Fluminense, campeão de Pasolini (por Paulo-Roberto Andel)

LIVRO RODA VIVA 9 – ANDEL – DOWNLOAD GRATUITO

Ainda estou feliz pela conquista da Taça Guanabara. No sábado, na estrada para Volta Redonda com Gonzalez e Sussekind, é que me dei conta: não tinha visto o Fluminense levantar o tradicional troféu no século XXI. Não que eu seja ausente de momentos decisivos, foi o Flu que ganhou pouco. Por isso mesmo, ver o jogo de perto era fundamental. Há muitos anos não me sentia tão bem num dia de jogo; por isso, contarei o que vivi neste sábado em meu livro Roda Viva IX. Queria agradecer também a receptividade do Giovani na arquibancada, bem como as palavras generosas e bonitas do Flávio para este PANORAMA e o meu trabalho. Que tarde, caros amigos!

Sobre a partida em si, todo mundo já disse o necessário: o Fluminense nocauteou o Resende sem piedade, com dez minutos de jogo. Não cabe desprezar o time alvinegro, que tem a melhor campanha entre os times de menor investimento. Méritos tricolores de ponta a ponta, sem discussão. Além disso, seguimos numa estranha contradição: a base do time do Carioca joga mais e gira mais do que a da Libertadores. A cada dia que passa, fica mais inviável deixar Arias e Martinelli fora dos onze principais. Olhando para o presente, o hoje, fica muito normal que Ganso seja louvado pela torcida presente – sua qualidade no passe é assombrosa. Vencemos com autoridade. Por fim, queria dizer que poucos jogadores mereceram tanto levantar o troféu da Taça Guanabara quanto o goleiro Marcos Felipe.

Neste sábado, o Fluminense acabou prestando um belo tributo ao futebol, levantando a GB no dia do centenário de Pier Paolo Pasolini, um dos maiores intelectuais e artistas da história italiana, assassinado covardemente em 1975 pelo nazifascismo. Sua morte, em 02 de novembro daquele ano, aconteceu no mesmo dia em que o Fluminense trucidou o Flamengo pelo Campeonato Brasileiro, com um sonoro 3 a 0 diante de “apenas” 80 mil pessoas no Maracanã.

Como se sabe, a colônia italiana no Brasil é apaixonada pelo Fluminense pela semelhança das cores da bandeira. O que poucos sabem é que Pasolini, além de também apaixonado pelo futebol, era um senhor jogador e escreveu sobre o esporte em muitos artigos. Naquele 1975, a Máquina Tricolor era simplesmente o time mais famoso do mundo – e ainda aumentaria seu prestígio na temporada seguinte, a de maior público médio pagante da história tricolor. Amante do futebol, Pasolini certamente sabia o que significava o Fluminense naquela ocasião. Passados 47 anos, o Tricolor cumpre uma atuação de gala e conquista o tradicional troféu no dia do centenário do cineasta. Nada mais justo: a trajetória do Flu cabe em salas e salas de cinema. Salve o Tricolor, salve Pasolini.

Há ainda uma curiosa ligação tricolor: “Teorema”, um dos filmes mais polêmicos de Pasolini, inspirou o título de uma das canções da Legião Urbana que, como sabemos, tem um tricolorzaço regularmente presente em nossa arquibancada, Dado Villa-Lobos, e outro na eternidade: Renato Russo.

Agora vamos à luta pela Libertadores. Jogo muito sério. Pasión.

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Infelizmente o sábado de glória tricolor é também marcado pelo caos no México, com dezenas de feridos no estádio. O futebol não foi feito para matar e destruir, mas para viver e confraternizar. É inaceitável.

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Está disponível para download gratuito meu livro Roda Viva IX, no alto desta coluna e no PANORAMA.

É meu 21° livro sobre o Fluminense.

Estou muito feliz.