Entra Ganso, sai Cristiano; sai 3-4-3, entra 3-1-4-2. Obrigado, Lula! (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, eu assisti meio perplexo à entrevista do Abel após a vitória contra o Botafogo.

Na ocasião, Abel fez duas substituições no intervalo que transformaram a equipe do Fluminense. Durante a entrevista, no entanto, a cada pergunta que lhe era feita, Abel fazia questão de salientar o desempenho da equipe no primeiro tempo.

Vamos esclarecer as coisas. Abel definiu em sua cabeça que o Fluminense joga no 3-4-3. Esquema ruim? De jeito nenhum, contanto que respeitadas as suas exigências, mas essas ficam para daqui a pouco.

O Fluminense de Abel joga com: Marcos Felipe; Nino, Felipe Melo e David Brás; Samuel Xavier, André, Yago e Cristiano da Moldávia; Luís Henrique, Fred e William.

Já que Abel tanto insiste em que alguém reconheça a evolução dessa formação, eu sugiro que o nosso impávido treinador leia minha última coluna, que se propunha analisar a vitória sobre o Botafogo, na melhor exibição do Fluminense disparada na temporada.

Na referida coluna, eu reconheço a evolução desse esquema inicial. O problema é que reconhecer a evolução da equipe nesse esquema e com esses jogadores não significa dizer que ela atenda às expectativas. Quer dizer apenas que evoluiu, mas continua muito aquém do que precisamos. Pior que isso, tem pouca margem para evoluir.

Nesse aspecto, parece que eu estou com a maioria, pois para mim está claro que essa não é a formação titular. Dois jogadores, principalmente, destoam do resto do time mesmo quando a evolução aparece. Fred vem tendo sua melhor performance como zagueiro em bolas paradas, enquanto Samuel Xavier não consegue cumprir as funções ofensivas de um ala.

Mas isso já está mais do que claro. Eu tenho a humildade de ler e ouvir todos os colegas da imprensa e essas duas questões parecem unanimidade. E a visão geral se reforça a partir do momento em que Abel substitui esses dois jogadores e, mesmo sem mexer no esquema, que está longe de ser nosso problema, transforma o time em algo muito melhor.

A exibição do segundo tempo contra o Botafogo só prova que o time que começou o segundo tempo é muito melhor, mesmo com apenas duas substituições, que o time que Abel considera titular. Para não perdermos o tema de vista, segue: Marcos Felipe; Nino, Felipe Mello e David Brás; Yago, André, Árias e Cristiano; Luís Henrique, Germán Cano e William.

Manda o bom senso que Abel comece o jogo contra a Portuguesa com essa formação, pois foi ela que nos fez pela primeira vez na temporada soltar alguns suspiros de alegria, encantamento e esperança.

Não se enganem, porém, amigas, amigos, de que seja essa a nossa formação ideal. Lembremo-nos de que o adversário era o Botafogo. O sempre respeitável Botafogo, um patrimônio do Brasil, mas cujo time atual é bem fraquinho.

Ao contrário da maioria, tenho visto evolução constante no futebol de Cristiano da Moldávia. Nada, todavia, que o credencie a ser titular intocável na ala esquerda. Ao mesmo tempo, no jogo de quinta, Abel apresentou uma visão que tem sido muito defendida por mim e por outros analistas, inclusive aqui no Panorama. Alas não são laterais, são meias que atuam pelos lados. Saiu Samuel Xavier, Yago foi deslocado para a ala. O time melhorou seu desempenho pelo lado direito em todos os aspectos.

Se temos três zagueiros, não precisamos ter dois laterais. Precisamos ter jogadores capazes de, ao mesmo tempo, exercer marcação pelos lados, explorar os corredores laterais, se aproximar dos meias, fazer facão, entrar na área e, em algumas situações, até cruzar a bola na área.

Da mesma forma, não gosto de treinador que se apega excessivamente a desenhos táticos. No futebol, assim como em qualquer ambiente competitivo, é preciso estarmos sempre atentos às oportunidades de melhorar para superar os adversários. Cobra que não anda não engole sapo.

Já tem tempo que venho falando que Luís Henrique pode ser muito mais produtivo quando carrega a bola vindo de trás, com espaço para arrastar a marcação adversária e desconstruir suas linhas. Tem um lance emblemático, em que é exatamente isso que acontece. Luís Henrique vem de trás, entorta três adversários e explora o deslocamento de Cano para dar lindo passe, que quase termina em gol.

O que eu estou querendo dizer com isso? Que é Luís Henrique, e não Yago, que tem que fazer a ala esquerda. Da mesma forma, John Árias poderia perfeitamente fazer a ala pela esquerda.

Ah, mas quem faria o atacante pela direita no lugar do Luís Henrique? A resposta é: Luís Henrique. Não é, afinal, Cristiano, o ala esquerda, que explora o fundo do campo pela esquerda? Por que não o ala direita fazer o mesmo pelo seu lado?

Se você pensou que estou abrindo mão de um atacante, pode ser que sim, pode ser que não. Eu trocaria os três atacantes por uma dupla com William e Cano. Era essa, aliás, a proposta inicial de Abel, quando começou a primeira partida com três meias: André, Yago e Nathan. E essa é a minha proposta: o 3-1-4-2.

Para clarear, vejam a imagem abaixo:

Esse é o meu time para o momento. Mantendo a linha de três zagueiros, com André sendo o centro gravitacional do time, jogando à frente do trio defensivo e por trás da linha de quatro, com Luís Henrique, Ganso, Yago e John Árias.

Temos pelo lado, na linha de quatro, dois jogadores com múltiplas valências. São jogadores que marcam bem, participam da construção de jogadas e sabem explorar os lados do campo. Bingo! Temos, no meu entender, um timaço, pronto para enfrentar qualquer um, pelo menos na América do Sul.

Ao mesmo tempo, temos um meio forte, com André, Yago e Ganso, reforçado pelos alas, com boa capacidade de marcação, construção de jogadas, aproximação da área e último passe.

A ideia é essa, e eu deixo para vocês analisarem, mas sempre tem o “não obstante” e voltemos à entrevista de Abel, que, naturalmente, é uma ducha fria em nossas pretensões.

Abel parece ter deixado claro que nada parecido vai acontecer, porque tem suas “convicções”. Convicção é coisa de gente velha e ultrapassada, num mundo em que paradigmas são degolados em praça pública a cada 15 minutos. E quando eu falo de gente velha, não estou falando de pessoas de idade. Conheço muitas capazes de esbanjar lucidez e flexibilidade. Falo de pessoas mentalmente enrijecidas, apegadas às suas próprias crenças, tenham elas 70 ou 20 anos.

É preciso enxergar as oportunidades, e elas estão aí, nos sorrindo, sorrindo para Abel, só esperando um aceno. Eu respeito as ideias do Abel, vejo acertos em seu trabalho, acredito nos três zagueiros da forma como está posto, mas será uma facada cruel no bom senso se voltar com Samuel Xavier e Fred como titulares no jogo contra a Portuguesa. Perderá qualquer resquício de credibilidade de que ainda goze com a torcida, mesmo que venha o resultado depois das substituições, que é o que vem acontecendo.

Todo trabalho carece de credibilidade para poder ter continuidade. Da mesma forma, a credibilidade de nada serve se não procuramos continuar crescendo, melhorando e amadurecendo.

***

Tenho que fazer esse registro.

Morreu o nosso Lula, grande ponta esquerda, campeão carioca de 1969, num Fla-Flu antológico, campeão brasileiro de 1970, autor do gol do título carioca de 1971, em cima do Botafogo, e, mais uma vez, campeão do Carioca de 1973, em parceira com Manfrini, Dionísio e Gene Kelly, na versão carioca, na forma de Fla-Flu, de “Singing in the rain”.

Descanse em paz e obrigado por tudo!

Saudações Tricolores!

1 Comments

  1. Savioli, vc lembrou um jogão histórico com Dionisio selando o jogo. Félix; Toninho, Bruñel, Assis e Marco Antônio; Carlos Alberto “Pintinho”, Kléber e Marquinhos; Dionísio, Manfrini e Lula. Técnico: David Ferreira, o “Duque”. Nunca aceitarei a mediocridade no futebol do fluminense.

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