Diniz, o camisa 10 e os volantes (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, a minha visão é de que a saída do Sornoza foi a pior entre as piores ideias do futebol do Fluminense nos últimos anos. O que mais me assombra nessa venda é a justificativa. “Se não vendesse agora, sairia de graça”. Tal pensamento só vem a ratificar a ideologia que tomou conta do Fluminense nos últimos tempos. Jogador é mercadoria e não ativo esportivo. Sendo assim, se alguém quer comprar, somos obrigados, dentro dessa lógica, a vender.

Sornoza começou no Fluminense comendo a bola com Abel Braga. Tinha ao seu lado Orejuela, Douglas (Wendel), Gustavo Scarpa e Wellington. Com tais companhias, o jogo fluía, Sornoza entrava no meio dos volantes para fazer a saída de bola e chegava ao ataque para finalizar.

Muitos afirmam que Sornoza já não armava mais nada, como se fosse possível armar o jogo sozinho num meio de campo estéril e um ataque deformado.

Tenho lido e ouvido que não precisamos mais de um camisa 10, que todos os grandes times jogam com três volantes. Acho que o problema todo é que substituímos o conceito de meio de campo pelo de “marcação e criação”. Um marca, o outro cria. Isso é fruto da filosofia que se instalou aqui por essas bandas a partir do final da década de 80. Tornamo-nos especialistas em produzir volantes marcadores e trombadores. O camisa dez virou atacante e acabou o conceito de meio de campo, que aos poucos vai voltando depois que a Europa descobriu a finalidade desse setor do campo.

Eu sou de um tempo em que volante era chamado de cabeça de área. Eu vi atuarem no Fluminense na posição de cabeça de área uns tipos como Carlos Alberto Pintinho, Zé Mário, Paulo César Caju, Delei, Jandir e Vampeta. Todos sabiam marcar e sair jogando. É bem verdade que o futebol de hoje é diferente, mais corrido, mas ainda é exigido dos meias que saibam marcar, desarmar, sair jogando, armar jogadas e chegar à frente para finalizar. Ou seja, errado é quem acha que o volante serve para desarmar e o meia para armar. Talvez a melhor solução para isso seja a gente deixar de lado a ideia de volantes e ficar com a ideia de meias, que assim facilita.

Fernando Diniz é um técnico que gosta de ver o time jogando futebol, não aquele estranho esporte que andamos praticando nos últimos meses. Eu até escrevi no outro dia que quando começava a chegar a hora dos jogos do Fluminense eu sentia desconforto físico. Agora eu sinto esperança. Não é porque haja a possibilidade de ter o Fluminense jogando bonito, é a certeza de que o Fluminense pelo menos tentará praticar futebol.

Vamos ter um time que gosta da posse de bola, que marca organizadamente e em que todos participam do jogo o tempo todo. A questão é saber com que peças contaremos para praticar esse jogo, se o Fluminense começa a festança vendendo o cara mais capacitado para esse tipo de jogo. Acho que, com Diniz, será o ano do Daniel. Luiz Fernando é jogador para se encaixar nessa proposta. Marca muito, desarma bem e sabe sair jogando. Parece que Gilberto fica, o que é uma ótima notícia. Na zaga, Ibañez tem que ser a espinha dorsal, pois também sabe sair jogando. Eu daria uma oportunidade ao Nogueira, que até gols andou fazendo no Figueirense. Mais maduro, futebol não lhe falta.

Fora isso, a gente precisa ver como vão chegar os garotos que estão subindo do Sub-20 e quais as peças que chegarão para compor o elenco. O retorno iminente de Matheus Pato é outra boa esperança, porque, em forma, o rapaz faz gols até dormindo. Aliás, eu escalo no primeiro treino Calazans de um lado, João Pedro do outro e Pato no comando do ataque. No mais, define três meias, segura o ímpeto dos laterais e vamos para o jogo.

Sobre a reunião de ontem, deixo para opinar na segunda. A única coisa que eu espero é que esse seja o caminho para pacificar o Fluminense. Vou só adiantando que o que nós precisamos não é de uma troca de poder. Nós precisamos de união verdadeira e de um projeto que seja aceito por todos. Precisamos que haja o compromisso de pô-lo em prática imediatamente. Se possível, que surja um nome de consenso e uma chapa única, mas que haja compromisso em torno de um projeto claro. Que a galera não se iluda com fórmulas mágicas, porque elas não existem. Quem assumir o Fluminense terá que roer o osso, porque nós precisaremos de anos para recolocar o clube nos trilhos. Qualquer arroubo populista nos levará de vez para o buraco.

Acho que a visão do Abad é correta. Ele é proprietário do mandato, que lhe foi outorgado democraticamente, é um direito que lhe assiste abrir mão dele para tentar pacificar o clube. Só não pode é mudar o piloto e não ajustar a rota, ou seja mudar tudo para continuar tudo como está. Nós vamos precisar de muito arrojo e de uma torcida tão mobilizada quanto consciente da situação do clube e disposta a fazer a travessia. A única saída para o Fluminense é austeridade financeira, arrojo para gerar receitas novas e equacionar a assustadora dívida de curto prazo, organização e gestão primorosas em todas as áreas e um projeto de longo prazo para o futebol profissional, que pode ter o trabalho do Fernando Diniz como ponto de partida. Quem não tem dinheiro precisa ser duas vezes mais competente e organizado que os rivais.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri