A rua é de todos, mas a minha fonte está secando (por Antonio Gonzalez)

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*** Dedicado à memória do meu PAI ***

 Os mesmos velhos medos (by Pink Floyd)

Estamos batendo na porta de 2018 e todo final de ano me obriga a uma pausa para reflexões maiores sobre a minha vida. Detrás da minha cara de otário, da minha veemência que os tontos desenham como virulência, existe uma pessoa que não abre mão dos seus princípios, que dá a cara pelos seus, mas que não admite ser sacaneado.

Ora, senhores, sei muito bem quais foram os meus passos desde 2016… sem tirar nem por, mas na tradução dos não poemas a conclusão é uma:

A minha voz não interessa mais.  Uma vez feita a revolução das ideias que permitiram uma coalizão política no Fluminense, visionário que fui na propagação do conceito, é fato afirmar que, mesmo calado, incomodo.  Para que dar-lhe luz, se dele hoje nada precisamos.

Não sei viver o Fluminense em suaves prestações.  Sempre foi ou 8 ou 800.  Simples assim. E dessa vez nem 8.

Sim, é um desabafo!

E o que está claro é que não vou permitir que ninguém veja com os meus olhos, menos ainda que falem pela minha boca.  O Pink Floyd há anos canta que “Eles fizeram você trocar os seus heróis por fantasmas?”…  Sinceramente, neste momento, o fantasma sou eu.

Na fotografia do Fluminense em 2017, no rescaldo final, o futebol mesmo com as suas 6055 lesões ósseas e ligamentares, foi muito mal trabalhado.

E que conste que eu defendi. No começo por acreditar, mais adiante por confiar, pouco depois para não trair. Mas foi mal trabalhado sim. A ponto de permitir, entre todos os grandes erros de omissão, que um jogador instalasse uma mesa de sinuca na sala de musculação no CT.  E sem essa de que disciplina só se faz com salários em dia. Ora bolas, jogador está insatisfeito? Pois que peça as contas e vá para a casa do cacete…  Treze clubes terminaram o Campeonato Brasileiro à frente do Fluminense. Quantos desses clubes tinham orçamentos inferiores ao Fluminense? Quantos desses clubes não atrasaram salários?

Então… STOP! Jogador é funcionário e como tal deve ser tratado. E tem mais: eu não acredito na fórmula de somente profissionais na gestão de um clube de futebol. O Fluminense não é a Nestlé, nem fabrica chocolates, nem é a Xerox para produzir fotocopiadoras!

Somos um clube de futebol.  Ponto!

Então espero que, com o planejamento no Departamento de Futebol em 2018, venha de braços dados a mão da disciplina.  Que não voltemos a ver jogador encarando a nossa torcida. Não quer pressão… que vá jogar no Olaria.  Tá insatisfeito, que envie o  curriculum vitae para o Florentino Perez, que é o Presidente do Real Madri. Quem sabe encontre vaga no time C dos caras.

Ao novo Vice Presidente de Futebol, Fabiano Camargo, eu desejei sorte. Sei que aquela cadeira é um moedor de carne, de gente.  Mas que fique claro: o sucesso dele é o sucesso do Fluminense.

Outra coisa é a falta de visão estratégica da gestão; de saída, mantém afastada a torcida.  O momento pedia outra atitude. Mas para nada é motivo para crucificar o Fabiano, pelo contrário. Tem que ser macho para assumir o cargo.

Da mesma forma que celebro a chegada do Miguel Pachá para ocupar a vice presidência jurídica. O Departamento Jurídico merece uma forte sacudida, um terremoto de métodos e filosofias.

How I wish…  sim… como eu queria somente falar bem…

Mas o espelho devolve outra realidade.

O Fluminense é capenga… seja na parte social, sem vida, com uma piscina, verdadeiro estelionato, que se desmonta todos os dias. Ninguém se estressa, afastados que estão dos sócios.

Na falta de visão, com a Academia Julio Veloso estão cometendo a mesma cagada que, em seu dia, fizeram quando tiraram o Buffet Fran Mourão da administração do restaurante do clube. Entra ano e sai ano, desde 2012, muda concessionário, e aquela geringonça não adquire a qualidade mínima e necessária. Ou o Fluminense acha que vai conseguir colocar uma Smart Fit lá dentro? Ou o Fluminense acha que o seu sócio tem o perfil de ficar na fila esperando 10 minutos por um aparelho? Ou o Fluminense acha que essas franquias de aluguel têm professores com o nível curricular dos que trabalham há anos com o Julinho?  Porra!  Não é muito mais fácil chegar para o Julio Veloso, que tem décadas de clube, e propor uma parceria que seja boa para as duas partes?

Profissionalizar vai muito além do que colocar novos currículos em nossa folha de pagamento.  De que adianta trazer uma pessoa para ser  o mega cara da administração das Laranjeiras se, em mais de 100 dias, nunca foi visto em um evento do clube, menos ainda circulando nos fins de semana pelo clube?

Como estabelecer uma política de preços dentro do clube sem ao menos levantar o perfil do sócio que freqüenta as nossas dependências, as necessidades inerentes, fotografar quem são os moradores das redondezas num raio de dois quilometros e que tipo de atividades anseiam.

Ora, senhores! Profissionalismo vai muito além da emissão de contracheques.

Como falar em profissionalismo se os profissionais em questão NÃO PROTEGERAM o Presidente do clube na questão dos ingressos? Eu, ANTONIO GONZALEZ, por três vezes ofereci um plano de ação para relacionamento com as Torcidas Organizadas e Movimentos Populares. Em abril, em maio e em setembro. Sendo que em maio, quando me fizeram a proposta de ser profissional, eu recusei, apresentei GRACIOSAMENTE um projeto de muito maior alcance e  ainda me ofereci para ser GRACIOSAMENTE Diretor de Relacionamentos com as Torcidas Organizadas e Movimentos Populares.

É claro que não interessava a minha aproximação, pois sabiam que nesse quesito seriam engolidos por mim. Posteriormente apresentei dois nomes. Um para fazer o micro e o outro para fazer o macro. Jamais poderiam ter permitido que o Presidente errasse. E mesmo assim, depois do primeiro jogo, ao saber das restrições do GEPE (todo o Maracanã sabia, menos os profissionais do clube, que havia problemas burocráticos com relação ao cadastro dos torcedores), nada foi feito para proteger o Presidente do seu próprio erro; deixaram que a agonia se prolongasse.

Que clube é esse que permite que o sócio não consiga levar adiante nenhuma reclamação?

Tem muita coisa que está funcionando de maravilha… mas tem outro tanto que traz detrás de si o ranço de tempos passados.

E sem vitimismo.  Quem viveu 1998 e 1999, sabe que as dificuldades de hoje são Coca-Cola Light sem Cafeína se comparadas com as de então. Portanto sem essa de transformar os de agora em semideuses.

Não nasci para ser manipulado, até posso ser, mas um dia a ficha cai.

O mesmo Pink Floyd pergunta “Você trocou um papel de figurante na guerra por um papel principal numa cela?”…

Eu já penso diferente:  Não nasci para ser rabo de leão, menos ainda cabeça de rato.

Cansei de não me sentir útil.  Se falo bem, tapinhas nas costas… se falo mal, sou um troglodita, sem educação e sem princípios.  O momento não precisa mais do trampolim do Gonzalez.  Pois que a vida siga cheia de felicidades para o Fluminense.

A voz do David Gilmour é inebriante, tem o cheiro do mar dos grandes vinhos das montanhas do Cantábrico. Só quem lá esteve sabe.

“Ano após ano… Correndo sobre o mesmo velho chão… O que nós encontramos?… Os mesmos velhos medos… Eu queria que você estivesse aqui”…

Comecei a escrever este texto no mesmo 20 de dezembro, 47 anos depois daquela conquista do Campeonato Brasileiro de 1970… eu tinha 9 anos… havia passado em primeiro lugar nas provas de acesso ao Colégio Santo Inácio. Para o meu PAI, um imigrante fugido de um pós-guerra civil com direito à cartilha de racionamento, ver o filho então conseguir ser aprovado para o, então, melhor centro de ensino do Rio de Janeiro, era uma grande vitória. Na véspera me pegou pelo braço e me levou até a loja de artigos esportivos do Nilton Santos, que ficava na rua Voluntários da Pátria numa galeria que fica ao lado do que hoje é a Cobal. Me comprou uma camisa Tricolor, mandou colocar o escudo e perguntou o número que eu queria… é claro que falei o 9… “mas o Flavio num xoga amanhan” (disse num galego portunhol)… “mas pai… a 9 sempre tem cheiro de gol!”…  E assim foi.

Hoje passados 47 anos sinto a falta dele e daqueles dias de Fluminense!

A rua é de todos, mas a minha fonte está secando… é tempo de ir em busca de novos horizontes já que por aqui já não tenho nada mais o que fazer.

Só mais uma coisa…

Quando à Comunicação do clube… deixa para lá.  Quem me conhece sabe realmente o que penso!…

E, sem mimimi, desejo um Feliz Natal a todos!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: agon

1 Comments

  1. Bom dia. Sou tricolor desde o Fla x Flu de 63 qdo tinha meus 10 anos e acompanho seu site, aqui de Curitiba, devido às suas matérias esclarecedoras sempre com a paixão deixada nas arquibancadas. Não consegui entender a questão da mesa de sinuca na musculação. Abraços.

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