Pior para os fatos (por Aloísio Senra)

Tricolores de sangue grená, eu vos digo que o melhor time é o Fluminense. E se alguns fatos como elenco na conta do chá, caos político, baixa arrecadação, dificuldades financeiras monstruosas, sabotagem da mídia e falta de perspectiva no início do ano disserem o contrário, eu novamente vos digo: pior para os fatos. Aliás, os fatos têm levado uma surra desse Fluminense, que dia após dia não para de nos surpreender. Até eu, adepto voraz dos fatos, cético toda vida, tenho visto minha incerteza tomar sequências de rasteiras do esquadrão de Abel. A cada jogo, a cada exibição, um deslumbramento quase sobrenatural nos invade, nos toma de assalto e nos faz perceber a grandeza desse clube.

Mesmo na tempestade, mesmo na dificuldade, mesmo no tempo das vacas magras temos um verdadeiro exército nos gramados do Brasil. Como dizer que essa equipe aguerrida de operários tricolores não é superior ao time de 2013? E o de 2014? Os de 2015, 2016 e 2017 não chegaram nem perto! Há bastante tempo não vemos o time jogar com gosto, com alegria, sem dissabores, panelas, fofocas ou marras. Nos treinamentos dá pra sentir o clima. Não existem mais manchetes, mesmo na imprensa marrom, sobre grupo rachado, briga de egos, disputa de vaidades, etc, como víamos aos montes, sobretudo quando tínhamos um elenco recheado de medalhões.

Agora, a humildade manda, e Pedro já é uma realidade. Ao contrário do que eu imaginava, o garoto matou no peito a responsabilidade de substituir centroavantes experientes e virou a referência da equipe de vez. Tem jogado o fino, como na época da base, onde eu já tinha percebido suas virtudes. O amadurecimento dele, ainda bem, foi muito rápido. Hoje, Pedro é indispensável ao time. Goleador e garçom, o time joga de forma extremamente fluída com o menino em campo. Sornoza é outro nesse esquema do Abel: tem rendido muito. Jadson também faz partidaço atrás de partidaço, bem como Richard, e os alas, mesmo o suplente Marlon, fazem jogos quase perfeitos. Até o Kuririn se firmou.

A defesa ainda é nosso ponto relativamente vulnerável. Não está uma água, mas o dia que conseguirmos ter Gum, Ibañez e Nathan fazendo o trio de zaga, acho que vai engrenar de vez. Do Júlio César só tenho a dizer que estou extremamente impressionado com seu desempenho. Tem sido destaque em praticamente todos os jogos, praticando defesas difíceis e tomando gols em que a culpa não é sua. Vive, sem sombra de dúvidas, o melhor momento da sua carreira no Fluminense. Os suplentes também têm sido muito úteis. Pablo Dyego, Robinho, Douglas, Airton e os zagueiros reservas têm dado a sua contribuição para que o nível não caia demais quando entrarem.

Eu não poderia encerrar essa breve análise sem falar do nosso comandante Abel Braga. Já bati demais no Abelão por aqui, da mesma maneira que já o afaguei bastante. Não retiro uma palavra sequer do que eu disse. Ele fez a autocrítica necessária, fez o esquema que implantou funcionar, parou de substituir mal e passou a mexer sempre para alterar o resultado a nosso favor. Mesmo em derrotas como a no clássico contra o Botafogo, ele não teve qualquer culpa. Fez o correto, mas não levamos sorte. Acontece, é do jogo. Porém, mantivemos a pegada e atropelamos Atlético-PR e Chapecoense, embora não tenham sido jogos fáceis. Nenhum será, e ele sabe. Repete isso à exaustão.

Hoje, sendo o excelente técnico que é, não há qualquer razão para que eu queira a saída de Abel. Ele realmente tem o grupo na mão, e está sendo exemplar à beira do campo, entre as partidas (ele sabia como o Furacão ia jogar e criou uma forma de anulá-los) e durante os treinamentos. Ainda que teimosias persistam (Renato Chaves é o Edinho da vez), enquanto elas não forem prejudiciais ao Fluminense, não me incomodo. Por fim, o Fluminense está de vez nas cabeças. Esses treze pontos eram o que precisávamos para respirar e, quem sabe, projetar uma decolagem ainda no primeiro turno. A liderança está a um ponto de distância e esse time de guerreiros vai buscá-la com certeza. Com ou sem os fatos.

– Curtas

– Estamos a um ponto da liderança. O Grêmio ainda não perdeu em casa, mas só tem uma vitória também. Sabemos que é difícil voltar de lá com os três pontos, mas não é impossível. Todavia, um pontinho não seria ruim se pensarmos no campeonato como um todo. O que vier, é lucro.

– Com a classificação do Bahia e os terceiros lugares confirmados na Libertadores em seus grupos para Defensor, Bolívar, Peñarol, Santa Fe, Vasco, Nacional-URU, Millonarios e Junior Barranquilla, os 32 participantes da segunda fase da Copa Sul-Americana já estão definidos.

– Como está no pote 2, o Fluminense poderá enfrentar as seguintes equipes, que estão no pote 1: Banfield, Cólon, Bolívar, Jorge Wilstermann, Vasco, Botafogo, Deportivo Temuco, Independiente Santa Fe, Junior Barranquilla, Millonarios, El Nacional, Sport Huancayo, Peñarol, Cerro-URU, Defensor e Nacional-URU. Que os deuses do futebol nos livrem dos seis adversários desse pote que jogam na altitude.

Panorama Tricolor

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