No Vieira com Capela (por Paulo-Roberto Andel)

faixa torcida ídolos do flu

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Estava em casa debaixo da coberta nesta noite de quinta-feira, quando meu amigo Capela me avisou que estava a caminho do Vieira Souto para um pacífico chope ou cerveja ou refrigerante, tanto faz. Então lembrei de que havíamos marcado o drinque, coloquei minha bermuda oficial e desci para a Cruz Vermelha, uma terra de gente honesta e trabalhadora, simples, sem espaço para otários.

Logo nos encontramos, pedimos a clássica sopa de ervilhas e começamos nossa prosa tricolor que duraria mais de três horas, incluindo reflexões e vários risos. Antes da peleja dialética sobre o Flu, a preliminar foi a perspectiva das eleições para o Rio, essa bela Cidade Olímpica, largada de mão. Vamos ver no que dá.

Os assuntos em voga do Flu alternavam bons e maus momentos. O time, construído de forma mambembe, é um candidato à Libertadores 2017, aleluia. No entorno, a mofada política do clube com seus atores canastrões, factoides a perder de vista, tuiteiros fronteiriços e outros tipos exóticos que poderiam dar cores a novelas de Dias Gomes, tais como “Saramandaia” ou “O Bem Amado” – todos eles têm um quê de Odorico Paraguaçu, sem o talento de Paulo Gracindo. Alguns sonham em ser Dirceu Borboleta ou a Dona Redonda.

Arrogância. Por que nessa turma tem tanta gente arrogante, vaidosa e autossuficiente? Difícil dizer. A maioria não tem qualquer histórico de vida pessoal destacada que justifique tal comportamento. Alguns, no máximo, têm dinheiro e alguma formação. Quando penso que já entrevistei Gilberto Gil, Maria Bethânia, Fagner, Ivan Lins, Dado Villa-Lobos, Fausto Fawcett, Letícia Spiller, Ítalo Rossi, Sergio Britto e outros notáveis tricolores, todos simples e simpáticos, penso em gargalhar desses meia-boca por aí. Então falamos de algumas qualidades do Presidente Horta que deveriam ajudar a iluminar esse jogo. Eu lembrei de que, quando Garcez lançou seu livro sobre o eterno presidente e orgulhosamente fui o prefaciador, Horta foi de uma generosidade enorme nos agradecimentos. O Bar dos Guerreiros gritou seu nome. Foi uma pena que meu pai não estivesse vivo para estar lá e vibrar com o presidente que montou sua escalação preferida. Aliás, na próxima segunda-feira é o aniversário de 40 anos do bicampeonato carioca em 1976, quando o Rio tinha o certame mais importante do país.

Falamos mais da Máquina, de Super Ézio, do Coração Valente, de jogos saborosos nas Laranjeiras dos anos 1980 e 1990, do Maracanã de antigamente. Desse fuzuê de possível terreno para possível novo estádio na Cidade de Deus. Da grana, lógico, porque senão tudo vira falácia oca. Do Samorin. De Fabinho, lateral da base do Flu e hoje na Seleção Brasileira. De livros, livros, livros. Alguém se lembra do Marcelinho das Arábias? E do zagueiro Arthur?

Do principal: que o time conquiste uma boa vitória sobre o Spór e consolide sua posição na tabela de classificação.

Do efêmero: daqui a 30 anos, ninguém vai se lembrar da boquirrotagem pedante que tem contaminado setores do clube, nem de maricas com peito de pombo na internet. Alguém se lembra dos escroques de 1986? Nada. Do jeito que o mundo anda descartável, daqui a cinco anos não se lembram nem de Fred… E rimos: não temos qualquer interesses neste mar de boquinhas da politicagem do Flu.

Momentos engraçados: os verdadeiros “micos” protagonizados por três candidatos a presidente nos últimos dias. E Chiquinho Zanzibar, o tresloucado personagem literário que tem arrebatado as atenções de centenas de leitores, não por seus predicados e nem pelos seus inacreditáveis defeitos morais, mas por encarnar a figura de um conselheiro homossexual enrustido do clube? Aí então entendemos toda a hipocrisia da nossa moderna sociedade, que não se incomoda com os francos desvios de caráter de uma pessoa, mas sim sobre a sua orientação sexual. E qual seria o problema do Fluminense ter um sócio gay? Tem centenas! Viva o talento de Alva Benigno, pois, a perseguidora dos blogueiros comunistas em nome de Deus e da pátria…

Assuntos impublicáveis: vários.

Depois de algumas garrafas de Serra Malte e três horas de boa conversa, chegou a hora de fechar a conta barata e partir. Capela pegou seu Uber e foi para casa. Fiquei agradecido. Nestes dias em que tricolores andam solapando tricolores nos arredores de uma Faixa de Gaza sem fim, é muito bom ter um amigo tricolor com quem se possa trocar ótimas ideias, discutir a vida e ter boas lembranças. Capela é um destes. Escreve muito bem, é detalhista e, depois de uns poucos copos, conta histórias divertidíssimas.

Mais uma vez, saí do Vieira Souto mais tricolor do que quando havia entrado. Meu lance é o Fluminense, meu gosto é o Fluminense. O time, o escudo, a tradição, a história, as cores da torcida, a vitória e nada disso deve ser confundido com essa meia dúzia de celenterados da internet que usam o Flu para autopromoção barata. No fim, passam de cabeça baixa em Edson Passos. Ninguém esconde a mediocridade de si mesmo. Comemorar gravatinha dourada em fotografia? Não abusem do ridículo!

Ao Capela, meu abraçaço e muito obrigado. É a vida rugindo, rugindo a cada esquina, o leão e o tigre andando lado a lado numa calçada de Nova York como diria Tom Wolfe. Amanhã eu volto para falar do jogo, acho.

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De tudo que li, ouvi e senti sobre essa questão de campo novo, o tiro na mosca foi dado pelo engraçadíssimo Flu da Depressão, o FDP. 

Jovem e talentoso, ele sabe dosar humor, crítica e reflexão como ninguém. Em sua coluna recente na ESPN FC Brasil, foi de uma lucidez capaz de corar otoridades tricolores com idade para serem seu pai ou avô.

O FluDaDep me representa muito. Sua avaliação sobre o mar de ódio que prospera nas redes sociais entre os tricolores foi primorosa.

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Grande vitória do Fluzão no vôlei feminino, campeão carioca, recobrando a tradição do passado de Dulce Thompson, Regina Uchôa, Helga e outras craques.

Vencer o Rexona de Bernardinho nunca é fácil.

No fim, Flu 3 a 2. Placar emblemático.

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Ainda neste sábado, depois do jogo do Flu, Rodrigo Barros  – o Rodo – recebe os amigos na Editora Multifoco, na Lapa, lançando o excelente livro “Da rebelião à glória”, que conta a história do Fluminense campeão da Primeira Liga.

Honradíssimo, este colunista é o prefaciador da obra.

Informações: CLIQUE AQUI.

Panorama Tricolor

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Imagem: rap

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