Encontrando a paz (por Paulo Tibúrcio)

tiba green

Manhã de domingo. Cumpro minha função marital acompanhando minha esposa em uma prova na cidade de Piraí. Fechados os portões precisamente às nove horas, encontro-me livre para passear pelo local e cumprir com um objetivo: Assistir ao jogo Fluminense contra a Ponte Preta. Poderia ouvir pelo rádio ou acompanhar pelo celular. É o que eu faria se fosse há algumas rodadas. Mas o time vem subindo de produção e a torcida está novamente empolgada após um período de rompimento.

Começo minha jornada rumo ao desconhecido. Curioso que não tenha conhecido Piraí antes, cidade localizada a 20 minutos de Volta Redonda, local de minha infância e adolescência. Atravesso a ponte que cruza o plácido rio Piraí, que dá nome à cidade.

O lugar guarda um ar de típica cidade interiorana. É claro que o progresso chegou, mas ainda é possível ouvir o trinar dos pássaros, interrompido momentaneamente pelo som de um ou outro automóvel. Não se ouve buzina e isto é bom. Jovens e idosos aproveitam a tranquilidade do domingo para caminhar, a maioria acompanhada de seu cão. A tranquilidade do local é propícia à criação do melhor amigo do Homem. Sigo pela avenida Barão de Piraí na esperança de encontrar um bar para ver o jogo, mas a maioria do comércio encontra-se fechada, com exceção de uma padaria e uma igreja. Há que se manter o faturamento. Poucas pessoas na rua.

Vejo um hotel e surge a ideia de me hospedar apenas para ter acesso à televisão, mas são tempos difíceis de um país incerto, ideia abortada. Mais adiante, o simbolismo clássico das pequenas cidades: Um coreto e a igreja matriz no alto de uma colina. No final da avenida, uma praça mais movimentada, onde se vê crianças brincando com os pais e idosos sentados nos bancos. Neste momento, me lembro que a cidade oferece acesso gratuito à Internet. Pego o celular e seleciono uma das redes disponíveis. Funcionamento perfeito. Estava definitivamente conectado à cidade.

A rodoviária fica próximo à praça. Me encho de esperanças ao ver um aparelho de TV. Não é jogo de canal aberto, para minha tristeza. Pelo menos, consigo me aliviar do número 1. Mas a busca ainda não tinha terminado. Era hora de voltar.

Passo pela Usina Elevatória de Vigário e percebo que a cidade se encontra em um vale. Com certo pavor, veio-me à mente uma cena de cinema catástrofe. O que seria daquela parte da cidade se aquilo arrebentasse. Logo abandonei a ideia, a cidade merece um roteiro mais casual, como La Belle de Jour. Talvez uma comédia romântica com Hugh Grant.

Resolvo voltar pela avenida Beira-Rio, margeando o rio Piraí. O caminho é bem cuidado. Do outro lado uma vegetação rústica com um pedaço de mata bem preservado. O rio parece limpo, apesar de umas três garrafas pet que ali flutuam para lembrar o triunfo da modernidade e progresso.

Caminho um pouco mais pela “Rive Gauche”. Surge um contraste, delineado em dois morros. O da esquerda, um pouco mais distante, ornado de casas espaçadas e com estilos arquitetônicos imponentes. O da direita, mais próximo ao rio, coberto por um aglomerado de casas mais simples. Mesmo uma cidade pequena não tem como escapar desta dicotomia social.

Uma hora se passa e retorno ao local da prova. Os primeiros candidatos já começam a sair. Alguns se juntam em uma praça, onde fico por um tempo. Um bar próximo tem uma TV tocando música. Penso que o jogo poderia passar ali. Fiquei acompanhando à distância. No horário do jogo, o dono do bar pega o controle remoto e sintoniza em um canal. Corro para o bar. Para minha tristeza, preferem ver São Paulo versus Chapecoense.

Passo a caminhar por diversas ruas, acompanhando o jogo pelo celular. O site diz que a pressão é da Ponte Preta, o que me deixa preocupado e ansioso. Era uma área residencial e minha esperança de ver o jogo se esvaía a cada instante. Olho para uma rua, que leva para uma região mais simples da cidade. Como esforço final, sigo por ela. O rio ainda testemunha minha busca, mas desta vez, estou na “Rive Droite”. Visualizo um grupo sentado em um pequeno barranco em frente ao que parecia ser um bar. Apresso o passo, e dou de cara com um mercadinho. Nada de TV. É fim de semana e eles estão mais interessados em jogar conversa fora do que ver futebol.

Quando estou quase desistindo, uma esperança. Na calçada do lado de fora, uma mesa com dois senhores trajando camisa, bermuda e chinelo. Bebem uma cerveja e olham compenetrados para dentro do estabelecimento. Não levo fé, mas me aproximo. Olho para dentro do bar, um verdadeiro pé sujo. Tudo ali é velho e despojado, exceto uma TV tela plana de 21 polegadas, que passa o jogo do Fluminense. Um sorriso de alegria surge naturalmente.

O jogo já tinha começado, mas dá tempo de ver o primeiro gol de Cícero, com excelente cruzamento de Scarpa. Incrível como o Fluminense subiu de produção nestes últimos jogos. O time tem condições de melhorar à medida que vier o entrosamento. O segundo tempo inicia e o artilheiro marca outro de cabeça. Um combinado de refrigerante com saco de batata frita me acompanha durante a partida. Por causa do horário, não dá para ficar até o fim do jogo. Pago a conta e quando me preparo para sair, Wellington faz um golaço. Vibro discretamente. Torço pelo sucesso do garoto. O Fluminense depende muito disto.

Retorno ao local da prova, onde minha esposa me espera. A missão está cumprida.

Despeço-me da cidade, rumo a agitação e desordem do meu querido Rio de Janeiro.

A paz reina em Piraí e nos corações tricolores.

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Imagem: bit

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