Há 40 anos, o grande recital de Rivellino contra o America (por Paulo Rocha)

Há exatos 40 anos, no dia 21 de abril de 1977, eu estava no Maracanã e presenciei uma atuação espetacular de um dos maiores craques que o futebol já produziu, Roberto Rivellino. Hoje, no aniversário deste show, divido com os leitores do Panorama Tricolor esta crônica – ela fará parte do livro que, com a ajuda de Deus e a orientação do ilustre amigo Paulo-Roberto Andel, pretendo lançar ainda em 2017. 

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Um recital inesquecível de Riva

Fim do sonho: 1977 marcou o ocaso da Máquina Tricolor. O presidente Francisco Horta, no terço final de seu mandato, não acertou nas trocas como fizera nos dois anos anteriores, nos quais o Fluminense conquistara o bicampeonato carioca – um feito que os tricolores não protagonizavam desde 1941, no épico Fla-Flu da Lagoa.

Mas voltemos a 1977. Horta deu o craque Dirceu ao Vasco em troca de um desgastado Luís Carlos Tatu; ao Flamengo, presenteou com Carlos Alberto Torres em troca do ponta-direita Paulinho (?!); e ao Botafogo, cedeu nada menos do que Rodrigues Neto, Paulo César Caju e Gil por Marinho Chagas (grande sonho do presidente tricolor) e Miranda. Esta última troca ficou tão desigual que Charles Borer, então presidente alvinegro, liberou dias depois o goleiro Wendell por um preço módico ao Fluminense. A política do clube das Laranjeiras ferveu com as trocas de 1977 e a torcida, com razão, ficou revoltada.

Dos titulares da Máquina de 1976 sobraram o goleiro Renato, os zagueiros Miguel e Edinho, o volante Pintinho e o centroavante Doval.  E Rivellino.

Pois bem. Logo na estreia no Carioca, o Flu perdeu do Botafogo por 2 a 0, gols de Gil e Manfrini (por sinal, outro ex-ícone tricolor). Antes do jogo, Riva alertara a torcida: “O Botafogo é o favorito, está com um time mais forte do que o nosso”. Palavras que se revelariam muito mais realistas do que proféticas.

Pois bem. Após este jogo, o Fluminense, que ainda possuía razoável grupo de jogadores (embora inferior às dos outros três grandes), ganhou de alguns pequenos. Enquanto isso, o Vasco, comandado pelo tripé de meio-campo formado por Zé Mário, Zanata e Dirceu, voava no campeonato. Até enfrentar o América.

O time de Campos Sales já não tinha mais o craque Edu, o artilheiro Luizinho e a mesma força de anos recentes. Além disso, em 1977, vendera o lateral-direito Orlando e o zagueiro Geraldo justamente para o Vasco. Mas possuía a “raposa” Tim como treinador e a mania de, vez por outra, surpreender os considerados favoritos.

O Vasco foi vítima de uma dessas estripulias americanas. Com uma bomba do lateral-direito Uchôa e defesas incríveis do goleiro País, os rubros venceram por 1 a 0 o chamado Clássico da Paz. O Vasco, naquele ano se sagraria campeão carioca. E só não o foi de forma invicta devido a essa derrota.

Após o feito, o América passou a ser considerado a sensação do Campeonato Carioca. Tanto que grande parte da mídia passou a lhe atribuir favoritismo para o jogo seguinte, que era contra o Fluminense.

A partida foi disputada no feriado de Tiradentes, em 21 de abril. Eu tinha treze anos incompletos e fui ao Maracanã com meu pai e um amigo. Naquele dia, presenciei uma das maiores exibições do meu grande ídolo, Roberto Rivellino, com a camisa 10 do Fluminense.

No início do jogo, o América até esboçou uma pressão. Mas Kleber, com um chute de longe, abriu o placar para o Flu. Pouco depois, Cafuringa (que já provocara a expulsão do lateral americano Jorge Valença), de cabeça, ampliaria o placar – fato que dava a entender que aquela tarde seria diferente. No fim do primeiro tempo, Rivellino, que fazia uma partida esplendorosa, com dribles desconcertantes e lançamentos milimétricos, com uma cobrança de falta perfeita, faria o terceiro gol tricolor.

No segundo tempo, o time rubro, com dois homens a menos – o goleiro País também fora expulso -, foi presa fácil. Aos 27 minutos, Rivellino recebeu de Paulinho e bateu forte: 4 a 0. Aos 43, o craque do bigode tabelou com o gringo Doval e encobriu o goleiro Zecão: era o quinto gol. O recital terminou no último minuto, quando Riva detonou a bomba santa da entrada da área, fechando o placar no Maracanã: Fluminense 6 x 0 América.

No dia seguinte à partida, no saudoso Jornal dos Sports, o cronista Dalton Crispim analisou a atuação de Rivellino da seguinte forma:

“Para com isso, Riva. Covardia. Quatro gols e uma das maiores exibições já vistas este ano no Estádio Mario Filho. Fez gols de todos os jeitos. Está jogando numa posição onde é ‘imarcável’ e demoníaco. Sai da entrada da sua área e aparece para concluir. Uma atuação cinco estrelas”.

O Fluminense ainda teria que esperar mais alguns anos para comemorar o seu terceiro tricampeonato carioca. Mas a exibição de Rivellino naquela tarde valeu como um título para quem foi ao Maracanã.

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Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: paro/js

1 Comments

  1. Obrigado Paulo Rocha pelo belo texto. Este dia foi a primeira vez que fui ao Maraca e me consagrei tricolor de coração. Eu tinha 8 anos na época.
    Sucesso no lançamento de seu livro.

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