicularizado pelo rival, muitos compraram a ladainha de que o Flu já tinha chegado onde podia, que já era muito… Ou então o mais cômodo para os gestonetes: culpar Marcos Felipe.

Já repararam em quantas oportunidades o Fluminense, por meio de suas diretorias e comissões técnicas, parece que joga contra si mesmo em situações capitais? No mínimo, é algo a ser muito refletido.

A MESMA LADAINHA

Caso ainda não tenha acontecido, deverá acontecer.

Uma coletiva presidencial marcada por longo discurso, perguntas para levantar a bola, a estúpida desqualificação de opositores, e o enaltecimento do mundo mágico da Lolypop tricolor, um verdadeiro castelo de areia tratado como se fosse de ouro.

O CHEIRO DO RALO

Live Sorte, Biro-Biro, Elias Duba, Artur, Elenko, Gustavo Apis, Egídio, Danilo Barcelos, Felippe Cardoso, Caio Paulista, Nova Iguaçu, Bloom Soccer e grande elenco. Grande elenco.

DEMOCRACIA

Há anos este espaço oferece amplo contraditório. Assim sendo, fica registrada a disponiblidade para o corpo de diretores do Fluminense e seu presidente, caso queira se manifestar aqui sobre os temas de todas as colunas publicadas nesta casa. Todos são bem vindos: o PANORAMA é uma casa democrática e não de macartismo clubístico.

Especialmente ao presidente, será um prazer recebê-lo para falar não somente do Fluminense mas de temas variados. Por exemplo, a censura e a destruição de livros.

A ESPERANÇA

Que essa aberração de sábado não destrua o clima para se confirmar a classificação na Libertadores, nem a luta necessária para a conquista do Carioca. É difícil, mas ser tricolor é, acima de tudo, persistir.

PARA VOCÊ, QUE NUNCA OUVIU FALAR DE MIM

Sou escritor e editor de livros. Escrevi 21 livros sobre o Fluminense, sem precisar de um centavo do clube, quanto mais salários de dois dígitos. Dos 21, nove constituem a maior série gratuita de e-books sobre um clube brasileiro e podem ser baixados aqui no site. Nada disso é divulgado pelo clube porque sou boicotado lá e tratado como inimigo que “torce contra” por me recusar a ser vaca de presépio de dirigentes. Edito este PANORAMA há nove anos e nove meses num projeto voluntário e colaborativo, além de publicar em outros veículos. Obrigado por ter vindo.

2 Comments

  1. A frase “Que essa aberração de sábado não destrua o clima para se confirmar a classificação na Libertadores” é muito boa porque no sábado colocaram o time “C” que parecia um time de pelada, você pode pensar em Matheus Ferras como volante adiantado? isso não é criar uma opção isso e inventar do nada. Tomara (como você diz) que o empate desastroso não crie um clima ruim para quarta. Em relação com a venda do garoto o que está em questão é o valor e o momento. A diretoria vende jogadores bons pelo preço de banana e depois tem no elenco 5 ou seis que poderiam ser dispensados que custam uma…

  2. Oportuno e vigoroso o seu texto.
    Outro dia um jogador do Flamengo afirmou que o clube estava em outro patamar.
    Penso que a palavra represente bem o que sempre foi o Fluminense na história do futebol brasileiro.
    Ocupamos o patamar mais alto.
    Todo tricolor tem que ter essa consciência, seja torcedor, seja presidente do clube.
    Juntos Somos Fortes!

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