Que comecem os campeonatos tricolores (por Paulo-Roberto Andel)

Epa? Como assim? Começar?

Caros amigos, o que mais precisaremos nos próximos dias de Fluminense é trabalharmos com o sentido figurado das palavras, fator que requer atenção e lucidez. Isso porque o próprio Flu vive num tremendo sentido figurado.

Nem o mais otimista dos tricolores poderia esperar há oito meses que o nosso time tivesse chances reais de conquistar a sonhada Libertadores e a Copa do Brasil neste 2021, tamanha a quantidade de trapalhadas dos dirigentes, para ficar no mínimo. Isso também porque, apesar de bem classificado no Brasileirão passado, em nenhum momento o Flu foi realmente um candidato ao título. Contudo, felizmente aconteceu e estamos lá, todos nós, não apenas os queridinhos do presidente.

Mas afinal, qual é o problema então? Simples: o completo desalinho entre o pragmatismo dos bons resultados tricolores e suas atuações medíocres, ou melhor, horrorosas, que chegam a atemorizar parte da torcida. A Era Roger até aqui foi assim: a frieza dos números tem sido justificativa para quase tudo, enquanto os tricolores precisam se descabelar até achar onde se pode ver as partidas, escondidas pelo moderno jeito de se transmitir futebol.

Começar os campeonatos agora é basicamente resgatar a história do Fluminense, aquela de arranques históricos, de jornadas épicas e de títulos considerados improváveis – hoje em dia todo mundo comemora o Gol de Barriga mas duro mesmo foi ter ficado lá até o fim do jogo. E somente esse resgate é capaz de levar o Flu aos títulos tão ansiados. Mas é bom que se diga: só falar de camisa e história não vai levar a nada. Precisamos de mais do que isso, e em campo.

Para ser mais simples e direto: não estamos jogando nada e na única decisão que disputamos neste ano, fomos amassados feito paçoca. É isso que preocupa muita gente tricolor. Porém, chegamos até aqui e, para quem nem tinha chance de sequer entrar na festa, já dá para sonhar em beijar a garota mais bonita do salão, por mais ilógico que pareça e aqui não se trata de contradição, mas apenas pontuar que torcer não pressupõe lógica necessariamente.

Às vezes acho que há certa supervalorização de alguns nomes no time, e que esperamos sempre mais de quem chegou ao seu limite. Há muitas variáveis em jogo, lógico, mas vamos lá: temos um excelente goleiro, um ótimo miolo de zaga e o grande problema em equilibrar bons e jovens jogadores do meio para a frente, isso para dar suporte aos veteranos que, honestamente, não deveriam jogar 90 minutos de nenhuma partida.

O treinador é fraquíssimo. Praticamente uma máquina de bobagens pernósticas.

Será que vai dar para chegar até o fim assim?

Se fosse uma ciência exata, sinceramente não dava mesmo. Ninguém veria esse time tricolor tirando duas notas 7 para passar direto na faculdade. Só que não é. Ufa!

Só nos resta torcer. À essa altura dos acontecimentos, Roger não vai mudar seus (péssimos e esdrúxulos) conceitos de jogo (porque está obtendo os resultados) e ver as partidas continuará a ser uma agonia para quase todos nós. Mas vamos torcer paca e desafiar a lógica permanentemente. Diria Edinho, velho de guerra: “O time é esse aí”.

Passar pelo Barcelona talvez seja menos difícil do que pelo grande rival numa eventual semifinal que mexeria com o continente. Só que agora não significa nada além de suposição: nós não nos classificamos, nem eles. É no campo. Ainda falta o campeonato começar de verdade para o Fluminense, que significa trocar a condição de figurante bem comportado pela de um dos verdadeiros candidatos ao título, e a hora é agora. Semana que vem já temos disputa. Nós precisamos lutar muito para passar; eles vão passar.

A gente sabe das muitas dificuldades, dos problemas, das limitações, das pavonices, de tudo, mas futebol é sonho, é fantasia e paixão. Isso tudo bate em nossos corações mesmo que a visão e a audição revelem outras palavras. Eu queria muito me sentir como nas vésperas de 1983, 1995 ou 2010, mas não estou conseguindo ainda, o que não quer dizer que não pense nisso o tempo todo, escrevendo às cinco da manhã feito agora. É preciso sonhar e não ter medo, mas também não se desapegar da realidade e saber dosar as esperanças. Quando se é mais jovem, tudo é mais fácil: você tem certeza de que o Assis vai fazer o gol no último minuto ou que o Renato vai marcar de barriga – até o Sheik, até o Nildo ou o Roni. Mas agora prefiro me abraçar no infinito com nosso Belchior por um mísero instante: “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.

Seis da manhã, talvez. É hora de dar um último cochilo antes do trabalho. Ok, também disse o poeta que viver é melhor que sonhar, e que o amor é uma coisa boa. Amemos, pois. Tenhamos grandes dias neste agosto ainda frio, numa cidade destruída mas que ainda tem bunkers com três cores de glória.

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Este é meu décimo-sétimo livro sobre o Fluminense. Chama-se “Roda Viva 5 – os nenses”. Está disponível para download gratuito, basta clicar mais abaixo. O próximo tem previsão para o primeiro trimestre de 2022.

Importante dizer que este PANORAMA TRICOLOR tem um compromisso inalienável com o Fluminense e sua história, sendo o maior sítio de produção digital própria e independente dentre os grandes clubes do futebol brasileiro. Há quem deboche disso, mas apenas por recalque ou ignorância, o que no fundo significam a mesma coisa.

Muito obrigado pela leitura e atenção. Que seja um dia de paz.

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Meu respeito e apreço a todos os atletas que, conquistando medalhas ou não, estão lutando nas Olimpíadas. É fácil falar, o difícil é chegar lá.

E só para constar: Fernanda Garay é maravilhosa.

2 Comments

  1. Andel, o flu sempre foi pioneiro, vanguarda. Penso que deveríamos inovar e criar um conselho técnico, pra dialogar, cobrar e traçar metas e estratégias junto ao treinador e não ficarmos refens de treinadores mediocres como o Roger. O que você acha? Dá pra ampliar a idéia? Eu te indicaria e o Savioli e me sentiria representado. ST…

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