Carta aberta a Bruno Vargas Costa e José Joaquim Jacques (por Paulo-Roberto Andel)

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Caro Bruno,

Dado o desfecho da situação, gostaria de dizer algumas palavras. Não o fiz antes para não passar por capitalizador de audiência diante de uma situação muito ruim.

Sem amaciar de forma alguma a respeito do gravíssimo erro cometido – que tenho certeza: jamais será repetido por você -, entendo que ele foi amainado pelas suas desculpas públicas cristalinas. E eu não esperava outra coisa da tua parte: já viajei com você diversas vezes nos últimos anos, em muitas outras nos encontramos no estádio (até mesmo de forma inusitada) e sou testemunha do teu comportamento ímpar para com os torcedores tricolores e adversários em geral, querido por todos. Tudo bem que às vezes você canta mais do que deveria em caravanas, mas é legal da mesma forma.

Ao mesmo tempo em que reprovei veementemente o episódio do trem (e, se eu estivesse no vagão, ele jamais teria acontecido, tenha certeza disso), sei da tua conduta há anos e não me deixei levar pelos tribunais de Feicebúqui, onde cometeram vários crimes contra você e seus familiares. Em nome da “justiça” e da “moral”, muitos fizeram o papel de justiceiros fora da lei, inundados de cólera irracional. Outros encarnaram fielmente aquele ditado: “o sujo falando do mal lavado”. O mundo é quase dos hipócritas. É mais fácil apedrejar do que resgatar. E lamento por quem usou esse triste episódio para capitalizar likes, compartilhamentos e outras futilidades, inclusive jornalistas levianos e perniciosos que, aliás, cansaram de mamar nas tetas da audiência espezinhando o Fluminense, vide 2013/2014.

Tive acesso ao teu áudio e pude atestar toda a sinceridade nele contida. As desculpas foram autênticas, honestas e espero que você se encontre logo com o José Joaquim Jacques, para que a conversa frente a frente seja ainda mais fraternal do que o pedido de desculpas já realizado publicamente – ele merece muito isso, muito mesmo.

Troquem abraços, riam.

Mostre para ele quem você realmente é, e duvido que não fiquem amigos para muitas outras jornadas.

Indo naquele jogo, o José Joaquim mostrou que não é torcedor de ocasião, sendo exatamente como você. De cara, vocês já têm essa afinidade: apoiar o time nos piores momentos. Aliás, nós.

Quero ver esses dois escudos abraçados. Me chamem para um almoço.

O resto é com a Justiça.

Agora, depois que ela for efetivamente feita, tem algo na tua manifestação com que eu não concordo.

Deixar para sempre os estádios.

Oitocentos, novecentos, sei lá quantos jogos, todos pagos com o teu dinheiro, fruto do teu trabalho, sem janeladas e sem usar o clube de penduricalho, com décadas de dedicação, não é algo que possa ser desperdiçado dessa maneira, ainda mais por causa de um dia infeliz que, reitero, já foi superado inclusive pelo José Joaquim, um gigante em seu perdão.

Neste momento, é até natural o teu recolhimento, plenamente compreensível.

Mas se você deixar de ir às arquibancadas, o Fluminense terá perdido um de seus torcedores mais assíduos no século XXI e até mesmo na história.

É o Fluminense que será punido com a tua ausência.

Chegamos a um momento no clube e nessa torcida onde o fundamental é agregar, é dialogar, é aproximar e não apartar. O discurso de ódio só interessa a mesquinharias pessoais, não ao Flu como um todo. Cada torcedor é importante, pouco interessando onde está, se é abastado ou não. Precisamos de todos os que possam agregar, unir.

O Fluminense já tem inimigos demais para fomentar outros dentro de seu próprio ventre. O ódio é para os fracos, os rancorosos, os invejosos, os incapazes de viver ao lado da felicidade alheia, os proprietários das plenas certezas que preferem morrer abraçados às próprias teses do que viver a construir positividades. O ódio é para os covardes; perdoar é para os corajosos.

Ainda é cedo, Bruno. Pense nisso.

Seja qual for o acerto fraterno e legal de contas a seguir, o único resultado desastroso seria perder você das arquibancadas do Fluminense para sempre.

Interrompi minhas férias do PANORAMA exclusivamente para isso. Falar com um amigo, estender-lhe a mão e, principalmente, reconhecer que ele foi e é muito maior do que a cólera de um momento infeliz e de dois dias de linchamento virtual à base de achismos.

Um abraço pra você e outro para o José Joaquim, um colorado a quem mal conheci e já considero um amigo, um correto irmão, um camarada do futebol.

Um escudo do Fluminense e outro do Inter.

Dois gigantes.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: rap

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4 Comments

  1. Obrigado Patrick, não precisa se desculpar. A situação é muito dificil, e por mais que as pessoas até venham a esquecer o episódio, ficarei sempre marcado por aquela atitude infantil. Ainda estou muito envergonhado e arrependido e a decisão de não ir mais aos estadios é que me julgo incapaz de olhar nos olhos dos torcedores, e esse sentimento acho que será eterno, e por isso estou pensando em outras coisas para a minha vida a partir de agora. Obrigado pela sugestão da ONG, excelente ideia amigo!

  2. Obrigado Paulo Roberto-Andel. Fiz uma grande besteira em minha vida, me transformei de um dia pro outro numa pessoa violenta, e o pior de tudo, não sou nada disso, e vou ter que conviver com essa fama de ‘bad boy’ pra sempre. Você me conhece há bastante tempo, e é sabedor da minha personalidade, índole é índole vem do berço! Foi muito feio o que eu fiz, mas agora não tem como voltar atrás, vamos aguardar a punição da justiça e que o meu erro sirva de exemplo para todos os torcedores do Brasil.

    1. Bruno, retiro o que disse sobre “índole” no comentário acima. Quem sou eu pra julgar toda uma vida por causa de um erro? Todos erram. Fiquei inflamado por causa do vídeo, queira me desculpar. O tempo se encarrega de colocar as coisas no lugar. Vc foi abençoado por ninguém ter reagido naquele trem. Escuta os seus amigos e segue em frente. Já que vc falou em exemplo, quem sabe vc cria uma ONG com o nome do sr. Jacques, sobre violência, intolerância, justiça…

  3. Não tem achismo, fato é fato, está gravado, prova contundente. E a decisão de não ir mais aos estádios não me parece uma autopunição, ele sabe que caso seja reconhecido pelos próprios tricolores, sempre haverá um caça-covardes que tentará pegar o tal “torcedor número 1”. Ao autor do texto acima, parabéns pela coragem e exemplo de defesa a um amigo, apenas discordo. Aos quase 40 anos de idade, mmo sob efeito de álcool, índole é índole, ela vem à tona.

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