“Horizonte bastante carregado” (por Marcelo Savioli)

Dia desses alardeou-se na imprensa que o Fluminense tinha pago R$ 60 milhões em dívidas, ou algo parecido. Até prova em contrário a informação é verdadeira. O problema é como ela é vendida.

Para os mais desatentos a impressão era de que o Fluminense tinha reduzido a sua dívida em R$ 60 milhões. Seria uma grande notícia, mas nem no melhor dos sonhos seria verdadeira.

Essa semana saiu o estudo do Itaú BBA, que já é tradicional no meio esportivo, analisando as finanças dos clubes. O diagnóstico é: “horizonte bastante carregado” para o Fluminense.

Entre outros dados, a dívida aumentou cerca de R$ 15 milhões. Isso quer dizer que o Fluminense não pagou R$ 60 milhões em dívidas? Não, quer dizer que o Fluminense, para financiar esse pagamento engordou seu passivo em R$ 15 milhões.

Tudo depende de como a gente dá a notícia. É possível até mesmo fazer uma catástrofe parecer céu de brigadeiro. Mas o fato é que ninguém tem mais por que se iludir. E então nós disparamos a procurar culpados.

Pois eu digo que o culpado somos todos nós. Não precisa procurar culpados. É só se olhar no espelho. O Fluminense, entre 2009 e 2011 gerava déficits de R$ 30 milhões em média. Você sabe quantas gestões geraram essas dívidas? Duas: Horcades e Peter.

Vamos procurar mais culpados? Em 2015 lançaram no DRE (Demonstração do Resultado do Exercício) um crédito de R$ 60 milhões. Você sabe a que isso se referia? Ao abatimento oferecido pelo governo no parcelamento do Profut. Diziam que era superávit.

Era verdade, porque contabilmente era superávit. Na prática, você tirava os R$ 60 milhões e nós tínhamos um déficit de mais de R$ 30 milhões.

Eu sei disso tudo porque eu cobri o Fluminense dia e noite de 2010 a 2018. Em 2011 a Flusócio fez uma festa por causa de uns números que eu não me lembro a que se referiam. O que eu lembro é que eu, então no Fluminense & Etc, avisei que não tinha motivo algum para comemorar aquilo.

Tudo depende da forma como você dá a notícia, mas a verdade não é flexível.

Todos nós fracassamos até aqui, o que não quer dizer que temos que continuar fracassando. Eu fracassei ao sacrificar nove anos da minha vida para tentar formar uma torcida com senso crítico, ciente da história desse clube grandioso.

Em 2013, eu passei quase o ano todo alertando para o risco que representava uma eleição sem oposição, sem debate. Peter e Celso, que passaram o ano trocando tiros, se aliaram no final e o Peter foi eleito quase que por aclamação, sem que se discutisse no mínimo quais seriam as diretrizes para os anos seguinte.

Eu defendia que tínhamos que rejuvenescer o elenco, reduzir as despesas e aproveitar os dois títulos brasileiros recentes para reorganizar o clube, profissionalizar a gestão, criar um projeto futebolístico.

Mas eu fracassei. Ao mesmo tempo, vendo o projeto de espanholização do futebol brasileiro, tentei criar um projeto para o Fluminense gerar receitas novas e se defender. Fracassei e ainda arrumei uma dívida que carrego até hoje.

Nenhum arrependimento, mesmo tendo que aturar que quando eu criticava fulano era porque eu ganhava dinheiro de beltrano e vice-versa. Foda-se! Eu desafio qualquer um a provar que em algum momento da minha vida eu vendi minha opinião.

Ao contrário, eu coloquei minha vida em risco indo fundo na investigação do Lusagate. O O Tricolor, ao lado do Coronel Paul, ajudou a desmoralizar aquela farsa. Jogamos a Flapress nas cordas, com a participação inestimável da turma desse fabuloso PANORAMA e muitos outros tricolores, que eu até gostaria de enumerar aqui, mas a memória não ajuda.

O problema é que eu vi tudo, denunciei, alertei, tentei mudar o futuro, mas fracassei, como todos os tricolores fracassaram, porque nós chegamos até aqui. Por voto, por omissão, por preguiça intelectual, por imperícia ou falta de propósitos todos nós fracassamos, porque o Fluminense verdadeiro não é essa fogueira das vaidades, essa falta de senso crítico que estamos presenciando.

Eu não acompanhei a live do último sábado. Não porque eu não quisesse. Eu esqueci mesmo. Mas não dá para escapar à repercussão.

Eu sempre falei que a gestão da parceria Fluminense x Unimed sempre foi um desastre, que viveu seu grande momento quando a Unimed mudou o modelo em 2010, criando a Unimed Participações, que teve o mérito de despejar mais de R$ 60 milhões por ano no clube e finalmente conquistar dois títulos brasileiros.

O que talvez tenha sido pouco se considerado o que a marca “Fluminense” fez pela marca “Unimed Brasil”. Sim, porque o Fluminense, enquanto marca nacional, beneficiou a parceira muito para além da Unimed Rio, que saiu do quinto para o primeiro lugar no estado no segmento de seguro saúde.

Eu sempre critiquei a atuação pouco profissional e personalista do Celso Barros, mas inacreditável que se alije tal personagem de uma celebração do título de 2010. Pior que isso só mesmo não render as devidas homenagens ao grande herói daquela conquista: Dario Conca.

Para os incautos, Dario Conca, depois de tudo que fez pelo Fluminense, desde a Libertadores de 2008, chorou copiosamente durante horas no vestiário porque queria ficar no Fluminense, não queria ir para a China.

Em 2015, depois de passar o ano anterior sem receber um tostão do clube, preferiu ser vendido para o futebol chinês novamente e perdoar a dívida do Fluminense. Desafio qualquer um a mostrar qual é a ação que o Conca move contra o Fluminense. Se existe, até hoje ninguém noticiou.

Um clube como o Fluminense vive de verdade, de honra, de caráter, de conquistas, não de futricas, de comprar o que não pode pagar, de factoides, de calotes, de mesquinhez. Estamos morrendo.

O Fluminense ficou treze anos sem ganhar um título por causa da dívida que adquiriu para construir um estádio para o Brasil sediar competições internacionais. O Fluminense foi condecorado com a Taça Olímpica, o Prêmio Nobel do Esporte, porque fomentou várias modalidades de esportes olímpicos e agora colocam a culpa na nossa vocação esportiva e não na falta de planejamento, de rumo e de vergonha na cara.

Quem foi que nos lançou nesse poço sem fundo?

Todo mundo.

Alguém acha aqui que eu vou incentivar torcedor a se afastar do clube?

Jamais!

É uma vergonha estarmos comemorando 34 mil sócios quando já tivemos, em 2013, 40 mil. Tinha que ter 300 mil, mas se não mudar essa filosofia amadora, um abraço!

O Fluminense precisa se reinventar, mudar politicamente, reformular o estatuto, se profissionalizar, buscar investidores, agir com lógica, revitalizar Laranjeiras, parar de tomar prejuízo no Maracanã, porque isso é um absurdo.

Aliás, falando em Maracanã, agora tem uma prestadora de serviços cobrando R$ 5 milhões. Será que a gente não paga ninguém. Até onde vai essa irresponsabilidade?

Ou o Fluminense se profissionaliza para ontem ou o nosso fim está próximo. Como diz o Itaú BBA, estamos enxugando gelo. Qual a novidade nisso?

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O que se faz com Conca nas redes sociais é o maior indicador do quanto estamos apodrecendo.

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Renovar com Wellington Silva pelo mesmo salário é prioridade? Se ao menos o técnico fosse capaz de entender que ele seria uma potência atuando como ala num 3-1-4-2… Ma isso parece fora de questão.

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Ah, mas o Ganso! O Ganso fazia parte de um projeto futebolístico, um dos raros que tivemos nos últimos anos, com Fernando Diniz.

Ganso foi contratado para reforçar um modelo de jogo e se saiu muito bem quando jogava ao lado de Alan e Daniel no meio, atuando de frente, com os jogadores próximos uns dos outros, com transição apoiada.

Só que nada prospera no Fluminense atual. Ganso foi titular com Marcão depois do pesadelo com Osvaldo, que nos tirou uma Sul-Americana ganha e quase nos rebaixou.

Nada tem sequência. Hoje temos um time que joga com as peças distantes, que toca vinte vezes na bola para atrasar para o goleiro dar um chutão.

Longe de fazer análise individual. O fato é que temos uma contratação jogada fora, porque a única forma de fazer esse cara jogar é com bola no pé, domínio de jogo. Nesse esquema do Odair, que tem fixação por três volantes de combate, não jogará nunca.

Não adianta querer que ele jogue próximo do ataque. Não tem mais característica para isso. É volante, para jogar de frente, fazer criação. Qual a dificuldade para entender isso?

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É louvável a dedicação do Nenê, mas onde ele está jogando eu queria ver o Leandro Spadacio, que tinha velocidade, drible, passe e capacidade de finalização. Era o destaque do Sub-20 no ano passado, mas foi negociado. Uma negociação nebulosa, como tudo no Fluminense, que ninguém sabe quanto, como nem por que.

Aliás, a mesma posição do Miguel, que estava voando no começo do ano e foi colocado pelo Odair para jogar de centroavante. Um sujeito de um metro e meio jogando de centroavante.

Melhor parar por aqui. Desculpem o tom de desabafo!

Sábado tem mais.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

1 Comments

  1. O MB tinha dado um ar de vitalidade que sumiu rápido, né? Será que foi a quarentena? Realmente, o homem anda escondido. Deve ser para não perguntarem sobre patrocínio, né. risos

    Sobre o time, acho difícil demais analisarmos após 3 meses de paralisação e 9 dias de treino. Agora eles estão treinando e vejo que temos espaço pra melhorar. Ainda acredito que esse ano vamos sofrer menos. E, no final, é isso que precisamos: galgar lugares maiores na tabela, para gerar mais receita, pagar as…

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