Ivan Lessa, Fred, Denise e 7 a 1 (por Paulo-Roberto Andel)

paulo panorama red

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A literatura já me permitiu várias pequenas grandes alegrias, entrevistar alguns ídolos e outros acepipes d’alma. Agora, orgulho mesmo é ser vizinho de coluna do Ivan Lessa, justamente num dia de grande saudade pelos seus quatro anos de saída de cena. Um diazinho que vale por mil.

Dos maiores cronistas brasileiros de todos os tempos, Ivan era o mais ligado em futebol – atenção: Nelson Rodrigues era essencialmente um dramaturgo. Um fanático alvinegro, viu de Heleno de Freitas a Paulo Cézar Caju. Depois, foi embora do Brasil e voltou três décadas depois. Só queria saber de futebol do passado, 1940 a 1970.

Uma única vez, conversamos no telefone, ano de 2003. Eu liguei para lhe agradecer. Duas horas depois, percebi que finalmente tinha trocado ideias com um dos meus heróis da juventude. Ele foi uma simpatia, imaginem: o aríete do Pasquim em plena ditadura.

Ivan escreveu sobre tudo. Um craque da escrita. Exatamente hoje, até pela data, bate uma saudade enorme. Chamava o Brasil de “Bananão”; ao olhar o noticiário das últimas semanas, sou obrigado a lhe dar razão.

Leiam “O verdadeiro torcedor”: um primor de crônica. Não recomendada para pernósticos.

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Ontem falei aqui sobre o alvoroço das informações sopradas, chutadas e também seriamente investigadas para todo lado, enquanto alguns leitores, ouvintes e espectadores às vezes parecem os sofridos viciados no crack chamado internet: vão de um lado para outro, dão cliques e cliques e cliques em busca de qualquer coisa que ratifique seus pensamentos e só.

Foi o caso da especulação n – (k + 1) a respeito de Fred. Esta coluna foi fechada às dez da noite de ontem e, se alguma surpresa desagradável houver, será retificada (VER NOTA AO FINAL DA COLUNA). Mas qualquer que seja o resultado desse TV Fama a respeito do artilheiro, uma expressão define a minha opinião: saco cheio.

Fred é um dos maiores artilheiros da história do Fluminense, sendo decisivo para o grande ano de 2012. Tem muito tempo de casa. Um dia essa despedida virá, mais cedo ou mais tarde, porque ninguém é senhor do tempo. E convém a alguns tricolores, que veem o craque como maior até do que o clube, certo preparo de espírito. Aconteceu com Castilho, com Rivellino, Edinho, Assis, Renato Gaúcho, Deco e vai acontecer com o camisa 9. Ficando, que ele faça gols e gols. Saindo, obrigado por tudo e que tenha toda sorte. Se era tudo fantasia, melhor ainda.

Menção desnecessária mas contraditoriamente relevante: o jovem jornalista Paulo Brito tem prestado excelentes serviços à causa do Fluminense e merece todo respeito. Torcer para o Fluminense não precisa significar uma posição de joão-bobo, indo ao chão e voltando porque os eventuais fatos ocorridos não são seus preferidos.

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O 7 a 1 da Seleção Brasileira sobre o Haiti significa exatamente o quê? Nada. Ou o anteparo de uma piada, se pensarmos dos outros 7 a 1 famosos.

O pobre e massacrado Haiti, convidado, é um vitorioso por estar na centenária Copa América. E merece comemorar seu solitário gol. Enquanto isso, a milhares de quilômetros, sentado no banco das Laranjeiras e espiando o treino do Flu, Thiago Silva parecia uma criança feliz em seu playground natal, exceto por ser um dos maiores zagueiros do mundo mas preterido na mágica convocação de Dunga.

O gol do Haiti fala muito mais sobre o futebol do que os sete brasileiros.

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Morreu Denise. Foi enterrada em Limeira, não a simpática cidade paulista mas um modesto distrito de Magé.

Nenhuma câmera de TV, nenhum político de ocasião.

As panelas dormiram silenciosas e vazias.

A filha de Garrincha descansou depois de uma vida sem paz. E falar no mesmo Garrincha é, significativamente, negar tudo que aí está.

NOTA: Fred deixou o Fluminense. Boa sorte ao jogador em seu novo clube, obrigado pelos gols e pelo grande ano de 2012 – que me valeram um grande livro, o segundo da minha carreira.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: rap

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