Déjà vu (por Felipe Fleury)

 

felipe fleury red 2016

Eu sei que não adianta chorar sobre o leite derramado. Nem é o que desejo. Aliás, quando Fred deixou o Fluminense eu lamentei, mas não chorei.

Aqui de fora, não dá para opinar sobre um negócio envolvendo três ou quatro partes e alguns milhões de reais. Se foi realizado, é porque foi bom para todos, ou pelo menos para quase todos.

Há sempre, ou quase sempre, contudo, uma terceira parte interessada para quem os negócios do futebol soam como extravagâncias absolutamente alheias ao seu mundo. Esse terceiro interessado é o torcedor, que não opina, não decide e inevitavelmente sofre as consequências dessas negociatas.

No caso de Fred, a sua saída feriu os corações de uma legião de fãs e, mesmo aqueles que não o tinham em apreço, hoje devem estar sentindo a falta que o atacante faz ao Fluminense.

Esse meu déjà vu tem um motivo. Até então não havia sentido saudade do ex-artilheiro tricolor, porque ainda não o assistira em campo com uma camisa diferente daquela que vestira por quase sete anos, talvez porque, como prega o ditado popular, o que os olhos não veem o coração não sente.

Caí na asneira de assistir ao jogo do Atlético contra o Botafogo na quinta-feira e parece que a ficha finalmente caiu.

Vê-lo em campo com aquela camisa estranha, naquele estádio estranho, com aquela torcida estranha me fez perceber, definitivamente, que não temos mais o Fred.

Em campo, como nos melhores dias, ajudando a defesa, criando no meio e fazendo gol. Após o jogo, entrevistado, falando com aquele seu jeito manso, bem mineiro de ser.

Ontem, estava no Flu; hoje, no Galo. Coisas da vida, coisas do futebol, ou coisas de gente que não entende de futebol.

Como disse antes, não chorei sua saída, apenas a lamentei. Digo hoje, porém, que diante do que temos no Fluminense me deu vontade de chorar. Por um breve momento imaginei que num rompante de arrependimento, Fred, pudesse tornar ao Tricolor: “Lá é minha casa e é para lá que quero voltar”.

Trata-se, é bem verdade, de um devaneio. Em Minas, Fred está muito bem acompanhado de Robinho e Cazares. Parece feliz, tem marcado seus gols com habitualidade e está na sua terra natal.

Parece que é tarde demais.

Perdemos mais do que um artilheiro. O Flu perdeu alma, perdeu inteligência, perdeu liderança, perdeu um ídolo e perdeu a oportunidade de bons patrocínios.

O torcedor perdeu a esperança.

Sinceramente, eu, como muitos, esperávamos que, se inevitável a saída do artilheiro, que a economia com seu salário pudesse reverter em contratações que minimizassem a sua perda.

Não foi o que aconteceu. O Flu novamente contratou mal, por absoluta falta de visão de mercado. Trouxe jogadores desconhecidos – até aí nada demais – de qualidade técnica baixa – aí sim o problema – para compor um elenco que já era apenas mediano.

Com a saída do artilheiro, perderam o Fluminense e a torcida e não há perspectiva, ante a inércia da Administração Tricolor, de que haja alguma compensação futura.

Em novembro, certamente a resposta será dada. Enquanto isso, porém, o torcedor tricolor lastimará a cada partida a saudade de seu ídolo assistindo à mediocridade de um Jonathan, de um Maranhão, de um Henrique e de outros tantos.

É um castigo imerecido que, mais uma vez, quem comanda os rumos do Fluminense nos impõe.

Panorama Tricolor

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