Bota um ponta, Telê (por Thiago Muniz)

 

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Meu caro amigo tricolor,

Quem tem mais de 40 anos e tinha o hábito de assistir ao programa de humor do Jô Soares, chamado “Viva o Gordo”, com certeza lembra de um personagem que se comunicava num orelhão (telefone público) e simulava uma conversa com Telê Santana, então treinador da Seleção Brasileira (começo dos anos 1980) sobre a colocação de um ponta na equipe.

O famoso bordão “Bota um ponta, Telê!” virou febre à época de uma bela seleção para disputar as Copas de Mundo de 82 e 86, Jô Soares já era um excelente humorista em programas diversos da Rede Globo.

Jô  referia-se às mudanças táticas que os “professores” começavam a introduzir em suas equipes. Desapareceu a figura dos pontas na esquerda e na direita. Surgiram os segundos volantes. A verdade é que as figuras dos pontas correndo nas laterais até a linha de fundo e centrando a bola para os meias e os centroavantes estufarem as redes acabaram.

Não existe mais. Todo mundo é volante, cuja função não é bem definida. Quando o sujeito não tem qualidade técnica, apresenta-se como volante, tipo de jogador que fica zanzando no meio do campo, correndo para lá e para cá, de preferência sem a bola.

Os laterais passaram a substituir os pontas. Mas laterais de qualidade também não existem mais, porque necessitam de resistência, jovialidade e técnica.

Historicamente a posição de ponta é quando o jogador que desempenha esta função atua como um atacante pelos lados do campo, normalmente perto da região do escanteio. Por esse motivo, pode atuar tanto pelo lado direito quanto pelo lado esquerdo, sendo chamados, respectivamente, de ponta-direita e ponta-esquerda.

O ponta tinha a função de acelerar a cadência de jogo, seja numa armação quanto um contra-ataque. Normalmente eram jogadores velozes e com boa capacidade de leitura de jogo.

Com a chegada de Ronaldinho Gaúcho ao elenco tricolor, eu vejo a possibilidade de resgatar a imagem dos pontas, vide que essa lacuna ainda não foi preenchida desde a saída de Wellington Nem, que a desempenhou bem em 2012. Enderson Moreira pode explorar bem a velocidade de Osvaldo, jogador vital e lúcido quando avança do meio-campo ao ataque. Caso Gerson ainda jogue, também.

A figura dos pontas faz com que os laterais adversários fiquem presos com a marcação e não avancem ao ataque. Permitiria que Ronaldinho e Cícero tivessem opções para armar as jogadas. Marcos Junior também é um ótimo jogador que pode ser lançado nos lados do campo.

O que quero dizer é que, para não armar um meio-campo travado, jogar pelos lados é uma opção válida para o esquema tático tricolor, visando municiar Fred e Wellington Silva, criar jogadas de contra-ataque efetivas e isso se materializar em gols e vitórias.

Criar alternativas de jogadas faz embaralhar o esquema tático adversário e esmagar a defesa com as variações de jogadas de uma ponta a outra.

O time do Fluminense precisa de mais velocidade, além de cadenciar o seu meio-campo para infiltrar com consciência na defesa adversária.

Como um trecho da música “Ponta de Lança Africano”, de Jorge Ben Jor:

“… Pula pula, cai, levanta
Sobe desce
Corre, chuta, abre espaço
Vibra e agradece
Olha que a cidade
Toda ficou vazia
Nessa tarde bonita
Só pra lhe ver jogar
Umbabarauma, homem gol…”

Por isso eu falo: “Bota um ponta, Enderson Moreira!”.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: arte

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