Tricolores, eternos botões (por Alberto Lazzaroni)

O TRICOLOR – informação relevante

A aula já tinha começado há algum tempo. Embora muito estudioso, o menino estava impaciente.

Algo o afligia naquele dia e ele sentia que não poderia demorar para chegar em casa.

Assim que o sinal tocou, saiu em disparada. A escola não era muito longe de casa. Uns 15 minutos de uma caminhada normal. Naquele dia ele fez em cinco.

Um bico no portão, uma passada rápida no quintal, com direito a um carinho no cão que já vinha ao seu encontro. Mas não podia se demorar. Ele percebia agora que a tal sensação ficara mais forte.

Entra na casa, passa pela sala, pelo corredor e pela cozinha. Chega finalmente na varanda dos fundos.

E aí ele entende o porquê daquela aflição. Seus olhos infantis veem aquilo que o marcaria profundamente: uma mesa de futebol de botão com dois times devidamente arrumados.

Sem dar a mínima para seu irmão mais velho e um amigo, que ali estavam disputando a partida, ele se aproxima da mesa e encosta nela o seu pescoço (sim, ainda não tinha altura suficiente para olhar de cima a vistosa mesa).

E, tal qual um geraldino do universo botonístico, ele vê aquele escudo lindo, inconfundível. Os botões, brancos. Mais simples, impossível. Mais claro também, em todos os sentidos.

O irmão e o amigo, percebendo a situação, nada falaram. Simplesmente deram sequência ao jogo. Quem jogava com o Flu era o amigo e, de repente, ele começou a narrar cada jogada.

“Recebe Marco Antonio. Toca para Denilson, o Rei Zulu. Esse passa pra Samarone. O Diabo Loiro domina, dribla um e toca na esquerda para Lula”.

O garoto não tirava o olho daquela bola estranha. De bola não tinha nada pois seu formato era de um disco. Mas isso era o que menos importava.

O amigo continua: “Lula cruza para Flavio, o Minuano e…”. Uma pausa. O amigo fala para o irmão: “Prepara”. O irmão arruma o goleiro. E, logo em seguida, Flávio chuta. É gol, gol, goooool de Flávio!

O moleque já era tricolor desde a fecundação. No entanto, aquele momento foi definidor. Foi mágico. Não precisava de mais nada.

O garoto virou fã de jogos de botão. Montava seus próprios times. Tornou-se campeão da rua, do bairro. Parou por aí.

Hoje, os botões são parte de um passado. Não importa. Eles foram o passaporte para entrar no universo tricolor. E isso basta.

O garoto está feliz.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

7 Comments

  1. Amei seu texto, Alberto!
    Escreveu de uma maneira gostosa de ler, com toques poéticos e emocionantes.
    Parabéns!

  2. Em 1969, com onze anos de idade, ganhei um time de botão com o escudo do Botafogo. E, jogando na casa de um amigo, vi pela primeira vez um escudo do Fluminense em alguns botões pertencentes a outro garoto. Foi paixão a primeira vista. A partir daquele momento, passei a acompanhar o tricolor. Ouvia todos os jogos pela rádio globo e tive o prazer de ouvir a transmissão da final do campeonato carioca de 1969 contra o Botafogo, quando fomos campeões. Resido em João Pessoa e assisto todos os jogos…

  3. Que saudade !!! Sou do tempo do Valdo…Escurinho….Altair… Pinheiro…Castilho… tempos bons !!! Que não voltam mais…
    Saudações de um Tricolor apaixonado !!!

Comments are closed.