Na língua do P (por Alva Benigno)

alva japonês tricolor

A DOCE FANTASIA

Chiquinho praticamente não dormiu na noite de sexta para sábado. Como um respeitável conselheiro, estava convidado para a cerimônia do cetê da CDD, com as presenças de P. Yes, P. de Duda e P.P. (ou P2 ou B.O.). Passou a madrugada sonhando com o evento, não pelo orgulho do novo patrimônio tricolor, mas porque seria um ambiente 100% bofesco: pessoas brancas, de bem, ostentanto qualidades; entendidos enrustidos; homens de capacete – CÉUS! -, só faltava um peão de galochas. Fotos, fama, aparência. E pensar que, em breve, o banho da alegria será apenas cousa do passado.

Virou de um lado para o outro, ronronou, várias vezes ajeitou o pijama que lhe roçava as nádegas. E claro, Esmeralda dormia como se estivesse esgotada de sexo. Um ou outro ronco era cortado pela melodia lancinante de um saudável peidão. Chiquinho fazia cara de nojo, bem ao seu jeito hipócrita; afinal, o que seria um peido para quem já praticou coprofagia?

Logo cedo, foi para o banho com o mesmo ritual de masturbação anal tão tradicional en seus gostos. Gozou gostoso, entrou debaixo da ducha e sonhou que a água potente e quente fosse uma calda de amor. Ah, Pecadópolis.

Terminou a farra do box, pôs uma camisa polo alaranjada, bermuda branca de pernas compridas e mais apertadinha atrás, meia branca e… sapato preto. Ficou uma verdadeira tia velha holandesa prestes a entrar em campo, mas se achou o máximo – parecia tão insano quanto um dirigente. Chamou o Uber – com o motorista Max -, combinou de pegar Charles de Lausanne perto da Souza Lima e depois partiram para a ZO, num percurso de meia hora, tendo que passar por meninos de rua e pedintes nos sibais. É evidente que a Chica velha deu piti. Charles pediu desculpas ao condutor, a quem considerou “um mulato bem apanhado”.

Chegando ao novo quartel-general tricolor, Chiquinho sentiu a imponência da obra realizada. Imediatamente sonhou com a possibilidade de, um dia, batizar o novo estádio do Fluminense, que seria o “Chiquinhão”. Imediatamente Charles o censurou: “Porram, até nisso tu quer um quinhão!”. O mestre sala da picaretagem sorriu com seu deboche consagrado. E se pudesse ter um bustão dele na entrada? Ah, os sonhos. Ao mesmo tempo, Max parecia um tanto bolado com a frescurite de seus clientes, mas ria e seguia em frente.

Entraram, deram adeusinho para os convidados mais familiates, não encontraram nenhuma B.B.S. (bibinha borboleta da sauna) imediatamente, até que ele, o ser supremo da liturgia trash tricolor, o defecador mental veio recepcionar o trio: Bofilhão, em carne, osso e poses exóticas nas selfies, estilo “reprovado no psicotécnico”. Falsos como sempre, trocaram um longo abraço. Chiquinho espiava a noroeste o ímpeto de Capaceteman, um prócer tricolor.

george michael

Nosso Macunaíma gay queria uma selfie com o alcaide e seu eleito para a reeleição. Ao avistá-los, saiu correndo, deixando para trás seu escudeiro esquisitão e o motorista apetitoso. Uma multidão de puxa-sacos cercava a dupla, então reforçada por P. Yes, também um atiçador das emoções diferentes de Zanzi. Deu um UHUUU, nem pediu licença, empurrou alguns tricolores e logo fez uma linda selfie – bom, ele acha – ao lado do charmeur do pigarro, mais a inseparável dupla da política carioca. P. de Duda acha engraçado como o Velho Chico ousa colar o rosto ao lado do de P. P.; alguém saca o iPhone para fazer a foto enquanto a tia velha canta “Alegriaaaa, Alegriaaaa”, “Unidunitê, eu faço sucesso na língua do P e… TCBLOOOOOORGHHHHH!

O sonho acabou. Era tudo caô.

A DURA REALIDADE E A COMPENSAÇÃO

Dez da noite, sonhando com o alcaide e seu inseparável parceiro político, Chiquinho recebe um maldito inbox de Lausanne, após ter cochilado levemente. E desperta:

“Zan, o evento de amanhã está cancelado. Ai, amiga, quer tomar um café na Confeitaria Colombo da Gonçalves Dias pra compensar? Umas dez da manhã?”

“Foi aquele ebó da patrocinadora que melou tudo. MEODEUX! O que aconteceu?”

“Li naquele grupo de Whatsapp, o Tricolores Reunidos em Êxtase, que teve algum problema.”

“Ah, o grupo do TRE? Ih, deve ser babado novo”.

Ficou de marcar o café e se despediu. Antes do cochilo, Esmeralda roncava e peidava satisfeita. Ele desistiu de deitar novamente, já estava de banho tomado, botou uma roupa cafona como sempre, pediu o Uber e logo viria Max, o motorista forte e elegante:

“Doutor Francisco, é uma honra transportá-lo.”

“Max, vamos para a Augusto Severo, ali no fim da Glória. Tive uma grande decepção. Preciso ser feliz”.

Não deu tempo sequer de responder a uma mensagem de Filhão. O carro rapidamente desapareceu do horizonte. Era uma noite de insônia, na língua do P: “pin-psô-pni-pa”.

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Panorama Tricolor

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Imagem: alaska