Ah, Thiago Neves… (por Paulo-Roberto Andel)

O primeiro ponto é dizer: Thiago Neves foi um jogador muito importante para o Fluminense nas temporadas de 2007 e 2008. Teve um pouco de tudo: arte, precisão, irreverência, injustiça, créu, dois contratos. É hora de muita gente entender a importância daquele período, ainda que o título continental tenha batido na trave. O final foi triste, mas a campanha foi espetacular e o Flu se tornou uma referência sul-americana, respeitado e admirado em todo o continente. Graças a Celso Barros, é bom que se diga.

Anos depois, Thiago Neves cumpriu com dignidade sua temporada em 2012, sendo campeão carioca e brasileiro. Não era a estrela principal da equipe, mas foi de uma utilidade tremenda com seus passes e bola parada. Ele é um dos grandes nomes do Fluminense no século XXI. O único jogador da história da Libertadores a marcar três gols na partida final. Foi um monstro.

Como o Fluminense atual alterna dias de Saramandaia com Odorico Paraguaçu, semana retrasada o presidente tricolor anunciou o “possível reforço” (já descartado) como se fosse o Voto On Line para as eleições nas Laranjeiras. Vejam bem: falamos acima dos destaques de Thiago Neves, sendo o mais recente há exatos dez anos.

Não há dúvidas de que o grande TN7 merece uma grande festa de encerramento da carreira, vestindo a camisa tricolor pela quarta vez. Merece e merece muito. Agora, qualquer coisa além dessa grande e merecida celebração não pode ser cogitada como algo sério – ou, pelo menos, não deveria ser para um clube que pretenda disputar títulos.

Thiago Neves já é um ex-jogador há anos, mesmo quando ainda insistia na labuta. Não tem mais o ritmo de competição profissional. É duro dizer, mas o tempo passou. Dez, catorze anos. No auge de sua forma, já era um jogador cadenciado, mais lento. Hoje, seu ritmo é incompatível com a dinâmica do jogo. Seu último grande jogo já fez três anos, quando eliminou o próprio Fluminense da Copa do Brasil de 2019. Está sem clube há um ano.

Não há a menor racionalidade em contar com seu futebol para uma disputa vigorosa como a da Libertadores 2023, isso se o Fluminense se confirmar nela, o que todos esperamos. E não há o menor desrespeito ao ex-jogador por isso. Trata-se apenas de discutir o futebol pela ótica da excelência.

Um dia, quando for reorganizado, o Fluminense voltará à América para ser campeão em vez de figurante. Neste dia, vingaremos a injustiça de 2008 e Thiago Neves será celebrado com todas as honras, como um rei, mas na tribuna. Ele merece todo respeito e nós, torcedores, também.