Covardia e o espírito de um clube (por Zeh Augusto Catalano)

Covardia não ganha jogo. Abdicar completamente do ataque, de jogar de igual pra igual com um time comum como este do Botafogo é pedir para perder. Resultado justíssimo. Dava pra sentir que aconteceria exatamente o que aconteceu. E ai, bola na rede, resolvem tentar fazer em 15 minutos o que não quiseram fazer nos 75 outros. Jogar entrincheirado contra o Flu, sabidamente melhor, é uma coisa. Fazer isso contra o poderoso Botafogo é de embrulhar o estômago. Isso não é o meu Vasco nem nunca vai ser.

Ponto final.

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Assim como no Rio, Londres tem vários times de futebol, com maior ou menor sucesso.  Arsenal, Chelsea, Tottenham, Fullham, QPR, Westham. São inimigos figadais. Na Inglaterra, torço pelo Tottenham, cujo facebook acompanho. É um show de como fazer. Promoções de ingressos, uniformes, vídeos de treinos, entrevistas pré e pós jogos, acompanhamento online das partidas, integração mundial – sim, mundial – de torcedores. Tudo com muito profissionalismo. E um algo mais.

O mínimo que se exige de um profissional que trabalhe na sua empresa é que vista a camisa da companhia e se dedique àquilo com fervor. Você gostaria de saber que funcionário seu, ao sair da empresa, se dedica a orgias? Bebedeiras? Age de acordo com regras de conduta próprias que são contrárias às da empresa? Em qualquer empresa comum, esse sujeito seria defenestrado.  Nos nossos times, não.

Mas há um algo mais, que os clubes ingleses exigem, que os times americanos de basquete, baseball, exigem. É o espírito do time, que falsamente atrelamos a uma longa permanência ao clube. Vasco, Flu, Flamengo, Botafogo, todos tem características próprias, um jeito histórico de ser que nos influenciou a torcer pelo clube. Não é só a camisa, é um jeito, uma coisa quase indefinível que se sente na arquibancada do time, na sede, por menos que se frequente uma ou outra. Uma coisa rara de se ver hoje nos jogadores do time, diferentemente do que ocorria nos anos passados. Havia um verdadeiro prazer, um orgulho de estar ali, uma integração com a instituição. Não uma relação asséptica. Repito, não estou me referindo ao profissionalismo, mas a esse algo mais, que pode muito bem ser exemplificado pelo Flu dos últimos quatro anos. Vocês ganharam muita coisa, mais do que o grande time de 84. Mas não há, de 2008 ao momento atual, um único jogador que faça sombra a um Assis ou Romerito, ao Edinho nos anos 70 e 80. Podem ser profissionais exemplares (será?), craques no campo, ganhar tudo, mas não são representantes daquilo que é o Flu pra vocês. Daqui a anos, serão um grande time, não ídolos. E isso se dá em todos os grandes clubes do Rio. Há um Dedé em São Januário, um Jefferson no Botafogo e, principalmente, um Seedorf. Visivelmente o sujeito está ali, interessado em tudo o que se passa no clube, querendo participar, melhorar. Não está cumprindo exclusivamente o que está no papel. Está imbuído do espírito botafoguense.

Enquanto os clubes do Rio não redescobrirem esse caminho como algo absolutamente necessário para continuarem sendo amados por seus antigos e (futuros) novos torcedores, continuaremos tendo clubes meio capengas. Mas acredito que essa descoberta aconteça. Há muito em jogo ai.

Vasco de merda. Tem horas que dá vontade de desistir. Ai, a gente esfria a cabeça e segue adiante. Vasco!

Zeh Augusto Catalano

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

3 Comments

  1. Desculpem, postei antes da hora, continuando, ou melhor retomando:
    José Augusto, que texto bacana, diferente do que temos visto; irônico – não estranho – que tenha sido feito por um vascaíno, me refiro ao olhar que deveria ser nosso, da maioria dos tricolores, que enxerga em qualquer Diguinho da vida, em qualquer Edinho um ídolo, quando são apenas jogadores que podem até figurar na foto de campeão do clube, mas que definitivamente não nos passam a sensação de pertencimento ao clube, acho que desses jogadores nossos mais recentes, nem mesmo Conca pode ser chamado de ídolo, e não é pelo fato de ter ido pra China atrás de dinheiro, que é todo direito seu, ainda que isso comprove que foi seduzido pelo vil metal, já que o mercado chinês exporta mais bugigangas que as adquire, mas falo deste sentimento de pertencimento, da paixão irrestrita e incondicional pela instituição, não pelo patrocinador ou pelo grupo de amigos que acaba se formando em torno de um objetivo, enfim algo que cada vez que releio o livro do Preguinho, faz-me pensar se ainda é possível. STT, Waldir Barbosa Jr.

  2. José Augusto, que texto bacana, diferente do que temos visto; irônico – não estranho – que tenha sido feito por um vascaíno, me refiro ao olhar que deveria ser nosso, da maioria dos tricolores, que enxerga em qualquer Diguinho da vida, em qualquer Edinho um ídolo, quando são apenas jogadores que podem até figurar na foto de campeão do clube, mas que definitivamente não os passam a sensação do pertencimento ao clube, acho que desses jogadores nossos mais recentes, nem mesmo Conca pode ser chamado de ídolo, e não é pelo fato de ter ido pra China atrás de dinheiro, que é todo direito seu, ainda que isso comprove que foi seduzido pelo vil metal, já que o mercado chinês exporta mais bugigangas que as adquire, mas falo deste sentimento do pertencimento, da paixão irrestrita e incondicional pela instituição, não pélo patroci

  3. Está confirmado que o torcedor é mais passional quando se trata de seu clube do que com sua mulher. As vitórias nos fazem orgulhosos e estampamos camisas, bandeira e adesivos. As derrotas nos revoltam, chamamos o time de covarde, de merda e não nos identificamos mais com ele. Para manter o equilíbrio psíquico apelamos para o passado e enaltecemos times antigos, esquecendo-nos que num daqueles dias remotos também chutamos o balde em situações de derrota e esganamos os que hoje são ídolos na memória. A vida é assim, temos necessidade de afirmação e o futebol é quase um extensão da nossa personalidade individual. A derrota do time é a nossa própria. Paremos com isso! Futebol é apenas diversão, não o objetivo da nossa vida.

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