O Fluminense do Odair, apesar do Odair (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, enfrentamos na tarde deste domingo o Bahia do boquirroto Mano Menezes, que foi um espetáculo à parte, embora pelo lado negativo.

Mano parece ter enxergado uma conspiração da arbitragem para entregar a vitória ao Fluminense e prejudicar o Bahia.

Sobre isso, houvesse realmente essa orquestração, o VAR poderia ter orientado o árbitro a marcar o pênalti, na minha visão inexistente, no lance em que a bola bateu na mão do jogador do Bahia no primeiro tempo.

Se Mano tem do que reclamar, é da péssima decisão de seu defensor, que cometeu pênalti infantil em Nenê, dando-lhe um tranco por trás, quase dentro da pequena área, num lance lateral, que poderia ser interceptado, mais à frente, pela cobertura.

O Bahia não me parece um time talhado para brigar contra o rebaixamento e Mano até organizou melhor os fundamentos defensivos da equipe, mas ofensivamente o Bahia foi praticamente nulo durante quase todo o jogo.

Méritos para o trabalho de Odair Hellmann, que conseguiu devolver ao Fluminense, no jogo de ontem, a solidez defensiva, que vinha sendo sua principal característica nos melhores momentos da temporada.

Não bastasse isso, o Fluminense sempre foi mais perigoso ofensivamente, com atuação surpreendente de Pacheco, que, se não foi regular em sua apresentação, mostrou-se produtivo, com duas jogadas individuais que quase terminaram em gol, tendo, numa delas, a bola carimbado caprichosamente a trave direita de Douglas.

Não, o Fluminense não foi brilhante, apenas teve o controle do jogo e mereceu a vitória pelo volume ofensivo e defensivo superior ao do Bahia. Mesmo um 2 a 0 não teria sido injusto, pelo que produzimos.

Odair, buscando aproveitar o que ele entende haver de melhor no elenco do Fluminense, criou um sistema tático bastante funcional. O Fluminense, que se defende no 4-1-4-1, atuou em sua transição ofensiva numa espécie de 3-4-2-1. Dodi naturalizou-se como uma espécie de terceiro zagueiro, atuando recuado na proteção a Digão e Nino.

Era um posicionamento que eu queria ver há algum tempo. Como é muito ágil e combativo, a mim parece ser o cara que pode vingar nessa posição, dando a segurança defensiva de que precisamos e até viabilizando soluções mais agressivas lá na frente.

Os laterais apoiaram dentro de suas características, de forma coordenada com a dupla de criação por dentro, formada por Yago e Hudson. Muitas vezes, Hudson se infiltrava pelo lado direito e Yago pelo esquerdo, recebendo o apoio ora dos laterais, ora de Nenê e Pacheco.

O Fluminense não tinha uma movimentação óbvia. Num dos lances de melhor construção ofensiva do primeiro tempo, Julião fez a diagonal para o meio e pegou a defesa do Bahia de calças na mão, dando um passe por dentro da última linha, que acabou mal aproveitado por dois companheiros que se atrapalharam, sem saber quem ia na bola.

Muitos esperavam que o Fluminense fosse atuar no 4-2-3-1, com Nenê centralizado, Pacheco pela esquerda e Yago pela direita. Não foi o que aconteceu. Nenê e Pacheco atuaram mais próximos a Fred. As duas grandes jogadas de Pacheco, não sei se os amigos observaram, foram feitas por dentro. No primeiro tempo, Julião, agora pela lateral, atravessou uma bola para a entrada da área, encontrando Fred, que deu um passe curto, na verdade uma ajeitada, para Nenê chapar no canto de Douglas, que fez grande defesa.

Essa foi a dinâmica do Fluminense até marcar o primeiro gol, ponto do jogo em que já incomodava a demora de Odair em mexer no time, mesmo com Fred já se arrastando em campo e o Fluminense já com dificuldade de criar jogadas, namorando com um 0 a 0.

O problema é que, de uma só vez, Odair sacou da cartucheira Caio Paulista e Felipe Cardozo, tirando Fred e Pacheco, que talvez estivesse cansado, pois correu muito durante a partida e nos deixou com muita esperança de dias melhores para o seu futebol.

A mim parece incompreensível que, com Luis Henrique e Marcos Paulo no banco, Odair ainda recorra a esses dois cavalheiros como alternativa imediata no banco de reservas, assim como continua me parecendo estranho que não se busque no Sub-23 e no Sub-20 peças capazes de dar opções no comando do ataque. Teremos agora que aguardar e torcer para que Lucca possa ser aquele da Ponte Preta no Fluminense.

A grande verdade é que Fred não pode ser titular de um time que vise resultados ambiciosos no Campeonato Brasileiro. E precisamos ser ambiciosos, porque é a única competição que nós resta e, consequentemente, nossa última chance de ganhar um título na década.

Eu sempre tenho medo de analisar as soluções de Odair, porque ele é seu grande auto-sabotador. Tanto é assim, que só resolveu tirar Nenê, que estava morto em campo, para colocar Luis Henrique, em vez de fortalecer o meio de campo. O resultado é que ficamos com três atacantes em campo, supostamente velozes, que acabaram se contentando em correr atrás dos adversários, porque o Fluminense conseguiu atrair o Bahia para as imediações de sua área, colocando uma vitória controlada em risco.

Para piorar, Odair ainda tira Yago, a mente mais lúcida do meio de campo, para colocar um zagueiro, Lucas Claro. Aí foi que o Bahia partiu com tudo para colocar nossa vitória em risco, mas parece que os Deuses estão mais zelosos com o Fluminense e o pior não aconteceu.

Com isso, estamos na quinta posição, a seis pontos do líder e a três do vice-líder do campeonato. Lembrando que pegaremos o Atlético MG na próxima rodada e, em caso de vitória, reduziremos a distância da liderança para três pontos.

Acredito que Odair tem uma nova base para ser aprimorada. Para dar um pouco mais de consistência a esse sistema, eu apenas trocaria Hudson por Michel Araújo. Não perderíamos em qualidade no combate no meio de campo, acho até que melhoraríamos, e ganharíamos força ofensiva, já que Michel arma e finaliza. Pode fazer uma dupla realmente forte com Yago.

Eu também tiraria Fred na partida contra o Atlético, pois tende a ser uma peça nula, já que o jogo será disputado na nossa intermediária e precisaremos de atacantes velozes. Eu optaria por Pacheco e Marcos Paulo fazendo dupla de ataque, buscando explorar o posicionamento avançado das linhas defensivas de Sampaoli. Eu até tiraria Nenê do time para colocar um terceiro zagueiro, pois o time do Atlético ataca com muitos jogadores entrando na área.

No lugar de Danilo Barcelos, suspenso, eu experimentaria o Luis Henrique, que é muito habilidoso e pode ajudar a quebrar a marcação alta do Atlético, inclusive podendo explorar o corredor lateral em jogadas rápidas de contragolpe tricolor.

Ficaria assim: Muriel; Nino, Digão e Lucas Claro; Dodi; Julião, Michel Araújo, Yago e Luis Henrique; Marcos Paulo e Pacheco.

Se Araujo não puder jogar, eu iria de Ganso. Embora não tenha o mesmo dinamismo, é um jogador que pode qualificar nossos contragolpes com passes mais agudos.

Vale lembrar, ainda, que os três times que derrotaram o Atlético marcaram os 90 minutos no último terço do campo, sempre congestionando a entrada da área. Então, a dica é marcar atrás da linha da bola, tipo num 5-5 ou 5-4-1, buscando a saída em bloco com a posse de bola.

É claro que isso não passa pela cabeça de Odair, mas eu acredito ser a melhor forma de enfrentar o líder do campeonato. Até consigo visualizar a partida com o Galo, que estará ainda desfalcado, em péssimos lençóis.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

#credibilidade

3 Comments

  1. Savioli, suas análises tática e são até interessantes, mas pecam, a meu ver, por um aspecto prático. Você acha mesmo que um treinador de caráter conservador vai, sem tempo pra treinar, realizar uma tão profunda alteração tática no sistema de jogo, colocando um terceiro zagueiro e um atacante de velocidade? Não basta simplesmente distribuir peças e mudar sistemas. Isso não é PlayStation! Os jogadores precisam treinar, praticar a movimentação, saber ao de o outro vai estar. Basta ver como o time…

    1. Concordo contigo Luiz. Inclusive, eu até jé comentei essa questão da falta de tempo para treinar e viabilizar mudanças táticas, mas o Odair já teve tempo de sobra para treinar alternativas táticas, embora eu nem ache que sejam tão radicais.

      1. No caso específico do jogo de quarta, acho que é questão de criar um caminho para vencer o jogo. De resto, eu já me contento com a troca do Hudson pelo Michel Araújo, sem mexer o esquema atual, que eu acho interessante e até elogiei.

        ST

Comments are closed.