Antes que seja tarde (por Paulo-Roberto Andel)

Escrevi o tweet acima logo após o jogo de quarta. A meu ver, depois de tudo que aconteceu em campo, parecia claro que o Fluminense não apenas se safou de um desastre, mas também saiu fortalecido da partida. Afinal, o Inter tinha um homem a mais durante todo o segundo tempo, mas não prevaleceu no placar.

Importante dizer: o tweet foi escrito antes da coletiva de Fernando Diniz.

De qual desastre o Fluminense se safou? O de ter tomado uma goleada no primeiro tempo, por conta da escalação não menos desastrosa. A atuação espetacular de Fábio e a sagacidade de Ganso (mesmo mal) impediram pelo menos três gols colorados nos 45 minutos iniciais. Um jogo que lembrou muito a decisão da Taça Guanabara, onde o Flamengo também perdeu uma tonelada de gols mas o Flu acabou virando a partida.

Há tempos, o equilíbrio do time tricolor tem sido garantido pela rapaziada vinda da base, especialmente André, Alexsander e Martinelli, este inacreditavelmente subestimado por lendas do Boitatá tricolor. Com o trio, junto ou revezado, o Flu garante força e oxigênio para sustentar as grifes Ganso, Marcelo e até mesmo o pret-a-porter de Sir Felipe Melo (de quem falarei em breve).

Cada um de um modo, Ganso e Marcelo são jogadores acima da média, capazes de decidir um jogo num lance, mas com limite de tempo e funções. Juntos então, exigem muito mais da solidariedade do time para que a estabilidade se mantenha. É difícil imaginá-los juntos no meio por 90 minutos, a não ser diante de adversários humílimos. Some-se a isso (mais) uma atuação desastrada de Felipe Melo e ploft: o Fluminense correu sérios riscos.

A goleada felizmente não aconteceu, Fernando Diniz modificou a equipe e, apesar de ter levado a virada, conseguiu empatar o jogo mesmo com um homem a menos – Samuel expulso. Com um pouquinho de sorte, poderia até ter virado o jogo no final, mais na base da garra e atitude. Neste cenário, considerei que psicologicamente o Flu saiu melhor do Maracanã.

Porém, a coletiva de Diniz causa no mínimo preocupação por valorizar a escalação inicial diante do Inter, nitidamente uma tremenda bola fora que pode custar muito caro ao Fluminense, a dois jogos de concretizar seu grande sonho no século XXI.

Fernando Diniz é uma das grandes revelações de sua safra de treinadores. Foi campeão carioca e poderia até disputar o Brasileirão, caso o Flu não tivesse desprezado a competição. Chegou à Seleção Brasileira. Seus méritos são indiscutíveis. No entanto, isso não quer dizer que seja Rinus Michels, Rubens Minelli, Parreira e outros. Ainda tem uma longa estrada pela frente, ao contrário do que pensa seu fã clube, às vezes calcado em hipérboles e realidades imaginárias. E nitidamente o treinador tem enorme dificuldade em reconhecer tanto falhas quanto palpites infelizes.

A Libertadores chegou a seu momento decisivo. É hora de lucidez e não de arroubos de vaidade. Em futebol tudo pode acontecer, mas muitas vezes o óbvio prevalece sobre o inusitado travestido de vanguarda. Numa hora tão importante para o Fluminense, não custa nada a Diniz se ancorar num dos grandes paradigmas tricolores: a humildade.

Embora muito perto de seu objetivo maior, o Flu ainda não venceu nada. Até quarta-feira, não nos esqueçamos disso.