De pai para filho (por Ernesto Xavier)

Ki-Infantil-Fluminense-I-2013-Conjunto5Nasci em um lar majoritariamente flamenguista. Morava com meus pais na casa de meus avós maternos. Família grande. Tricolor só meu pai, o intruso no local. Fizeram placa do Flamengo com meu nome, me colocaram uniforme rubro-negro e tudo. Fico a imaginar o que se passava na cabeça de meu pai:

– “Calma. A minha hora vai chegar.”

Eu não tinha noção do que estava acontecendo, era apenas mais uma roupa como outra qualquer, não tinha um significado.

O tempo passou e a admiração de um filho pela imagem do pai fez nascer mais um tricolor. Portanto minha paixão veio de pai para filho, tem pedigree, DNA. A decepção do resto da família permanece até hoje. Em quase todos os almoços de família tenho o costume de trajar o verde-branco-grená. Dizem:

– “Tira isso.”

– “Como pode ser Fluminense numa família dessas?”

– “Você sabe o que o seu time fazia com os negros?”

Dou apenas uma risada e nada respondo. Amor não se discute.

Muitos anos depois de virar tricolor de corpo e alma, fomos eu, meu pai e minha irmã ao Maracanã. Era uma tarde de domingo de agosto, como essa de hoje. Também dia dos pais. Os dois filhos tricolores do senhor Ernesto. Sim, temos o mesmo nome, sou Júnior. Era a estreia do meu grande ídolo no futebol. Sempre tive uma grande admiração por Romário. No meu primeiro jogo no Maracanã lá estava ele a marcar dois gols contra o Uruguai, nos levando definitivamente para o tetra de 1994. Não tinha como não se encantar. Mesmo vestindo outras camisas o admirei. Sou um eterno apaixonado por futebol.

Voltando àquela tarde de agosto, nós estávamos juntos, comemorando o Dia dos Pais no Maior do Mundo. Com certeza uma das cenas mais bonitas que já passei em família. Esse tipo de coisa marca a vida de qualquer um. Hoje, nove anos depois ainda me vejo subindo as rampas do estádio ao lado deles, a torcida cantando o hino do clube, o Maraca com quase 70 mil pessoas e uma goleada humilhante em nosso freguês de Minas, o Cruzeiro. Cinco a um para não deixar dúvidas. Dois gols do artilheiro Romário – que não nos deu nenhum título, mas que de qualquer forma encheu vários corações de alegria. Naquela tarde, ele fez uma família feliz. Um pai orgulhoso de partilhar momento tão sublime ao lado dos filhos.

Esta será a maior herança que meu pai me deixará: o Fluminense. Herança que será levada a muitas gerações. Hoje não estaremos no estádio juntos. Dessa vez veremos lado a lado em frente a TV. O amor será o mesmo, a companhia também. Vou escutar suas reclamações sobre a zaga do Flu, o meio e até o ataque. Ele adora falar mal porque entende das coisas do campo. Porém nunca vi sorriso mais largo quando sai um gol nosso. Tudo isso, junto, me fez ser quem sou.

Ele não reclamou quando me fantasiaram de rubro-negro, ele não me forçou a amar o Fluminense. Ele apenas vestiu sua camisa, segurou minha mão e me levou ao estádio. Não precisava de mais nada. Pai e filho seguiriam o mesmo caminho para sempre.

 

Ernesto Xavier

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: www.camisadofluminense.com.br

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4 Comments

  1. Bacana o texto, Ernesto.
    Feliz dia dos pais para todos os tricolores!
    ST4

    1. Muito obrigado!
      Espero que você tenha tido um ótimo dia também.

      Abraços! Saudações tricolores!

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