Agonia e amor (por Crys Bruno)

crys bruno green

O amor está acima de qualquer compreensão, prudência e até da mais humana sabedoria. A paixão, não. Ela é delírio, êxtase e prazer ou decepção, desânimo e angústia.

Nos últimos dias, entre a beleza dos festejos dos 114 anos e a atuação macabra do time na derrota de domingo passadoo, poucas vezes senti ambos com tanta intensamente em poucos dias.

O amor pela história da instituição, sua existência, a beleza de uma torcida e a referência de vida que o Fluminense representa em mim. E a paixão… Ah, a paixão, esse sentimento visceral e venenoso. Se o time vence ou está bem, a paixão é delícia; caso contrário, agonizante.

“Desde que eu nasci”, acompanhei o Fluminense com amor. Anos sim, anos não, com essa agonia da paixão. Desde 2013, assistir o time (tentar) jogar futebol é aflitivo. Desde 2013 que raríssimas são as atuações com a alma verde, branco e grená. Contamos nos dedos.

Já as atuações ridículas, pífias, peçonhentas, praticamente tornaram-se o cotidiano de um time cujos jogadores atuam com tamanha dificuldade para acertar um passe – para jogar futebol.

O treinador, sendo experiente como Levir, tal qual o perfil de Abel e Muricy, se comporta como um analista, um comentarista de TV, usando dessa máscara para se afastar dos problemas que os jogadores enfrentam, muitos deles gerados pelos técnicos. Ou, quando não, pela bola mesmo que atrapalha.

Lembro de quase morrer ao ver naquele timaço de 2008 um ex-jogador que exercia a função de técnico, Renato Gaúcho, escalar um segundo volante lento como atacante de área pela direita ao lado de outro centroavante fixo (Washington), tendo Leandro Amaral e Dodô como opções, e quase surtei de desespero.

Levir Culpi bateu o Renato. Levir, igualmente ex-jogador, é técnico. Profissão, inclusive, que concedeu a ele uma carreira bem sucedida. O que mais gosto no seu histórico é gostar de times ofensivos.

No entanto, independentemente desse perfil, Levir não pode ser diminuído ao patamar do Renato, do Enderson, do Eduardo Baptista, Drubscky. Por isso, é um espanto acreditar que ele escale um centroavante sem velocidade na ponta esquerda; um jogador de área ágil (Marcos Jr) de meia armador; o driblador para acompanhar lateral adversário na nossa defesa, quando este deveria jogar nas costas daquele; não determine um primeiro volante na proteção da zaga, sempre desprotegida e no mano-a-mano; não coloque o Cavalieri para sair do gol, etc etc e etc, e ache que a culpa seja só do cara que errou o passe para a lateral, para o lado ou que perdeu uma chance de gol. Porque não é!

Dos 999 reforços, a maioria contratada no desespero para tapar o buraco de nova montagem de elenco feita de forma irresponsável por amadores, poucos conseguirão entrar nesse time remendado e dar certo, embora creia que serão fundamentais para evitar que os atuais afundem o clube no Z4.

Com eles, igualmente, espero, desejo e torço para que Levir volte ao eixo, após se perder entre escalações desproporcionais – ora com três volantes, sem um armador; ainda sem armador e com três atacantes de área (Samuel, Marcos Jr e Richarlison), sacando sempre o único que tem a característica do drible, de ser o facão (Maranhão), para pôr em campo um rapaz que está sentindo o peso da pressão (Dudu) ou o Magnata com 40 anos para… nada! Porque o problema nelvrágico do time é ter um meio-campo que não marca, não passa bem, nem cria.

Nesse meio, Levir tem que definir se Douglas é o primeiro volante, jogador que se plante à frente da zaga, na entrada da área, o porteiro, o segurança, também tendo a função de cobrir Gum ou Henrique quando estes forem cobrir os laterais. Cícero não é meia armador nem primeiro volante. Pierre não tem mais o mesmo pulmão. Sendo Douglas esse volante, não pode se lançar feito um índio ao ataque, muito menos jogar com o único intuito de se mostrar um novo Toni Kross, Modric, Pirlo…

Levir não pode achar que Wellington Silva seja mais lateral que Jonathan. O primeiro tem gás de sobra, mas falha constantemente na marcação defensiva, o que não acontece com o segundo, muito, mas muito mais eficiente na marcação e com mais técnica.

Levir não pode achar que Dudu levará ou criará perigo ao adversário. Não pode. Não pode tirar o driblador do time, Maranhão, que tem mais condições portanto de criar uma situação para o centroavante finalizar, para colocar um jogador de 40 anos e esperar que ele resolva.

O time é um remendo malfeito por ele, que se perdeu mesmo com toda sua experiência – talvez a conquista da Primeira Liga tenha atrapalhado uma melhor avaliação sua.

Levir tem parcela de culpa, sim. Não tão alta quanto a do presidente Peter, nem de seu novo departamento de futebol; no entanto, não menor que a dos jogadores. Se o treinador está perdido mesmo, imagina o cabra das chuteiras. Até para vencer na raça é preciso um mínimo de organização e arrumação para o jogador saber o seu espaço.

O Fluminense é um time que não sabe jogar futebol e isso é grave. O vício de meter bola no lateral para ele cruzar ainda não foi vencido porque seu meio-campo é acéfalo, sem um armador, um criador, que não pode ser Cícero nem Marcos Jr.

O atual time do Fluminense é peçonhento. Levir está perdido. Os jogadores, mais ainda. Só espero que os reforços entrem assim que liberados, imediatamente. Vejo de titulares imediatos o Wellington Silva e Danilinho.

Tenho imensa dificuldade em crer que Henrique Dourado – como qualquer outro centroavante que lá estivesse ou esteja – consiga ver bola. Não à toa, Fred pegou o boné e se mandou. Inteligente, preferiu receber bola de Robinho, Pratto e Luan…

Assistir o Fluminense está desapaixonante. Prepare-se para sofrer, se chatear, se aborrecer com a falta de alma e de um mínimo de organização de time. Mas… lá está o amor e continuo assistindo, apoiando, torcendo, “dando dinheiro suado para esses caras”. Ah, o amor… Ele está acima mesmo de qualquer lógica ou sabedoria. Verdade, Larmatine:
“O Fluminense me domina. Eu tenho amor ao Tricolor”.

E sigo entre o desânimo e a agonia de ver contínuas atuações aflitivas e meu sublime amor por você, Fluminense. Que ao menos tocados pelos nobres ventos do sul, Levir e os jogadores honrem nossa camisa e suas histórias, trazendo a classificação, fazendo de Erechim a ponte para uma nova página até o fim do ano. Por que não? O Fluminense merece. Levir e os jogadores terão que fazer por merecer.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @CrysBrunoFlu

Imagem: onu

3 Comments

  1. As vezes tenho vontade de acrescentar algo ao seu texto, só não encontro o quê.
    Na mosca como sempre.

    Abç
    ST

  2. Uma analise sensata colocando os pingos nos ii…
    Levir bom técnico tem horas que lembra Cristóvao e horas que lembra um comediante nas entrevistas…

    A Bençao Joao de Deus.

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