Dissecando a aura de Chiquinho Zanzibar (por Alva Benigno)

ALVA BENIGNO GREEN NOVO

Visando ampliar o conhecimento dos leitores na composição do personagem, aqui faço uma breve descrição do homem por trás da alcunha de Chiquinho Zanzibar. 

Meu sincero agradecimento a todos que, de forma surpreendente para mim, têm prestigiado esta coluna literária.

AB

ZANZIBOY

Um vilão de si mesmo, ele é uma espécie de símbolo do que há de mais atrasado no Brasil contemporâneo (e aqui falamos de 2017): racismo, excludência, desejo de supremacia financeira, ética seletiva e absoluta amoralidade quando o assunto é vantagem pessoal.

Tendo vivido seus tempos de glória nos malfadados “anos de chumbo”, CZ é uma viúva (sem trocadilhos) da ditadura de 1964, das remoções de favelas no Rio de Janeiro, do DOI-CODI, do AI-5, do ufanismo militar, dos primórdios dos choques de ordem, dos favorecimentos ilícitos de toda sorte.

Obcecado por sobrenomes ricos, colunas sociais, altas rodas, caiu em decadência financeira após a queda de seus mentores, seja pela inevitável chegada da morte ou a sua prévia em vida: o ostracismo. Vivendo de ótimas rendas com aluguéis de imóveis deixados por um tio generoso – e corrupto até a última ossada exumada – às custas de estranhos favores -, no entanto é uma pessoa de extrema avareza – típica de seus semelhantes – e procura sempre caçar oportunidades nas quais possa viver o mundo dos ricos como se fosse um deles: uma festa, um jantar, uma bocada num camarote de carnaval, até mesmo uma porção de salgadinhos carregada no bolso depois de um vernissage, onde naturalmente não vai para adquirir qualquer obra, exceto se houver a chance de uma boa lavagem de dinheiro. Na atualidade, tenta recuperar o cargo de assessor fantasma do mundo político, enquanto sonha encontrar um padrinho que banque sua candidatura a vereador – e, se for o caso, é claro que mentirá para os eleitores sobre tudo o que pensa.

Vive desde sempre em Copacabana, mas detesta a parte menos abonada do bairro: por ele, só teria a avenida Atlântica e olhe lá, sem os malditos prédios de quitinetes. Defende a volta dos elevadores de serviço para não se misturar com o que considera “a criadagem”. Entende que a intervenção militar seria a responsável pela volta do Brasil à condição de país que vai para a frente.

Gosta de parecer sofisticado, utiliza expressões em inglês e francês, mas na verdade canta em “embromation” debaixo do chuveiro. Embora não conte para ninguém, a biblioteca que mantém na sala de seu apartamento foi comprada pronta, por encomenda, num tradicionalíssimo sebo carioca. Detesta livros, mas, ao mesmo tempo, renega o povão que, por outras razões, está afastado daqueles. Contraditoriamente, gosta de Truman Capote.

Já na terceira idade (ou perto dela, dependendo da nova aplicação de botox), carrega imensa culpa por conta de sua homossexualidade enrustida, ainda que vivida intensamente. Tem um casamento de fachada, para manter as aparências e não ser “falado”. No entanto, em raros dias de chuva não se furta em praticar eventuais traições conjugais com mulheres. Não tem netos, mas sonha em parecer um avô respeitado em breve, sem pensar nos glory days que viveu em templos gays cariocas, tais como a Galeria Alaska em Copacabana e a boate Holigay, no velho prédio do cinema Plaza no Passeio Público.

Para nosso azar, de forma alguma pela orientação sexual, mas pela sua personalidade mais do que controversa e com facetas malignas, é um torcedor fanático do Fluminense, conselheiro do clube e figura permanente nas dependências da sede, em especial a sauna das Laranjeiras – por ele apelidada de “Pecadópolis” em alusão a um compartimento do admirado sítio de Roberto Burle Marx, localizado em Pedra de Guaratiba. Foi presença marcante nos tempos do baile carnavalesco “Vert, blanc, rouge”. Adora as festas, churrascos e convescotes, onde se impõe como um prócer da ética e da moralidade. Vai sempre na boa.

Acompanhou o time ao vivo muitas vezes, geralmente num jabá de camarote do antigo Maracanã, mas se afastou na era atual. “Tem muita gentinha, pobres sem sobrenome, uma miséria que não é de bem”. O que lhe importa é o poder e a chance de prosperar economicamente caso o clube lhe dê uma brecha, nem que tenha de fazer o papel de menino de recados de poderosos interesses. Pelo poder vale tudo e que se dane a Lei de Gil!

Ainda que admire os corpos dos jogadores de futebol, vê neles a figura de serviçais, que deveriam voltar a entrar pela porta dos fundos do clube, e não pela entrada principal de Álvaro Chaves. Mas continuariam a treinar no gramado centenário: uma vez ou outra ele os espia das sociais, sempre com relativa discrição. Fã ferrenho dos capos da contravenção carioca, vê neles o espectro de homens de verdade, elegantes e luxuosos, pouco importando a verdadeira lista telefônica de crimes cometidos pelos bicheiros. Também um admirador profundo de homens como Eduardo Cunha e Mendonça Filho, assim como no passado esteve espiritualmente próximo de personagens como Chagas Freitas, Ário Theodoro, Sandra Cavalcanti, Ronnie Levinsohn, Wilson Leite Passos, Álvaro Valle, Erasmo Dias Pedro, Sergio Fleury e João Baptista de Figueiredo, dentre muitos outros.

Lacerdista roxo, udenista convicto, arenista, anticomunista, vê na privatização das praias cariocas o primeiro passo para a volta de seu Rio de Janeiro. Isso não o impede de desafiar convenções conservadoras entre quatro paredes – às vezes, ao ar livre -, tais como fumar Arthur e cheirar pó mimoso às escondidas, utilizando os mais diversos veículos, incluindo aí supositórios de sete polegadas e salamaleques curiosos. Em suma, um escroque notável – pelo que tem de pior.

Chiquinho Zanzibar é um personagem imaginário (?), mas com mais características em comum com seus parceiros de sauna e carteado do que eles gostariam de ver e saber.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: ab

1 Comments

  1. Isso gente tricolor e associada ao nosso amado clube. É um papo reto.
    Abraço e S tc

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