Olhando para a frente: o Fluminense 2021 (por Aloísio Senra)

Tricolores de sangue grená, o ano de 2020 certamente não deixou quaisquer saudades e, tão logo ele se findou, a maioria de nós já faz questão de tentar esquecê-lo. Ainda que tenhamos muitas lições a tirar dele, quem não é masoquista vai preferir, provavelmente, olhar para frente. Em relação ao Fluminense, isso também é verdadeiro. O ano passado não nos trouxe qualquer alegria ou conquista relevante (não estou considerando a base), e o que podemos fazer é projetar um 2021 melhor. E começamos bem, relembrando à dissidência a normalidade das coisas. Eles perdem, nós ganhamos. Curioso foi o fato de Aílton Ferraz, o mesmo da assistência pro gol de barriga (ainda que conste seu nome como autor do gol na súmula), estar à frente do comando do time, já que o bravo Marcão, que não me parece que vingará como técnico, está afastado por COVID-19. Espero pronta recuperação a ele, mas que volte ao sub-23. Aílton conseguiu mexer com os brios do time no intervalo e nos proporcionar uma vitória épica.

Épica porque, apesar do primeiro tempo pavoroso, o time do segundo tempo se lembrou do tamanho do Fluminense, com direito à virada no apagar das luzes. O time que iniciou o jogo era aquele do Marcão que perdeu pro Atlético-GO de forma ridícula. Já o que voltou do intervalo parecia outra equipe, e aí não dá pra dizer que o mérito não é do Aílton. Estou defendendo que ele seja efetivado no cargo? Claro que não. O Fluminense já deveria ter confirmado um novo técnico para 2021 e está perdendo tempo. Mas também não dá pra negar que se Aílton conseguir arrancar uma vitória em Itaquera contra o Corinthians na próxima quarta-feira ele toma o lugar de Marcão, ao menos no imaginário da torcida. Enfim, este ano atípico, iniciado com um Brasileirão em andamento, reduz ainda mais a margem de erro e, pelo menos em relação ao elenco e o que podemos esperar dele, uma análise competente precisa ser feita. Trago, nesta primeira coluna do ano, algumas constatações sobre jogadores do profissional e do sub-23, e o que se pode fazer com o que já temos no elenco.

Goleiros:

Marcos Felipe se firmou como titular nesse Fla x Flu. Já era destacadamente o melhor goleiro do elenco, mas sua atuação monstruosa não deixou lugar à dúvida. Muriel será reserva de luxo por algum tempo, ao menos até que mais alguém da base se destaque. Falam do Pedro Rangel, mas é cedo pra avaliar.

Zagueiros:

Matheus Ferraz sente o peso da idade em alguns jogos e nesse ano ficará difícil depender dele. Luccas Claro é o melhor zagueiro do campeonato e precisa ter seu contrato renovado urgentemente. Da base, Luan já foi pinçado, mas olho vivo no menino Igor, que está no sub-23. Inteligente, tranquilo e se antecipa bem. Perfil parecido com o de Nino.

Laterais:

Já passou da hora de Daniel e Guilherme estrearem. Dani Bolt, principalmente, precisa ganhar chances no profissional. No sub-23, é onipresente na defesa e eficiente no ataque. Ventila-se que Samuel Xavier viria. Não o acho mau jogador, mas nesse caso será necessário dispensar Igor Julião.

Volantes:

Yuri já deu. Espeta o André de cincão e tenhamos paciência com ele, pois se jogar no profissional o que joga na base será o dono indiscutível da posição. Se der pra negociar Yuri, será uma boa subir o John Everson do sub-23. Tem melhor antecipação e melhor passe que o atual titular da posição. Calegari tem quebrado um excelente galho na lateral direita, mas tenho certeza absoluta que vai brilhar de verdade quando passar a jogar de volante junto com o Martinelli. Aílton disse que usa os dois volantes (Yago e Hudson) para a saída de bola. Os garotos são bem melhores e não faz sentido não substituir os dois por eles, apesar de reconhecer o valor e a entrega de Yago, que é o melhor dos atuais volantes titulares e o único que eu manteria no elenco pra 2021.

Meias:

Essa é a verdadeira carência do elenco, mas pouco se fala nela. Nenê e Ganso não conseguem suprir o que precisamos, e atualmente Fred é o principal armador do time, embora não pareça à primeira vista. Miguel, que poderia ser uma opção real, pouco ganha chances, e Michel Araújo não rende como armador, embora insista que é sua posição de origem. Temos alguma esperança com Wallace e Gabriel Teixeira na base, embora este último me pareça verde ainda. É imperativo reforçarmos esse setor.

Atacantes:

Fred tem jogado bem de falso 9, porque é um excelente 9. Faz um pivô sensacional e pode gerar mais e mais chances de gol se o ataque for bem escalado. Michel Araújo de um lado, algum outro atacante do outro e Fred no centro. Dá liga. Porém, não resolve 100% dos casos, principalmente se continuarmos sem centroavante na ausência de Frederico. Samuel Granada, do sub-23, é centroavante típico, matador e certamente melhor que o Mulamboso. Mulambo por mulambo, sou mais ele. Para os lados do campo, eu tinha muita confiança no John Kennedy, mas ele ainda não mostrou nada depois de treinar com os profissionais. Parece ter mascarado. Espero que esteja enganado. De qualquer modo, precisamos de outras opções, porque depender de Caio Paulista e Wellington Silva é de doer. Observemos o Pacheco daqui até o fim do campeonato, além de alguns garotos da base.

Em resumo, tricolores, meu time com o que temos e com o que está por vir, seria Marcos Felipe, Dani Bolt (Samuel Xavier), Luccas Claro, Nino (Igor) e Guilherme (Danilo Barcelos); André (John Everson), Martinelli, Calegari; Michel Araújo, Fred e John Kennedy (Pacheco). Esse é o time que eu gostaria muito de ver, com até 7 dos 11 vindos da base. Podemos melhorar muito o desempenho. É só querer.

Curtas:

– Tem tricolor famosinho apostando que sairemos derrotados de Itaquera. O Corinthians vem de vitória sobre Goiás e Botafogo. Vamos combinar que não é muito difícil ganhar deles. Teve a vitória simples sobre o São Paulo, líder do campeonato, de fato, mas o Bragantino outro dia enfiou quatro neles. O jogo é jogado e o lambari é pescado. Também apostavam contra a gente no clássico e se deram mal. Sou mais Fluzão.

– Como seria bom ter um presidente que bota a cara nas derrotas e dá uma satisfação aos torcedores. Pular com jogador no vestiário após vitória em clássico é mole.

– Marcos Paulo se tornou um problema. Se por um lado é foda pagar mais seis meses de salário a ele e não utilizá-lo, em caso de afastamento, também é complicado dar mais seis meses de vitrine a um jogador que vai sair de graça depois de se recusar a renovar por quase um ano e meio. Ainda tem a possibilidade de ele jogar tirando o pé, com má vontade e afins. De qualquer modo, uma solução precisa ser dada a esse problema. Eu o afastaria, colocando-o pra jogar no sub-23. Já sairemos perdendo, de qualquer modo. Que o jogador também sinta um pouco dessa perda como consequência de suas ações.

– Meu desejo para esse ano que se inicia é que a parte da torcida que escolheu um fã-clube pra torcer, seja de jogador ou dirigente, redirecione suas atenções para o Fluminense. Nenê vai passar. Marcos Paulo vai passar. Mário Bittencourt vai passar. O Fluminense não passará jamais.

– Palpite para a próxima partida: Corinthians 0 x 2 Fluminense.