O chorume da política do “novo” Fluminense (por Paulo-Roberto Andel)

Não vou me ater à reunião de ontem à noite, nem à presença do presidente do Fluminense no Programa Redação SporTV. Em ambos os casos, a cansativa redundância retórica revela bem pouca coisa em termos de real interesse prático. No primeiro caso, infelizmente o que se sabe chega a ser constrangedor, com bajulações, casuísmos e até mesmo o uso indevido do saudoso Presidente Manoel Schwartz em alusão à atual gestão. No segundo, a infeliz repetição de uma marca de quase uma década quando o assunto é a direção tricolor: a terceirização de culpas. Mas só as culpas. Não há dúvidas: é constrangedor.

O grande problema do excesso de retórica, tanto nas manifestações do presidente tricolor quanto de seus guardiões nas redes sociais, é que ele passou do ponto. De cansativo, chegou a irritante. Há um limite para tratar os torcedores como ingênuos, ou mesmo incapazes de refletir sobre as obviedades que afligem o Fluminense a cada dia, seja por contratações esdrúxulas, por negociações muito abaixo dos retornos esportivo e financeiro razoáveis e, por fim, do enaltecimento de um time com uma pontuação também razoável mas de um futebol medíocre ao extremo, geralmente irritando os tricolores mesmo nas vitórias, isso num clube que adentra sua nona temporada sem conquistas significativas.

E justamente por passar do ponto é que os eventuais guardiões de gestão, ou puxa-sacos de ocasião, podem fazer crer o presidente do clube a respeito de uma insólita aliança entre figuras relevantes da política tricolor e veículos de clipping/informação etc focados no clube, com o objetivo de “desestabilizar a gestão”.

Trata-se de um verdadeiro delírio alucinógeno no melhor estilo narrativo de William Burroughs em “Junky”, um clássico da literatura beat dos anos 1950, até hoje muito atual.

A nova pérola delirante da mediocridade política tricolor dá conta do seguinte roteiro: um alinhamento de discursos previamente combinados entre este PANORAMA e figuras como as de meu amigo pessoal Antonio Gonzalez, o Vice-Presidente Celso Barros e o site “NetFlu”, dentre outros.

Integrando por partes.

Gonzalez é meu amigo pessoal, meu ídolo das arquibancadas e uma figura quintessencial do Fluminense há pelo menos 40 anos. Tem voz própria e extensa muito antes do surgimento do PANORAMA, da internet tricolor, da atual composição política do Fluminense. Quem o conhece minimamente sabe que ele fala e escreve de maneira única. Foi vítima de uma das mais calhordas campanhas de difamação da história do clube, mas continua aí como está, onde sempre esteve. E não precisa de nenhuma “aliança” com o PANORAMA, porque sua voz ecoa sozinha por toda parte, vindo aqui porque é AMIGO da casa e ex-colunista.

Celso Barros foi recebido aqui com o respeito que merece. Independentemente de críticas construtivas que possa ter sofrido neste PANORAMA, o reconhecimento à sua história e trajetória é pleno. Uma de minhas colunas mais lidas em todos os tempos tinha o título de “Existe vida na Terra sem a Unimed”. Se eu soubesse o que viria depois no caminho do Fluminense… Dito isso, toda a tratativa que trouxe Celso ao PANORAMA em janeiro não passou de seis ou sete mensagens curtas de Whatsapp. O Vice-Presidente pediu a confirmação de dia, horário e o link de acesso. Só. E tratou exclusivamente comigo. A equipe de entrevistadores só falou com ele no ar. Não fez qualquer exigência sobre coisa alguma. Acostumado a holofotes esportivos nacionais e estrangeiros, o Vice-Presidente se portou de maneira esplêndida, e se disse verdades dolorosas, o problema da dor é de quem tem os ouvidos alienados por causa da permanente picuinha política das Laranjeiras.

Quanto ao site “NetFlu”, só um completo alienado poderia sugerir algum tipo de alinhamento com este PANORAMA. Para começar, alguns de seus integrantes são persona non grata nesta casa e, para piorar, são meus inimigos pessoais, não por questões de divergência política mas sim exclusivamente por mau caratismo – e quem é meu inimigo não pisa na minha casa. Quando foi banido do clube na gestão de Peter Siemsen, foi neste PANORAMA que o “NetFlu” encontrou defesa coordenada por mim, e se respondeu com falsidade e ingratidão, que carregue seus vícios consigo. Ressalte-se que alguns integrantes do referido site são frequentemente lembrados nas redes sociais como intransigentes ex-apoiadores do Presidente Mário Bittencourt por vários anos – que inclusive foi seu convidado de honra numa festividade -, até que subitamente mudaram de opinião. E como poderiam ter uma “aliança” com o PANORAMA e Celso se o próprio “NetFlu” se recusou a noticiar em seu clipping a entrevista de Celso ao PANORAMA, só o fazendo depois de críticas feitas por Beto Meyer publicamente, várias horas depois?

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Que “aliança” é essa, senhores?

Tenhamos um mínimo de racionalidade.

O PANORAMA não combina pautas. Os cronistas escrevem livremente e, muitas vezes, os editores só sabem do conteúdo na hora da publicação.

O PANORAMA não tem aliados. Seu compromisso é única e exclusivamente com as causas do Fluminense.

O PANORAMA não faz conchavos. Não vive de manchetes. Não aluga suas opiniões. Somos assim desde o começo e nossa essência não vai mudar.

Para piorar, ao apontar o PANORAMA como um possível “sabotador da gestão”, a movimentação subterrânea guardiã do presidente só demonstra desrespeito a alguns sócios eleitores da chapa Mário Bittencourt-Celso Barros que aqui atuam, mas que não consideram o voto em 2019 como uma livre procuração para que o eleito possa fazer o que quiser, sem atender aos princípios lógicos e razoáveis do que se espera de uma gestão do Fluminense.

Dada essa apresentação, a única coisa em comum às partes aqui mencionadas como potenciais “sabotadoras” é o completo repúdio ao descalabro que se desenha no clube há quase uma década, mas que infelizmente se acentuou na atual gestão a olhos nus – e não adianta a conversa fiada de não saber o que acontecia: TODOS OS QUE LÁ ESTÃO SABIAM MUITO BEM. Ninguém precisa ser amigo de ninguém para notar e criticar as aberrações que se acumulam dia após dia, justificadas com sofismas pueris e propagadas por claques grotescas.

O Presidente já foi convidado várias vezes por este PANORAMA para ser entrevistado. Se não veio, foi simplesmente porque não quis. Abad e Peter também não quiseram, mas Celso, Tenório, Victer, Cacá e Diogo vieram. Nenhum destes teve todos os votos dos sócios da nossa equipe. Quando quiser vir, será um prazer entrevistá-lo pessoalmente e incluí-lo num rol de nomes como os de Oscar Niemeyer, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Carlos Alberto Parreira, Ivan Lins, Pinheiro, Pedro Bial, Bibi Ferreira e grande elenco em meu currículo.

De resto, é torcer muito por uma vitória sobre o Goiás, a futura confirmação da vaga à Libertadores – assim seja – e que torcedores e sócios caiam em si: com o modelo atual, o avião Fluminense não chega a 2025 sem mortos e feridos.

A próxima eleição não é mais uma disputa entre candidatos, mas sim se o Fluminense sobreviverá como clube grande ou se seguirá de vez o destino de uma pequena agremiação, um entreposto de jogadores com risco até de extinção. Torcedores e sócios precisam amplificar o debate ao máximo, antes que seja tarde.