Fluminense 0 x 0 Flamengo (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, tivemos, na tarde desse domingo, um Fla-Flu bipolar. Ao mesmo tempo em que foi amargo, o jogo foi doce. Amargo pelo resultado, doce pelo desempenho do Fluminense em campo.

Os tricolores dirão pelas ruas aquilo de que as ruas, esquinas e bares já duvidavam. Que o time do Fluminense é melhor do que o da Dissidência. Mostramos isso no jogo deste domingo sem deixar qualquer margem a contestações.

Afinal de contas, em meio às nossas agruras com os desfalques se atropelando, tamanho o ímpeto em inviabilizar nossos propósitos, caímos, diante deles, na Copa do Brasil, feito em que tiveram todos os méritos

O clássico, outrossim, veio para restabelecer a verdade, mas de forma ainda mais contundente que em outrora, porque chegamos, em virtude das contratações recentes, ainda mais fortes, mas isso é algo a se tratar ao longo da resenha da partida.

Os dissidentes dominaram os primeiros 20 minutos de jogo, se servindo, sobretudo, dos desatinos que o Fluminense cometia, para desespero de Fernando Diniz à beira do campo. Sorte, aliás, que o nosso treinador tem muito cabelo, pois o começo do Fluminense foi passível de penalizar qualquer tricolor com a perda de todos os fios.

Acontecia que o Fluminense fazia aquilo que é o seu modelo de jogo, tentando usar a marcação pressão do adversário como arma ofensiva. Ao quebrar a primeira linha de marcação, o Fluminense espera abrir espaços generosos para avançar em direção à área adversária.

A pressão rubro-negra era intensa e o Fluminense se reproduzia em fazer sempre a jogada errada. Quando era para tocar, tocava errado e era desarmado. Quando era para fazer o desafogo, igualmente tocava errado e fazia nossa torcida penalizar as unhas e fios de cabelo na arquibancada.

Para piorar, havia os momentos em que, correndo todos os riscos, o Fluminense conseguia escapar da pressão rubro-negra, mas nossos jogadores que pegavam a bola no entrelinhas adversário tentavam esticar a bola, sempre procurando Lelê. O detalhe, talvez não percebido, era que Lelê não estava em campo e não tinha ninguém para correr, razão pela qual a bola voltava para os adversários, que seguiam a nos pressionar.

Foi o Fluminense entender que as jardas tinham que ser consolidadas para novos avanços e o jogo ficou equilibrado, ao ponto de termos tido a melhor oportunidade da primeira etapa, com Cano errando a cabeçada na cara do goleiro, após uma daquelas jogadas de Ganso.

Deu-se que o primeiro tempo terminou com uma ligeira vantagem para o Império do Mal, o time das papeletas amarelas, do Lusagate, do “roubado é mais gostoso” e do escândalo do Serra Dourada. Caso Diniz nada mudasse para a segunda etapa, nossas chances de vitória eram reais. Pensando no que poderia melhorar nossa produção, quase transformei meus miolos em cinzas. A única ideia era a entrada de Lelê, mas isso significaria comprometer a disputa no meio de campo em troca de mais profundidade ofensiva, uma aposta muito perigosa.

Aliás, uma pausa para tentarmos entender a escolha de Diniz por colocar quatro a cinco jogadores no meio. Ao contrário do Internacional, os Dissidentes têm um meio de campo de respeito, com Gerson, Arrascaeta e Éverton Ribeiro. Diante disso, Diniz decidiu abrir mão de um atacante próximo a Cano para disputar a meiuca.

Razão pela qual eu quase gelei quando vi a substituição de Martinelli por Lelê no intervalo. Era um movimento ousado no tabuleiro, que acabou mudando as características do jogo. O aspecto tático foi muito importante. O Fluminense ganhou profundidade e não perdeu o meio de campo, muito pelo contrário, mas o que pesou foi a atitude do time e o desempenho de Lelê, que fez sua partida mais madura desde aquela estreia auspiciosa contra o América-MG.

O Fluminense apertou o botão da intensidade e baratinou os dissidentes, que não conseguiram mais se organizar em campo diante de um Fluminense intenso e vertical. Não se pode dizer que foi um passeio tricolor, mas o segundo tempo foi todo nosso e o empate acabou tendo um sabor bem amargo, porque a vitória nos sorriu com os dentes escancarados.

Eu sou mais desconfiado com arbitragem do que mineiro do interior, mas confesso que não vi interferência malfazeja no jogo de hoje. Os gols foram bem anulados e não vi pênalti no lance da mão de Gerson. Aliás, se temos do que reclamar, e aí com toda razão, é das faltas marcadas quando tínhamos vantagem para progredir, inclusive no lance em que o atleta dissidente foi expulso após falta em Marcelo, que lhe aplicara drible humilhante.

Causou-me ótima impressão a entrada de Leo Fernández. Jogador que busca o jogo o tempo todo e tem evidente talento com a bola nos pés. Poderia ter chutado a bola no lance em que invadiu a área e tentou encontrar Cano em um passe improvável. Tirando isso, o cartão de visitas foi bem interessante.

Agora, a parte doce desse empate amargo foi ver o Fluminense voltando a ser superior a um dos melhores times do Brasil. A exemplo do que acontecera no jogo contra o Inter, o Fluminense voltou a mostrar que talvez seja mesmo o melhor time da América do Sul. Uma impressão agora reforçada pelos ótimos reforços que obtivemos recentemente.

O que eu espero do Fluminense daqui para frente são espetáculos, como os que já proporcionamos, vitórias e, se mais nada der errado, o título da Libertadores. Quanto ao Brasileiro, em que pese o potencial que temos para atropelar tudo que vermos pela frente, tem que combinar com o Botafogo, que não parece aberto a negociações. Temos, enfim, que fazer a nossa parte, ainda que eles não queiram fazer a deles. Se tem um time capaz de tirar esse título dos alvinegros, esse é o Fluminense.

De resto, vamos viver a jornada. Uma jornada que promete momentos de muito encantamento e emoção.

Saudações Tricolores!