Ainda sobre o duelo com o Palmeiras (por Vitão)

Após o jogo contra o Palmeiras, surgiu a informação que Diniz estava estudando o time paulista desde que se tornou técnico do Fluminense. Quando assumiu o São Paulo em 2019, o treinador enfrentou desafio parecido ao jogar contra o Flamengo de Jorge Jesus em seu auge técnico e tático no Maracanã. Na oportunidade, estudou o adversário e, como se diz no linguajar do futebol, “fechou a casinha”. Para o duelo, preparou saídas rápidas com desafogos engatilhados. Conseguiu o empate sem gols contra um time que fazia muitos gols por partida, principalmente jogando em casa. Mais uma vez, Fernando Diniz se viu iniciando um trabalho e, logo na segunda partida, surge a missão de enfrentar o time mais competitivo e ajustado do futebol brasileiro. O trabalho de Abel Ferreira vai rendendo, a cada temporada que passa, frutos mais saborosos no seu desempenho coletivo e tático. Uma dessas virtudes é a pressão na saída de bola do adversário.

Diniz se preparou para enfrentar aquilo que o adversário tem de melhor. O Tricolor nunca havia conseguido nem empatar contra o Palmeiras em seu estádio novo. Além da torcida contra, da grama sintética e do histórico desfavorável, ainda temos que levar em conta a qualidade técnica e o momento coletivo que vive o rival. O Palmeiras tem sua forma coesa e competitiva de jogar. Talvez a virtude que mais se desenvolveu no time de Abel Ferreira foi a pressão na saída de bola e a retomada da posse no campo do adversário. Roni ataca em alta velocidade o portador da bola e a linha de passe mais próxima. Posteriormente, os jogadores vão subindo em velocidade e realizando encaixes individuais, o que sufoca o adversário e ainda propicia sobra defensiva. Se Diniz estudou Abel, este também se alinhou aos preceitos do rival. O portuga sacou Scarpa e colocou Wesley, logicamente com o propósito de sufocar ainda mais a saída do Flu com a velocidade e a explosão do garoto.

A intensidade esperada foi vista no duelo. Diniz não se atirou ao ataque nem subiu suas linhas em demasia, mas também não deixou de criar mecanismos que fornecessem chances de gol. Bloco baixo não significa aceitação quando existe estratégia para contragolpear. A grande sacada era fazer uma saída qualificada para fugir dessa primeira linha de pressão. O êxito em ultrapassar o ataque voraz da marcação do adversário em seu campo defensivo, forneceria ao Fluminense o espaço necessário para atacar com perigo. A escalação inicial também mostrou a intenção de duelar pela imposição espacial. Pela primeira vez, o Tricolor teria de início a meiuca recheada com o talento de Ganso e Nathan, dois jogadores com técnica para reter a bola e qualificar a posse. Ou seja, o Flu entrou preparado para sofrer, mas também com sua estratégia ofensiva engatilhada e bem definida. Abaixo, o 4-2-3-1 que o Fluminense iniciou a partida.

O Palmeiras, como esperado, começou desde o início em cima, babando na saída de bola tricolor. Após o final da partida, isso ficou constatado nos dados, sobretudo com relação a retomada da posse. Dos dezenove desarmes da equipe de Abel, doze foram no campo de ataque. O perde-pressiona alviverde empurrava o Flu, que tentava, nas cordas, realizar suas saídas concentradas, atrair o rival e obter espaço para trabalhar a bola. Aos 18’, Ganso lesionou a coxa ao bater um escanteio e teve que sair. Diniz, vendo que o Flu estava perdendo o meio, colocou Nonato em sua vaga. Nesse momento, o Tricolor passou a jogar no 4-1-4-1 e espelhou a marcação de meio, o que dificultou a passagem do Palmeiras. Em contrapartida, o Fluminense também diminuiu sua capacidade criativa com três volantes e Nathan sofrendo pelo flanco para recompor o lado em que joga Dudu, o homem que acelera a transição do Palmeiras com dribles em velocidade.

Vislumbrando a necessidade de mudar, Diniz alterou novamente o time no intervalo. Retornou ao 4-2-3-1, realocando Nathan na meia central mais próximo de Cano. Nonato se alinhou com Wellington na volância e Yago foi para a faixa esquerda ajudar Pineida na marcação de Dudu, que voltou mais agudo na etapa final. A formação melhorou a passagem pelo corredor central e, a circulação de Nathan, propiciou ao Flu conseguir desafogar com mais facilidade. No início do segundo tempo, o time de Fernando Diniz teve seu melhor momento na partida. Com intensidade na transição ofensiva e usando o espaço fornecido pelo avanço do Palmeiras, o Flu criou boas oportunidades escapando em velocidade após saídas trabalhadas, mas não conseguiu o gol. Como já citado, Diniz foi para esse duelo preparado para sofrer, mas jamais abandonou sua sede de atacar. Abaixo, o 4-2-3-1 que iniciou o segundo tempo.

Ocorre que Abel Ferreira, treinador com ótima leitura de jogo, resolveu fazer mudanças audaciosas para vencer a partida. Tirou Wesley e colocou Scarpa, invertendo Dudu de lado. Também tirou o volante Danilo e colocou Navarro, centroavante. Pelo meio, Scarpa e Veiga passaram a atacar o espaço entre as linhas de marcação para conseguir acionar o ataque. E foi com inversões de jogo que o Palmeiras conseguiu seu gol. A bola foi invertida para Scarpa que inverteu novamente para esquerda, encontrando Dudu livre nas costas de Samuel Xavier. O Tricolor também havia perdido o meio com a saída de Nathan e a entrada de Bigode, jogador que continua mal fisicamente e fora de sintonia com a equipe. Com o 4-4-2, perdendo o meio, placar adverso e o Palmeiras insistindo em ocupar o campo de ataque, foi a vez de Diniz se valer da coragem e ter audácia nas alterações. Era preciso mexer para quebrar a série de derrotas seguidas para o rival em seu campo. E o Flu não merecia o placar.

Foi quando o técnico tricolor sacou Samuel Xavier e colocou o atacante Caio Paulista de lateral direito. Fred entrou na vaga de Nonato e foi ocupar mais o meio, lembrando Evair no Vasco em 1997, centroavante que recuava para abrir espaço e municiar Edmundo. Como o Palmeiras não estava recompondo bem, principalmente pela esquerda com Dudu, Diniz colocou Caio de lateral e Luiz Henrique de ponta pela direita, justamente para mergulhar naquele espaço. E foi ali que Caio Paulista achou uma avenida, avançou para a linha de fundo e cruzou para Cano empatar. Diante das circunstâncias e da qualidade do adversário, o Fluminense conseguiu um bom resultado. Porém, o mais importante foi o desempenho competitivo e a evolução coletiva da equipe. Mesmo variando taticamente, o Flu não ficou espaçado ou se desorganizou. Mesmo constantemente empurrado pelo rival, o Flu jamais desistiu da imposição e da posse. Que continue evoluindo e que venham as vitórias necessárias. Salve o Tricolor!