“Fim de papo! Kleber, Loureiro!” (por Paulo-Roberto Andel)

Acabou a temporada. Não o ano, porque ainda há coisas a acontecer, mas o fato, o grosso, é que acabou. O futebol brasileiro cerra suas cortinas neste domingo e aí nossa atenção vai para a Copa do Mundo.

“Escoteiros,

Se porventura vocês tiverem visto a peça ‘Peter Pan’, deverão estar lembrados de que o capitão pirata faz antecipadamente seu último discurso, porque receava que, possivelmente, quando chegasse sua hora, não teria tempo para fazê-lo.”

ou

“Fim de papo! Kleber, Loureiro!”

Tesouros da juventude, lembranças, o tempo que não perdoa e escorre feito o filete d’água na pia.

Cada um tem seu Fluminense, ou muitos se preferir. O meu já vai fazer 50 anos. É muita coisa. Os meus têm 40, 35. As imagens estão muito vivas e as histórias foram maravilhosas, mas isso não tem a ver com nada recente: faz muito tempo.

A história do Fluminense foi construída com títulos e ídolos. Na ausência de ambos, a última década foi de amargar. Pela milésima vez: toda conquista tem sua importância, mas a questão é avaliar exatamente o que vale o quê. Sempre será bom vencer o Carioca, mas sabendo de seu tamanho e relevância, assim como a falecida Primeira Liga.

Na sexta passada, completamos dez anos sem conquistas atualmente relevantes. Não há paralelo na história profissional do clube. Para disfarçar essa tragédia, o marketing bolou de tudo: torcedor que aparece no telão, torcedor que faz vídeo, memes, musiquinhas, maneirismos, bicicleta na sala de troféus e, por mais que a beleza da torcida tricolor seja evidente e desejável, nós não torcemos para uma boate ou danceteria, como nos velhos tempos.

Pode ser apenas a narrativa de um torcedor decadente, incapaz de se adaptar aos novos tempos onde o passado não joga.

É justa a crítica, bem como a réplica: o passado conduz o presente ao futuro, e o passado do Fluminense é grandioso.

Fizemos um bom 2022 para um time mediano, um regular para uma equipe do tamanho do Fluminense. Vencemos o que era quase obrigação, fomos mal nas Copas, fizemos o Brasileiro digno (sem nenhuma ameaça ao título do campeão Palmeiras).

O presidente mandou publicar a conquista da Libertadores 2023 no placar do Maracanã. Não há informações se os demais clubes foram avisados do feito.

Acabou a temporada. O sonho continua.

Agora é montar um time para o Estadual, porque parece improvável que a mesma equipe desde 2022 se mantenha ano que vem.

Vamos encarar a realidade: o Fluminense precisa pagar os salários de Felipe Melo, Cristiano da Moldávia, Willian Bigode, Allan e outros, e o dinheiro virá de André, Nino, Arias e outros.

Não existe mágica, salvador da pátria ou capacete de ouro, mas sim um rombo milionário.

Diniz, muito obrigado por ter colocado o Fluminense para jogar futebol de verdade. Alguns jogos foram maravilhosos.

##########

O estudo da natureza mostrará que Deus criou o mundo repleto de coisas belas e maravilhosas para vocês desfrutarem das mesmas. Alegrem-se com o que receberam e façam bom proveito disso. Olhem para o lado brilhante das coisas, ao invés do seu lado sombrio.

Contudo, o verdadeiro caminho rumo à felicidade está em fazer outra pessoa feliz. Tentem deixar este mundo um pouco melhor do que o encontraram e, quando chegar a hora de vocês, que possam partir felizes com o sentimento de que, pelo menos, não desperdiçaram o tempo, mas sim, fizeram o melhor que puderam.

Em itálico, trechos da Carta de Despedida de Baden Powell aos escoteiros.

1 Comments

  1. Sensacional. Belo texto pra o ato final do CB22.
    Que tenhamos mudanças…
    ST

Comments are closed.