Até quando vamos suavizar as falhas de Fábio? (por Paulo-Roberto Andel)

A vitória do Fluminense sobre o Cruzeiro foi importante, e pode ter sido decisiva para a classificação na Copa do Brasil. No entanto, o placar mínimo causa preocupação por um motivo óbvio: a volta será o jogo do ano para o time celeste, que lotará o Mineirão e, por mais que tenha um time inferior ao do Flu, tem tudo para fazer uma enorme pressão. Ok, é sempre melhor ganhar de pouco do que não ganhar, mas parece consenso que o Flu poderia ter feito melhor no marcador para se garantir.

Apesar de jogar com um homem a mais durante boa parte do jogo, o Fluminense perdeu parte do tempo se recuperando do gol de empate, ocorrido única e exclusivamente por mais uma falha do goleiro Fábio. Não adianta terceirizar culpas, jogar a bomba na defesa etc: o escanteio que originou o gol foi grotesco e, por mais que houvesse alguma desatenção e a cabeçada tenha sido forte, o canto do goleiro estava simplesmente vazio porque ele já estava no chão.

Longe de satanizar pessoas, todos devem reconhecer que Fábio foi um dos melhores goleiros brasileiros deste século XXI. Teve uma carreira espetacular no Cruzeiro e só bastidores inglórios podem explicar sua ausência da Seleção. Aqui falo de fatos.

O problema é que o planejamento narumbleiguer do Fluminense, o mesmo que contratou Crisdassilva e renovou com Wellington, fisgou o praticamente ex-goleiro à última hora, buscando experiência e segurança na posição, ainda que o Flu dispusesse do goleiro mais regular do Brasileirão 2021, Marcos Felipe, acusado de “não pegar pênaltis”. Por jogar no Cruzeiro, temporariamente afastado do grande cenário nacional e continental, Fábio naturalmente jogava com menos exigência do que Marcos Felipe no ano passado, mas pesaram o nome e a trajetória. Só que futebol é momento: se assim não fosse, o Fred de 2012 seria titular vitalício do Flu.

A barração de Marcos Felipe por decreto pareceu tão constrangedora que Mestre Abel tirou um coelho da cartola: Fábio jogaria a pré-Libertadores enquanto MF disputava o Carioca, num revezamento que não acontecia no Fluminense desde 1982, quando algo semelhante aconteceu com Paulo Goulart e Paulo Victor. A medida pode ter amenizado o clima no vestiário, mas revelou-se um desastre em campo: enquanto MF fazia uma excelente Taça Guanabara, Fábio se tornou o “melhor goleiro do Brasil” ao pegar um pênalti (mal cobrado) contra o Audax. Depois repetiu a dose contra o Millonarios de Bogotá. E parou por aí.

Confuso, sem o tempo exato de bola, entregou um dos gols mais bizarros da história do Fluminense diante do Olímpia. Ok, acontece. Todo goleiro falha. Veio o jogo da volta e, com a derrota nos 90 minutos, o pegador de pênaltis simplesmente não saiu nas fotos das cobranças, escolhendo cantos para pular, fruto de visível insegurança para quem sempre esperou as cobranças. O Flu fracassou, foi arremessado para a Sul-americana e ejetado da competição continental a seguir.

Por decreto absurdo, Fábio virou titular na decisão do Carioca. Felizmente não comprometeu desta vez, até porque o Fluminense foi absoluto nos dois jogos finais. Mas as falhas voltaram no Campeonato Brasileiro. É difícil ver uma partida onde não se enrole jogando com os pés ou não tenha algum salto atrasado, saudado por narradores como uma “defesa espetacular”. Sua partida contra o Atlético-MG foi desastrosa, mas a goleada sobre o time mineiro varreu a questão para debaixo do tapete. Saltou atrasado contra o Goianiense no gol que decidiu a partida. E ontem mais uma vez teve um desempenho extraterrestre. Em vários desses lances, constrangida com o excesso de elogios dados ao goleiro desde que chegou, parte da torcida do Fluminense faz silêncio, ameniza e passa pano de maneira inacreditável a cada nova falha. Um simples tapa na bola, ou um toque com o pé, e muitos explodem como se a jogada tivesse sido feita por Félix, Wendell ou até o maior de todos: Castilho.

O maior problema não é discutir se os erros saíram caros para o Fluminense – os da pré-Libertadores, com certeza -, mas o quanto ainda poderão custar com a insistência num goleiro que teve uma grande carreira no futebol, mas que infelizmente chegou ao fim dela na descendente. Não, Fábio não é o melhor goleiro do Brasil atualmente. Não é sequer do Rio. Hoje, neste momento, só joga com o nome e com a benção do Time Francis Melo. A insegurança é nítida a cada recuo de bola, deixando apavorados os que já viram parte da longa escola de grandes goleiros da história tricolor.

Por fim, o profissional merece todo respeito, mas o Fluminense também.

Se parte da torcida não aceita Marcos Felipe por piti, e descartando qualquer possibilidade de recuperação de Muriel, que se traga outro goleiro.

O que não dá é ver a tempestade alagando a rua e relatar um lindo dia de sol.

3 Comments

  1. QUANDO O MARCOS FELIPE ESCALADO POR ESSE INACREDITÁVEL TÉCNICO DE LABORATÓRIO A QUERER OBTER RESULTADOS DIFERENTES QUANDO MAIS DO MESMO NOS IMPONHA ASSISTIR PRAGUEJANDO…

  2. Apostei muito em Fábio mas a minha decepção hoje é maior do que foi a minha esperança quando ele chegou ao Fluminense. Hoje paro literalmente de respirar quando a bola se aproxima da área tricolor e entro na fila dos que pedem uma nova oportunidade para o Muriel, assim como acho q a diretoria tricolor deve se mobilizar urgentemente em busca de um grande goleiro no mercado nacional ou fora dele.

  3. Eu concordo.
    Confesso que a composição do atual elenco do Fluminense me deixa confuso quanto à capacidade gestora dos nossos mandatários.
    Respeitosamente, acho que não conseguiram entender o gigantismo do tricolor.
    Isso para não pensar coisa pior.
    ST

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