Ganso é fundamental, mas sem a Gansodependência (por Vitão)

Após a final do Carioca, na semana posterior ao título, Ganso disse em coletiva que o Flu teria que alternar os jogadores em virtude do calendário exaustivo. Na oportunidade, relatou que o time não poderia mudar a forma propositiva de jogar que havia apresentando diante do Flamengo. Ou seja, independentemente de sua presença em campo, o Tricolor deveria manter o controle qualitativo da posse. Contra o fraco Oriente Petrolero da Bolívia, Abel repetiu o 3-6-1 da finalíssima e conseguiu vencer pelo placar de 3 a 0. Sem muito brilho e diante de um adversário muito fraco, o Flu fez o dever de casa, mas podia e devia ter jogado mais. No segundo tempo, Abel até tentou deixar o time mais ofensivo montando o 3-4-3 com Bigode e Luiz Henrique pelas beiradas, mas não abriu mão dos três zagueiros. O homem do jogo, eleito pela própria competição, foi Paulo Henrique Ganso. Mais uma vez o meia desfilou técnica e coordenou as ações coletivas do time, sobretudo na retenção e distribuição na fase ofensiva.

Contra o Santos, na estreia do Brasileirão, Abel Braga decidiu poupar Ganso por desgaste. Como relatado pelo próprio camisa 10, era necessário manter a forma propositiva de atuar, com posse e controle no campo do adversário. Era sabido que o rival, fragilizado pelos maus resultados da temporada, ia dissolver o esquema com três zagueiros e retornar ao 4-3-3. O discurso de respeito extremo ao Flu mostrava que o Santos viria com a postura reativa, o que facilitaria o controle das ações, principalmente ao dominar a meiuca. Para tanto, o Fluminense repetiu o 3-6-1 dos dois jogos anteriores, sendo a única substituição a entrada de Nathan na vaga de Ganso. O Tricolor teve 66% de posse e finalizou vinte e seis vezes contra apenas três do adversário. O time de Abel tentou preencher o centro com Árias compondo a linha de três meias, mas o Santos congestionou com Ricardo Goulart fazendo o terceiro homem de meio na fase defensiva.

A intenção era boa, mas a rotação da bola era lenta. Faltava velocidade e, assim como fizera nos jogos anteriores, circular com técnica em torno da posse para gerar triangulações e espaços. O Flu tinha seis homens no meio, mas por vezes o ala ou algum meia ficava sem ao menos uma linha de passe. Faltava movimentar mais, buscar os lados, colocar intensidade. Era nítida a falta de associação no terço final. Essa diminuição do caráter associativo na fase de ataque, privilegiou o congestionamento de um rival que veio somente para se defender. O Tricolor tinha posse e finalizava, mas era evidente a falta de velocidade e inspiração. Nathan, tão esperado pela torcida jogando nessa posição, foi a grande decepção. Não circulou com os meias e, em baixíssima rotação, ficou estático entre as linhas do adversário. Sua dinâmica mudou completamente a posse do Fluminense, sobretudo na superioridade numérica que a equipe estava tendo em torno do domínio da bola.

O empate sem gols era um péssimo resultado de estreia para o Flu, por vários motivos. Tínhamos um adversário desfalcado, fragilizado, vindo de maus resultados e testando outro sistema tático. Jogávamos em casa, após dois resultados com desempenho animador e satisfatório, tanto no plano técnico quanto no plano tático. Depois do primeiro tempo, momento em que ficou nítida a postura apenas defensiva do rival, era esperado que Abel abrisse mão de um zagueiro, visto que o Santos jogava praticamente sem atacante. Porém, ele voltou apenas com Nonato na vaga de Yago e adiantou Nathan, que se isolou ainda mais. Depois colocou Luiz Henrique na vaga de Nathan e retornou para o 3-4-3, mas nada mudou. O time continuava sem conseguir criar jogadas de forma coordenada. Abelão só foi abrir mão dos três zagueiros nos minutos finais, quando sacou Calegari e colocou Bigode. Com Nino na lateral direita e Fred na vaga de Cano, o Flu teve sua melhor chance com a bola batendo na bochecha da trave.

Faltou jogar apoiado oferecendo linhas em torno da posse. Faltou intensidade na movimentação para balançar e abrir espaço no ferrolho do adversário. Faltou velocidade na circulação da bola. Sobrou zagueiro. Foram três contra um time sem atacantes. E por quase toda a partida. São essas convicções do Abel que às vezes são difíceis de entender. Era jogo para três pontos. Não tem como sair “orgulhoso” como disse estar nosso treinador. Nem ficar satisfeito como alguns torcedores ficaram. Muitos acharam o resultado ruim, mas gostaram da atuação. O Fluminense pode ter sido dominante em volume, mas não foi na bola. Finalizou apenas seis vezes no gol, três com perigo. Repito, diante de um adversário que abdicou de jogar. Ser dominante em casa, jogando com um rival nesse nível de fragilidade, significa vencer. E atuando bem! Faltou muita coisa, sobretudo velocidade na leitura da dinâmica enfrentada. Poderíamos ter jogado pelo menos o segundo tempo no 4-4-2 com as linhas altas e jogadores de mais qualidade, mas Abel preferiu três zagueiros sem função tentando criar jogo.

Hoje, Ganso retorna contra o Junior de Barranquilla e, se continuar jogando naquele nível, muda a configuração do meio Tricolor. A tendência é a repetição do 3-6-1, sendo que este deve enfrentar o 4-2-3-1 dos colombianos. A melhor forma de controlar o jogo é cadenciar a velocidade que o rival tentará imprimir embalado pela sua torcida. Para isso, o Fluminense precisa de retenção e controle através da posse, ditando o ritmo com inteligência. Após o êxito do Unión Santa Fé contra o Oriente Petrolero na Bolívia, somente a vitória nos devolverá a liderança. Como só classifica o primeiro lugar, a vitória é fundamental, Para tanto, o Tricolor precisa ser ofensivo e imponente. Aquela intensidade que faltou contra o Santos, não poderá faltar, muito menos aquele nível de associação pelo meio apresentando contra o Flamengo e, em menor intensidade, contra o Petrolero. E o Flu não pode ser dependente de Ganso, Árias ou qualquer outro jogador. Como disse o próprio maestro, é preciso manter a forma propositiva de jogar, independentemente do adversário, competição ou circunstância. Salve o Tricolor!

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