A violência bateu à minha porta (por Claudia Mendes)

A classificação do Fluminense para a semifinal da Libertadores foi emocionante. Que jogo no Paraguai! Ganhamos na bola, na raça e na coragem. Numa noite em que todos os tricolores já começaram a fazer a contagem regressiva para a Glória Eterna. Não é uma contagem qualquer, simples. Faltam três partidas para a conquista do título inédito. Como vibrei! E como todos, comecei a contar mentalmente, passo a passo, o pouco que nos falta para a final contra Palmeiras ou Boca Juniors, em 4 de novembro, na nossa casa, o Maracanã.

Fui deitar, relaxada e feliz depois de tanto torcer. Mal sabia que a noite estava só começando. Minha única filha, tão (ou mais) apaixonada pelo Fluminense do que eu, manda uma mensagem: “Mãe, tô indo pro hospital”. Cabeça de mãe é um trevo, um labirinto louco quando se trata de um filho. Num início de madrugada, outro país, um caos se instalou. Eu tremia, chorava, tudo ao mesmo tempo. E pra completar ela demorava a contar o que tinha acontecido.

Parte da torcida do Olímpia, isso mostrado depois por fotos, Internet e TV, resolveu arremessar pedras e garrafas contra os tricolores presentes no Defensores Del Chaco. Dentre os alvos dos paraguaios estava minha filha. Por total falta de educação, respeito e desportividade, ela precisou de seis pontos acima da boca depois de ser atingida por uma garrafa.

Aos poucos ela foi me acalmando. Eu já tinha ido em questões de poucos minutos do paraíso ao inferno. Muitos dos nossos ajudaram. Algumas páginas e sites a entrevistaram e mostraram o ferimento. Mas o que confortar uma mãe desesperada? Só mesmo a palavra dela, me dizendo que estava sem dor e que eu me acalmasse. Muito difícil. Ela precisou ir para um hospital particular e, além do susto e da agressão, também precisou pagar pela ação desses vândalos. Esses mesmos que teimam em chamar brasileiros de “macacos”. Além de tudo, racismo recorrente nos campos de futebol. Triste e revoltante.

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Minha filha já voltou ao Brasil e, mesmo combalida pela violência, como grande tricolor que é, já adiantou que vai estar em Porto Alegre para a segunda partida contra o Internacional. Com um misto de temor e orgulho entendo que é um momento único para o nosso time do coração e que a violência não se limita a este ou aquele estádio. Este ou aquele país. Enquanto isso, ficamos reféns do medo. Mesmo com a nossa paixão pulsando mais forte em busca do título. E falta tão pouco…

O meu desabafo não é de um sentimento qualquer. É de uma mãe, também tricolor, que acredita no título mas quer, sobretudo, ver a felicidade bem longe do que se viu no Paraguai, sem qualquer tipo de punição.

Sei que muitos já falaram disso. No entanto, dessa vez doeu em mim, atingindo a minha parte mais preciosa, o meu tudo. Nem o futebol, nem o Fluminense, nem os torcedores merecem um cenário assim. E, infelizmente, todo mundo sabe que esses capítulos infelizes não terão fim tão cedo. E o mal é sempre a impunidade. Que assim como acaba com todos os setores da sociedade, é vilã também no futebol.

Agradeço aos que ajudaram minha filha, lembrando que poderia ter sido muito pior. Que o futebol um dia possa nos proporcionar o prazer de torcer em segurança. Ganhar ou perder faz parte do jogo.

1 Comments

  1. Claudia, infelizmente o futebol está cada vez mais difícil de ser assistido ao vivo. Na despedida do Fred, cheguei cedo e fiquei com meu filho, meu sobrinho e seus amigos no bar em frente à Sul. Bombas(cabeções) começaram a explodir em torno de nós. De repente, gás, fumaça e correria… Estava tranquilo, mas um garoto perto de mim, jogou uma garrafa na polícia e eu fui, imediatamente, atingido por uma “bomba de efeito moral”, que só na cabeça de imbecis tem efeito só moral. Queimadura de segundo grau na perna inteira…
    Fui ao primeiro flaxFlu da CB, porque meu filho insistiu, já que não ia a clássicos há muito tempo! (Baixaria total!). Na saída, confusão… caí, olho roxo, e ouvindo nossos “policiais protetores” gritarem: se achar que é torcida organizada, mete bomba!…. A “segurança” do estádio empurrou todos para fora, para a completa insegurança do entorno do Maraca, jogando todos nós aos…

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