Amores (por Paulo-Roberto Andel)

ingresso

TALVEZ minha noite de terça-feira ainda não tenha terminado, o que acho ótimo. Não tenho do que reclamar: ao contrário do que se poderia supor, estes têm sido dias de muita diversão para mim – pareciam tão difíceis, depois arrefeceram, ainda doem mas também têm calores e conforto. Deixei os problemas de folga, não pensei nas costas, fui assistir o divertido Robert Downey Jr – um dos grandes atores de sua geração – no novo filme do Homem de Ferro com meu amigo Leo. Depois não tive outra alternativa: à meia-noite sequestrei uma garota linda e doce de apaixonar num bairro próximo, com um nome também lindo em seu próprio prédio, gastamos horas agradabilíssimas de prosa, vários drinques (duas deliciosas caipivodcas que repetirei), depois a deixei sã e salva em casa, fiquei louco para revê-la e achei que o tempo correu muito depressa. Um táxi e as veias abertas da Cruz Vermelha, ainda com tempo de ouvir “Gimme Shelter”. Nada mais apropriado. O fim da linha aconteceu às cinco da manhã.

ENTÃO veio o relógio marcando sete e meia, meu corpo todo doído, sem maiores chances de corrida e sono. Os Rolling Stones voltaram a tocar na vitrola eletrônica. Mais uma hora para tentar relaxar e ponto: era preciso estar em Laranjeiras e comprar meu ingresso para a final da Taça Rio. Mais um táxi e o desafio.

Cheguei antes da hora. As garotas que fazem o atendimento aos sócios são todas lindas e delicadas, parecem espelhos da camisa do Fluminense, ainda montavam mesa e computador para que fosse feita a venda – uma delas, um doce, a mesma no dia em que Caldeira teve seu cartão de sócio em pane em São Januário – sim, ela parece com nossa bela cronista – e tem jeito de jornalista da PUC. Antes disso, o clube vazio neste feriado do trabalhador. Nelson Rodrigues e Castilho, estátuas imortais na entrada. O segurança devia ter uns três metros de altura e cinco de largura, mas numa gentileza enorme. Nós somos assim. Uma senhora chegou logo depois e compraria sete ingressos de sócio. Acabei sendo o primeiro torcedor do Fluminense a assegurar lugar para a final contra o poderoso e implacável Botafogo. Guardei meu ingresso com carinho, ele é um presságio. Meu coração se encheu de paz.

Tomei mais um outro táxi na Pinheiro Machado como se fosse o coração de Nova York e cruzei o eterno túnel de Santa Bárbara. Na saída do Catumbi, num instante revi os velhos letreiros de Pepsi e Crush pelos quais era apaixonados, tudo em lâmpadas, era coisa de 1973 ou quarenta anos atrás. Sim, éramos campeões contra a Gávea mais uma vez. Depois, a Cruz Vermelha de volta – veias, veias abertas e lágrimas incessantes. Hoje é quarta-feira, eu já penso no Fluminense de domingo e amanhã tem Libertadores, num momento crucial. Os jornais querem degolar Deco. O Botafogo é poderoso, forte, imbatível, tem uma colossal vantagem e só não será campeão antecipado por um milagre. O Emelec é uma potência e passou a ser o time favorito a passar de fase na Libertadores.

Sempre foi assim.

E a história sempre ensinou o lugar das coisas e gentes.

Mas o que é tudo isso diante de meu amor pelo Fluminense? Nada. Nem a distância para o Equador ou o caminho da Rio-São Paulo.

É claro que temos compromissos importantes, momento de decisão. Mas isso não traz medo ou preocupação. Na verdade, ressalta o amor pelas cores, pelo time, pelo clube, a permanente jornada em busca da próxima partida, a próxima viagem, a nova namorada. O amor em todos os campos e praças, na lona, na ribalta, no palco e no gramado.

Neste exato momento, onze da manhã, eu sinto a mesma alegria em ter um ingresso para ver um jogo do Fluminense que tinha naqueles tempos dos letreiros de Crush e Pepsi. E lá se foram quarenta anos. Eu, insone, e meu coração que é uma granada sem pino – e o pino é meu ingresso para Volta Redonda. E o amor, hein? Intacto. Daquele mesmo jeitinho de criança tentando entender as cores e os sabores do mundo.

Os clássicos são eternos.

Haja o que houver, os amores também.

Sempre.

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

8 Comments

  1. Resumindo: O Fluminense está sendo covardemente roubado na questão das cotas de TV, o Fluminense não está sendo remunerado de acordo com a audiência (que dá o retorno financeiro à emissora) que o Fluminense proporciona à TV.

  2. Gente, isso é muito importante, porque o vasco está no escalão 2 das cotas de TV e o Fluminense no 3? Observem os números dos times dos Rio em audiência, o Fluminense tem quase os mesmos números do framengo, e diferença nas cotas de TV entre ambos é brutal, isso é completamente inadmissível.

    atlético, grêmio e internacional tem torcidas regionalizadas, os times do Rio e S. Paulo tem torcidas em qualquer estado do país, além disso, os números de audiência que interessam ao mercado publicitário são os de RJ e SP, Fluminense e botafogo são os 2 únicos times do eixo RJ-SP que não estão inseridos no bloco 1 ou 2, foram colocados no bloco 3, junto com times de torcida regionalizada.

    http://globoesporte.globo.com/platb/teoria-dos-jogos/2013/04/29/um-bate-bola-expandido-as-audiencias-no-rio-de-janeiro/

  3. Você, por acaso, sabe que horas começa a venda dos ingressos amanhã?

  4. Brilhante, amigo tricolor!

    Essa parte é bacana: (…’poderoso e implacável botafogo’…)

    Domingo eles perdem o ‘lacre’! rsrsrsrs

  5. Obrigado por me acompanhar ontem no cinema mano!
    Mais uma missão cumprida!

    Braxx

    1. Andel: Leo, estamos sempre juntos. Sempre. Agora, no ar também. Isso dá uma ideia do que eu penso.

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