Cavalieri (por Paulo-Roberto Andel)

Ok, Cavalieri não é Castilho, obviamente. Ninguém o foi, ninguém o é, ninguém o será.

E também não é Paulo Victor, Félix ou Batatais.

Em comum com Marcos Carneiro de Mendonça, apenas a admiração da plateia feminina e certa parte da masculina, a zanzibarette.

Cavalieri é ele mesmo, vitorioso, multicampeão e agora em má fase. Caladão, na dele.

Mas é um grande, grande goleiro e merece respeito, embora todos saibamos que já se trata de um atleta de 34 anos, vindo de longa contusão. Pensando bem, 34 anos não constituem problema específico para um goleiro; pelo contrário, abençoam a experiência.

Teve seu auge em 2012. Pegou tudo. Foi decisivo nas conquistas do Carioca de 2012 e talvez tenha sido o maior responsável pelo tetracampeonato brasileiro, mais até do que os espetaculares Deco, Fred e Wellington Nem à ocasião.

O tempo passou. O time foi se tornando mais fraco a cada nova temporada desde o tetra, as defesas mais expostas, evitar os socos ficou mais difícil.

Em 2016 tivemos o ano do fim do saco. Ninguém aguentava mais as primas donas desfilando entediadas em campo, jogador escalando jogador e por aí vai. A grana acabou. Veio a realidade: usar a base (muito bem, por sinal) e tentar retrofitar os veteranos sobressalentes.

Os dois Henriques eram uma agonia tocando na bola, de doer. Houve quem quisesse o linchamento do Richarlison. Chegamos a 2017 e todos se tornaram peças importantes de um time que ainda precisa decolar de vez, mas que já deu sinais de autonomia de voo.

A pergunta é: o que é preciso para retrofitar Cavalieri? Motivação? Recuperação técnica? Psicológica? Preparação? O que é necessário para reabilitar o goleiro e explorar todo o seu potencial técnico? Não é possível crer que seu futebol acabou.

Estamos durangos, essa é a realidade. Suponha que não fosse o caso e que estivéssemos no mercado em busca de um bom goleiro, com categoria, histórico, currículo. Que goleiro seria esse no futebol brasileiro?

Os mais empolgados podem falar de um ou outro por aí, mas uma coisa é certa: nenhum deles é francamente superior a Cavalieri. Em vez da reclamação – justa – a cada rodada, me parece mais razoável tentar recuperar uma peça importante à nossa inteira disposição aí, o primeiro a vibrar no banco de reservas quando o gol do Flu sai (pouca gente repara nisso). Ah, um dos nossos grandes pegadores de pênaltis.

Razoável pelo nosso momento econômico, técnico e principalmente para pararmos de tratar todos os ídolos e grandes jogadores do nosso time como fraldas descartáveis à primeira ameaça do pingo de xixi, numa desconstrução de imagens que mais parece servir aos nossos adversários do que aos correligionários – ainda que alguns destes às vezes sejam mais adversários ainda do que os originais.

Não é paparicar Cavalieri, pois ele não precisa disso, mas sim desafiá-lo positivamente a, se o caso for, sair do Fluminense ao término do contrato como merece: por cima, quem sabe campeão, recuperado, vitorioso. Parece uma tarefa bem menos difícil do que ter acreditado na recuperação do Ceifador, que aí está orgulhosamente calando a mim, a três ou quatro idiotas e especialmente a alguns falsos modestos que lhe detestam. Artilheiro do Brasil na temporada.

Temos um grande goleiro sim. Se ele está ou não no limiar da carreira, é outra coisa; mas não convém brigar com os fatos e a história. Em boas condições, é titular de qualquer time da Série A do Brasileiro.

Vamos repetir os mesmos erros grosseiros que se acumulam há décadas, quando grandes vencedores com a camisa tricolor deixam as Laranjeiras cabisbaixos pela porta dos fundos?

Não importa de onde venha a iniciativa: é para já, é bom para todos nós. Não custa nada tentar.

Se vai dar certo é outra coisa, mas a história é feita por quem tenta, e não por quem apenas palpita.

NOTA: que dureza fechar essa coluna sabendo da passagem do querido tricolorzaço Seu Edgar. Sua Tasca na Rua Alice é uma página eterna da gastronomia popular carioca. Fui lá muitas vezes com meu amigo Leo Prazeres. Ok, a morte é a única certeza da vida, mas pessoas legais, generosas e talentosas como o Seu Edgar deveriam ser proibidas de morrer.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: rap/curvelo/ ralff santos/ photocamera

13 Comments

  1. Eu concordo contigo, Andel. Se a alternativa é o Julio César, temos que dar moral ao Cavalieri. Sou fã do cara e acho que ele ainda dá muito caldo. ST

  2. Cavalieri ,de camisa de força ,algemado e fugindo do zanzibar ,pega mais que o Jim Carrey(show)

  3. Concordo inteiramente.
    Situação análoga se deu com o Gum, que não é craque mas é bom zagueiro, execrado por parte da torcida.
    Em razão disso tivemos que aturar Renato Chaves e agora o Jim Carrey no gol…

  4. Se êle sair bem do gol, não rebater para o meio da área, entender que nas bolas alçadas na área, o goleiro pode usar as mãos e aprender a sair jogando, porque dando chutão, a bola sempre volta, porque os defensores estão de frente.Aí com estes fundamentos que andou falhando e com bom treinador de goleiros , com certeza que volta a ser titular, porque experiência não lhe falta.
    PS: Não conheço, mas desconfio desse preparador de goleiros, porque todos têm falhado.

  5. Cara, o Cavalieri nunca mais vai ser o de 2012 mas ele é dez mil vezes melhor que o Chester. Tem que motivá-lo para reconquistar a vaga. Sem goleiro, nosso ano segue ameaçado. ST

  6. Eu levei alguns segundos para entender a piada subsequente à comparação do nosso atual goleiro reserva com o Marcos Carneiro de Mendonça. Desnecessária, assim como os textos da Alva Benigno, que eu nem sei se realmente existe. Não condeno expressões artísticas de gosto duvidoso, mas apenas o local de sua publicação, que está mais do que deslocado.

    Afinal de contas, Zanzibar é uma referência a quem? Nunca entendi a piada e me recuso a ler mais, dado o meu constrangimento.

    1. Andel: não escrevo em atendimento à sua opinião, nem a pedi. a demora no entendimento deve ser sinal de que nem sempre pedantismo e sagacidade andam juntos.

  7. Andel, na boa, acho que com Cavalieri não vai dar mais não. O JC é fraquíssimo, precisamos de outro nome. Abraço.

    1. Andel: Ricardo, o problema é o de sempre: grana. Vamos ver. Eu ainda acho que, se não volta a 2012, Cava pode dar um 2017 razoável. Abraçaço.

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