Abel, Muricy e a defesa do indefensável (por Crys Bruno)

Abel Braga e Muricy Ramalho, este no programa “Bem, amigos”, após aquele jogão que foi o Fla x Flu, se apressaram na defesa da classe: “Sofremos um linchamento por conta dos 7 a 1”.

Nenhum linchamento é justo. O adjetivo foi exagerado; afinal, se teve alguém linchado foi o torcedor brasileiro, exposto mundialmente ao vexame.

Vexame que foi plantado também pelas sementes escolhidas sim pelos técnicos da geração Abel/Muricy, que chamo de técnicos brasileiros da geração Dunga.

Ao lado da invasão de jogadores de empresários sendo formados nas divisões de base só por preparadores físicos (cuja capacidade não inclui ensinar os fundamentos técnicos como passe e domínio de bola), foi a geração de Abel e Muricy muito responsável por essa queda brutal, assombrosa mesmo, da qualidade técnica do jogador brasileiro.

Começou com a derrota para a Itália em 1982. Jogadores talentosos, técnicos, começaram a ser trocados pelos de raça, para garantir um time comprometido, então, competitivo, como se tivéssemos perdido para a Itália de Bruno Conti e a França de Michel Platini porque nos faltou raça.

Volantes como Falcão e Sócrates foram trocados nos times por Alemão, Dunga, Emerson, Felipe Melo, Luiz Gustavo. Camisas 10 como Zico, Pita, Raí, Alex foram substituído por motorzinhos como Valdo, Mazinho, Zinho, Kléberson.

Sebastião Lazaroni foi o primeiro a ousar nos diminuir, na Copa de 1990. Parreira e Zagallo, sem poderem repetir o grau de mediocridade da Seleção de Lazaroni, com maior inteligência, foram campeões jogando como o “futebol europeu da Itália”: oito jogadores atrás da linha da bola, só três jogadores ofensivos (Bebeto, Romario e Zinho), contra-ataque rápido e mortal.

Não me venham agora se fazerem de injustiçados e criticar quem elogia o futebol europeu – e o coloca acima do nosso – porque foram justamente vocês,  técnicos brasileiros, que tiraram do campo nossa escola de jogo e colocaram a do velho continente para ser copiada, escola historicamente robotizada, em nome da disciplina tática e força física.

Nem me venham com historinhas, mascarando nossa queda técnica, nem citando Barcelona e Real Madrid. Não estamos nem devemos comparar o time grande brasileiro com os melhores times europeus e, sim, sobretudo, com nossos próprios times da década de 1980 até meados dos anos 1990.

Peguem dez clássicos jogados há duas, três décadas atrás e peguem os mesmos 10 clássicos disputados nos últimos dez anos e, aí sim, comparem. Precisamos de quantas partidas para assistirmos um jogo de qualidade como o último Fla x Flu?

E mais: parem de usar Barcelona, Real Madrid e Bayern, para desfocar e desqualificar o óbvio. Clubes pequenos e até médios da Europa jogam um futebol mais técnico que o dos nossos cinco, dez, doze clubes mais populares.

Ou os profissionais que trabalham no futebol brasileiro evitem mascarar a tenebrosa e horripilante queda técnica do nosso jogador e, assim, times, ou estaremos fadados à falência dos clubes porque a nova geração já dá sinais de preferir os jogos europeus – com razão, porque a maioria dos jogos aqui está uma porcaria -, e as próximas também seguirão a tendência se continuarmos com essa máscara e marra que nem um 7 a 1 desarmou.

Toques rápidos:

– Por que Danielzinho, que chegou a ser cogitado em troca por Wellington Nem há um ano atrás, nunca mais teve chances nem na Taça Rio deste ano? Mistérios do futebol…

– Horríveis os frangos do Cavalieri no último jogo. Como venho dizendo, prefiro Júlio César agredindo a bola, saindo do gol, mesmo que falhando às vezes, do que o Diego plantado feito goleiro de Totó.

– Nogueira é bom zagueiro. Falhou, mas acontece. Não se analisa futebol em lances, mas num todo. Por isso, eu já nem preciso ver mais o Reginaldo: pode reemprestar. Renato, também.

– Marquinho é benefício zero. O custo deve ser solidário, tipo faz-me rir também. Sem achar nenhuma graça fica o torcedor do Fluminense.

– Pelo estilo, para não mudar a característica e qualidade do meio-campo, Wendel ou Douglas (mais cascudo) deve substituir Orejuela. Se vier de Pierre, Abel vai “abelar” e perderemos em saída de bola e agilidade na cabeça da área.

– Clássico Vovô, 21:45h, quinta-feira. Haja promoção no ingresso!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @CrysBrunoFlu

Imagem: buc

4 Comments

  1. Oi, Crys
    Só não concordo com críticas exageradas a seleção de 90 do Lazaroni.
    Em 89 foi Campeão da Copa América, com Bebeto e Romário dando show no Maracanã.
    Mudou o esquema, jogou com 3 zagueiros, mas fomos eliminados pela Argentina, do Maradona e Canigia, em um jogo que, apesar do resultado negativo, foi quase um massacre da Seleção Brasileira.
    Um abraço

  2. Perfeito, Crys. Trata-se de uma geração de treinadores superestimados, que tolhem a capacidade técnica dos jogadores, em prol de seus mirabolantes esquemas táticos. Mas acho que essa tendência está começando a se reverter, o próprio Abel dá sinais de ter se reinventado, talvez daqui a alguns anos voltemos a formar jogadores mais talentosos.

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