Branco é paz e harmonia (por Eric Costa)

eric costa 13 09 2014

Você voltou.

Sempre te vi muito além de um simples material ou ingrediente a mais em nossa festa. Há um quê de entidade quase metafísica em sua apresentação e forma plástica indeterminada.

Decisões de justiça, eu sei, por vezes são mais voláteis que as nuvens por você formadas. Por não poder fugir da materialidade regente do universo humano do qual depende, sua presença física está dependente da (in)sensibilidade dos que em várias ocasiões tiram além de você diversos outros elementos do estádios e conferem ao torcer limites divergentes ao futebol em essência, na sua mais plena simplicidade e espontaneidade, esta que é a sua sofisticação mais essencial e necessária.

Na minha infância, pouco o vi. A cada dia que meu lado torcedor fazia-se mais intenso, sentia certa frustração em saber que, por idiotas da objetividade, sua presença era mal vista e impedida logo no ambiente que faz de tão desiguais repetirem as mesmas frases e serem todos iguais: a arquibancada. Contigo, percebi ainda mais quanto ser tricolor é transcendental a uma veste ou substantivo: me espantava como  tantos, de outras bandeiras e escudos, sentiam-se indiferentes à saída e proibição crescente de os elementos de festa deles, ainda que nenhum se comparasse à nobreza e intrínseca tradição que você traz.

Ser tricolor é singular e diferenciado. Nós somos, cada um, gota de água neste rio de fluxo direcionado à eternidade, mas cada tricolor, além de irradiação específica, tem na simplicidade dentro deste rio uma coadjuvação protagonista, cercada e envolta de poesia. Você, veja só, talvez seja justamente isto: como uma nuvem e um véu, cobre os  tricolores como versos e os faz mais líricos do que já são.

Ah, pó-de-arroz, quantas vezes não preciso escutar certas coisas sobre o seu surgimento, hein? Sim, porque você como material talvez seja muito mais duradouro do que os mais de cem anos que constituem sua vida poética. Arriscaria, porém, dizer que você de fato apenas passou a existir depois que Carlos Alberto, naquele gesto tão espontâneo e aguerrido, te aplicou na pele com ímpar coragem e determinação para poder nos representar em uma sociedade cujas instituições – e não apenas o Fluminense – tinham conceitos incutidos por um inevitável passado colonial e escravocrata, cujas raízes, exageros midiáticos e circos criados à parte, ainda vêm à tona nos dias atuais.

De um ou outro estádio, te privaram da presença física. Digo, porém, que no estádio cujo cada degrau, vitral, detalhe ou baliza traduzem intrínseca tradição e história, sua nuvem nunca se esvaiu. Mesmo em momentos de tempestade, das várias nuvens pesadas e com as quais tanto deveríamos aprender, você sempre esteve ali como uma nuvem eterna, não tradutora de outros valores que não a sobretudo a paz, esperança e vigor, valores a partir dos quais ressurgimos de cada crise sempre envoltos na magia do que traduz.

Aquelas nuvens vistas de nossas arquibancadas e que envolvem o Cristo? Você não precisa me dizer. É sempre você ali, vendo tudo de cima e em boa companhia pra dar ao Fluminense o imponderável que tantas vezes decidiu jogos por nós.

Você é material, mas tem toda a nobreza da imaterialidade, com a engrandecedora humildade de se curvar ao ato de ser jogado e atirado em meio a um misto de sentimentos para que ganhe a função e a estética eterna, plástica e inconfundível.

Hoje, você está de volta às arquibancadas. E sabe aquela história da arquibancada fazer de tão desiguais todos iguais? Vou ter o prazer de me sentir assim. Vou ter a nobreza de me sentir tão nas nuvens como Nelson, Castilho e Ézio. Serei, como todos somos, tão capazes em influenciar o destino das batalhas quanto cada um deles.

Que o seu branco seja a paz e harmonia que tanto pode faltar a alguns que nos representam.

Saudações tricolores.

Grande abraço.

Panorama Tricolor

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