Fluminense: a dor de amar (por Fábio Côrtes)

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Neste último sábado, dia 12 de março de 2021, a vida tricolor foi tomada por um turbilhão de emoções, nenhuma de bom augúrio, e cujas consequências podem e devem ser muito graves.

Depois de um período (até curto, é verdade) de acontecimentos e coincidências felizes, fomos brutalmente espancados pela realidade mais sórdida emanadas dos covis entranhados no nosso amado Fluminense.

Vivemos já um longo tempo de frustrações, que provocam ressentimentos diversos, e esses ressentimentos provocam rachaduras, principalmente na capacidade de pensar no bem comum do nosso amado Fluminense. Estamos divididos até na luta contra a megalomania dos que se acham e quererem ser únicos. Mas o pior é estarmos divididos na análise fria dos fatos do nosso dia a dia, onde os coletivos de aduladores (ou $eriam coletivo$ de aduladore$?) criam “narrativas” fabulosas (fabulo$a$?) que se tornam “verdades insofismáveis” (verdade$ in$ofi$mávei$?) sem qualquer explicação plausível.

(Em tempos de guerra, infelizmente, cabe lembrar que um certo Adolf Hitler, por seu ministro da propaganda, Joseph Goebbels, já se utilizava dessa tática).

O personalismo sem pudores, revelado no trato com aqueles que não praticam a submissão aos seus devaneios, a provocação estéril na onda de um ridículo “ame-me ou odeie-me”, complementada por ainda mais ridículo “e se não me amar, vá você embora”, como se a vida, o cotidiano, fosse uma folha de papel bem fininha, onde o que não está em uma das faces está, forçosamente, na outra, sem qualquer recheio para dar espaço a outras posições e análises mais criteriosas.

Nós estamos, na verdade, em plena ebulição política. Aliás, vivemos assim desde 2015, quando a sanha por poder estragou as relações com os então poderosos, migrando das conversas intramuros para as já aguerridas redes sociais (um parêntese: que tal se fazer uma revisão das publicações próprias e de apoiadores desde aquela época? Será que serão encontradas propostas? Ou somente críticas ferozes, que, diga-se, hoje “não podem ser feitas”, por que significariam “não ter amor ao Fluminense”?). Ressalte-se que o poder chegou, mas escorado no apoio de uma facção eternamente agarrada ao sistema de comando tricolor. Que, diga-se, tem um faro extraordinário para mudar, desde que seja para manter-se onde está.

O dia da vergonha de 12 de março de 2022 teve duas facetas terríveis:

1. A esquisita (para dizer o mínimo) escalação de um time que certamente nunca tinha sequer treinado junto, e comprovou isso em campo, pois os atordoados jogadores pareciam não saber onde estariam os companheiros para receber os passes que tencionariam fazer;

2. A deprimente, deplorável e desgraçada notícia da iminente venda do garoto da base Luís Henrique, ainda mais por um punhado de mariolas, notícia esta que pareceu ter sido plantada cuidadosamente por gente que já tinha desculpas e razões prontas para justificar o injustificável, naturalizar o abominável.

Aliás, a primeira faceta conseguiu estragar a alegria coletiva que vivíamos, por estarmos em vias de estabelecer o recorde de vitórias consecutivas em jogos oficiais, o que deve ter “desentusiasmado” gente ligada ao poder, mas que não gosta de futebol e não quer ver a torcida acesa e participante.

A segunda faceta carrega uma mensagem ainda pior: foi lançada às vésperas do mais importante jogo do ano, a partida de volta contra o Olímpia, no Defensores del Chaco, Assunção, Capital do Paraguai, onde já nos espera um clima de animosidade tenebroso, uma exasperação do patriotismo mais canhestro. Estarão os “poderosos” (nada) tricolores satisfeitos com a vaga na Sul-americana? Onde poderão esconder melhor as próximas vendas que pretendem fazer? É o que parece, pois a notícia cai como uma bomba no elenco. Qualquer elenco de qualquer clube sentiria o peso de uma coisa dessa magnitude. Em um time ainda em construção, como nosso amado Fluminense, cuja mescla de veteranos e garotos da base ainda está sendo consolidada, é uma bomba atômica de fragmentação.

O que fará o “poder” se o time não conseguir entrar concentrado na partida? Se o que não quero acontecer? Vai culpar a torcida por “não entender” que a vida é assim mesmo? Vai culpar a torcida por não aceitar que havia uma possibilidade técnica tranquila para compensar a ausência de Luís Henrique no time? E que, por causa da reação da torcida, essa “alternativa” não deu liga?

E que entrevista patética! Essa é a cara do poder? Planejar um descalabro nas contas para justificar vendas? Por quê estabelecer gastos imensos com quem não pode ser vendido (até por falta de mercado)? Por quê comprar os passes de um lateral obscuro, escondido em uma ex-República Soviética? Por que comprar metade de um jogador improdutivo, por um valor absurdo, injustificável, e ainda dizer que foi “pressão” da torcida? Por quê negociar um valor pretensamente antes de uma competição, aliás um dos poucos atletas com potencial de valorização? E ainda garante que vai precisar de mais uma venda?

Não existe performance no time de cima, pois as vendas estão sendo feitas na base.

Por qual razão obscura a base não pode “performar” no time de cima? Como é que o “valuation” fica engessado, por não considerar a performance possível? Qualquer profissional sério da área indica, em suas projeções, o que espera em termos de evolução técnica. Simples assim. Aliás, teve valuation nas contratações dos formidáveis CP e CS? Existe valuation possível para alguém cuja idade já garante não ter potencial de negociação futura?

Essa história de “eu ganho, nós empatamos e vocês perdem” já cansou! Aliás, as contas não estavam fechadas e no azul? Ou só no “poder” é que estão os magos que sabem fazer contabilidade? Além dos únicos magos que sabem dar dois treinos?

Nosso amor ao Fluminense foi atacado de forma vil e pusilânime, à sorrelfa, metralhados que foram os corações de todos os tricolores que querem, apenas, exercer sua paixão, envergando com orgulho uma linda e sagrada camisa, incentivando um time que, para o bem e para o mal, estava caminhando por uma trilha ao ar livre, não por um túnel sem luz. O coração dói, a alma dói. A dor de amar está intensa.

Devolvam-nos aquele FLUMINENSE que tem a vocação da eternidade.