A maior derrota não foi a do Beira-Rio (por Paulo-Roberto Andel)

Terminado o jogo e a surra – sim – que o Fluminense levou do Inter, já se sabia o que esperar da internet tricolor: patéticos passadores de pano e cabos eleitorais tentando uma Operação Abafa com mil tweets e textões chinfrins de Facebook (nem disfarçam a cópia). Os tricolores racionais não precisavam disso, pois sabem exatamente quais são os nossos pontos fortes e fracos.

Quem acompanha o PANORAMA já percebia a queda no rendimento do time, bem como nossa crítica principal: a conjugação dos interesses técnicos do Fluminense com o anseio dos empresários. Meu temor particular nessa estrada do Brasileirão era faltar gasolina perto do fim. Ainda temo.

Pois bem: com a desastrosa entrada em campo do ex-jogador Felipe Melo, o Fluminense perdeu de vez sua lucidez esportiva no Sul, que já não era muita. Não foi à toa que o Inter construiu o resultado em duas falhas bisonhas do cidadão (que se repetem por toda a temporada, mas são varridas para debaixo do tapete nas vitórias ou mesmo esquecidas, vide pré-Libertadores). No fim, ficou barato: com a bola na trave e o impedimento marcado, escapamos de uma vergonha histórica.

É bom que se diga: o ex-jogador Felipe Melo foi o principal responsável pelo nocaute levado pelo Fluminense, mas esteve longe de ser o único. Foi uma noite para esquecer.

O fato é que a bela jornada de 13 partidas de invencibilidade, cantada e decantada como a nova sensação da América do Sul, sempre carregou um tanto de fanfarronice consigo. Que o Fluminense passou a jogar um futebol bonito, é fato. Que a equipe melhorou muito com Diniz, é fato. Só que o campeonato brasileiro não é vencido por lampejos: trata-se de um rali de quase 40 jogos, onde os campeões sempre têm elencos de sobra, e não precisam priorizar a minutagem de veteranos para atender os desejos de empresários. Não precisamos ir longe: todos sabem da sorte que demos contra o Goiás, e que o Santos quase virou em cima da gente nos acréscimos.

O caso tricolor ainda é mais estranho porque, sabidamente, temos vários jogadores de boa ou ótima qualidade, que poderiam otimizar o banco de reservas e até mesmo o time titular, mas que são muito pouco aproveitados ou até desprezados em função de outros integrantes que, numa sacada genial de Edgard FC, chamamos de animais fantásticos. Às vezes, fingem que não é isso e, em uma ou outra furada, botam um Jhon Kennedy de forma protocolar. Você rifa jogadores promissores a preço de banana e contrata ex-jogadores com salários altíssimos e utilidade precária…

Estranho, não: estranho pra c@r@lho!

Contudo, que fique claro: a terra, embora abalada, não está arrasada. O futebol dá voltas em 72 horas, de modo que uma boa atuação diante do Fortaleza pode realinhar as coisas. Para isso, Diniz não precisa apenas dar esporro no time, mas agir de vez para que ex-jogadores como Felipe Melo e Willian Bigode não sejam alternativa para coisa nenhuma. Desnecessário falar de Wellington, Cris Silva e associados. O Fluminense precisa se recobrar rápido, em pleno voo, sem tempo. Só nos resta torcer. E que ninguém se iluda: o Fortaleza não venderá sua eliminação barato. Tudo remete a jogo duríssimo pela decisão de vaga nesta quarta. Não é partida para ex-jogadores com peito de pombo e pouca bola no pé. Resumindo: de onde menos se espera é que não vem nada, pérola do Barão de Itararé.

Já jogamos fora uma ida à Libertadores e uma disputa de Sula. Vão esperar perder o Brasileiro e a Copa do Brasil para perceber que não dá para ser campeão com ex-jogadores em campo? Quanto custa essas derrotas, somadas aos vultosos salários?

Apesar de tudo isso, entendo que a nossa maior derrota não esteve nos parágrafos acima, mas neste derradeiro. Que picaretas, puxa-sacos e oportunistas de plantão passem pano por conta de vantagens pessoais, é até compreensível embora abominável; agora, triste mesmo é ver gente boa compartilhando a estupidez da tese “Nossa, até parece que o Fluminense está na ZR…”, com deboche de raciocínio raso. O que fez parte da torcida se indignar é que o Fluminense, como time grande que é, tem que brigar pelo título brasileiro e não sentar no sofá do G4, conformado como um time de menor expressão. A derrota acachapante no Beira-Rio nos deixou a dez pontos do líder e isso é que irritou muitos tricolores, com justiça. Quem torce para o Fluminense precisa ter sede de protagonismo e não de figuração.

A mentalidade de se conformar como coadjuvante é a grande derrota deste domingo. De boçais da internet a panfleteiros pagos, passando por picocelebridades cômicas e um verdadeiro mercado persa da opinião, temos um grande grupo que atrapalha muito a reflexão sobre as coisas do clube, ainda que se estiverem todos numa festa black tie, é bem capaz do Chiquinho Zanzibar espiar o salão e dizer “Porra, isso aqui está cheio de ninguém”. De toda forma, todos estes têm prazo de validade, ao contrário do Tricolor.

Com nossos músculos e varizes, tatuagens e cicatrizes, vamos para mais uma decisão. Que a próxima quarta nada tenha do horror de domingo.

3 Comments

  1. E duro entra ano, sai ano, e os diamantes de Xerém sai vendidos a preço de banana. O Flamengo vendeu o Vinícius Junior por 45 milhões de euros, e só deixou o jogador viajar a Madrid 12 meses depois….aprendam com isto. Outra coisa, o FLA compra bem, enquanto o Flu compra cada bagaço da laranja todos os anos…e muito melhor aproveitar a prata da casa.

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