Fla-Flu, conexões perigosas e a luta pelo G16 (por João Leonardo Medeiros)

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Mais uma vez o Fluminense é achincalhado na imprensa num caso que envolve a justiça desportiva. O fato atual, basicamente um pleito do que julga ser (e é mesmo) seu direito na esfera desportiva, é associado magicamente pela grande mídia empresarial a episódios de natureza totalmente diversa. O propósito único aqui – hoje temos claríssimo – é mascarar os verdadeiros beneficiários de escândalos diversos de nosso futebol por detrás do eleito para representar o vilão: no caso, o próprio Fluminense.

O que o pleito atual, baseado na constatação mais do que evidente de uma violação da regra do jogo (a tal interferência externa), tem a ver com o caso de 2013? Lá, a justiça desportiva julgava Flamengo e Portuguesa por suas comprovadas ilegalidades na escalação. O Fluminense casualmente era terceiro interessado. Aqui a ação parte do Fluminense em face de uma ilegalidade cometida pelo árbitro da partida, que maculou diretamente a igualdade de direitos pressuposta em qualquer competição.

A mesma conexão é estabelecida com os episódios de 1996 (Ives Mendes) e 1999 (caso Sandro Hiroshi), em que os implicados diretos eram, no primeiro caso, Corinthians e Atlético Paranaense, e, no segundo, Botafogo e Internacional (além de Gama e São Paulo). Não há conexão interna entre os casos, sendo tal conexão construída artificialmente, como dito, com o propósito de manchar a reputação do Fluminense com a fama de “rei do tapetão”, livrando a cara daqueles que cometeram ilegalidades e/ou delas se beneficiaram.

Beira o crime de difamação a construção de uma conexão espúria e artificial entre casos desconexos. Para estabelecer um contraste e mostrar a gravidade do procedimento, estabeleçamos aqui de modo artificial – e falso, que fique claro – uma conexão entre casos em si desvinculados, todos eles relacionados ao Flamengo.

Em 2009, escutas telefônicas da polícia, segundo reportagem de diversos jornais, flagraram o goleiro Júlio César, do Flamengo, ligando para o perigosíssimo traficante da Rocinha, Bem-Te-Vi. Ao invés de ligar para a polícia, segundo as reportagens, o goleiro do Flamengo preferiu ligar para o traficante e comunicar a ocorrência de um assalto na Auto-Estrada Lagoa-Barra. Vejam aí a notícia do Extra na época:

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Poucos meses depois, em 2010, a reportagem do RJTV mostrou o atacante Vagner Love, também do Flamengo, desembarcar no baile funk da Rocinha sob escolta de traficantes armados com fuzis. Confiram:

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No conturbado ano de 2010, outro atacante do Flamengo povoou as páginas policiais. Adriano, segundo reportagem do Extra, teria sido acusado de amarrar a namorada Joana Machado numa árvore no Morro da Chatuba. A própria Joana negou o ocorrido posteriormente. Mesma sorte não teve, entretanto, Marcelle Brito, namorada do jogador da base do Flamengo, Renan Donizete, que teria sido agredida pelo rapaz. Vejam a reportagem da agência de notícias Futebol Interior:

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Por fim, creio que ainda esteja na memória de todos o caso Bruno, hoje preso pelo alegado envolvimento na morte de Eliza Samúdio. O caso envolveu assassinato, ocultação de cadáver e sequestro do bebê, filho do casal. O capitão do campeão brasileiro de 2009 figurou durante meses em reportagens como esta, da Revista Veja:

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Meus queridos, se o Flamengo fosse tratado pela mídia empresarial como o Fluminense tem sido recorrentemente e de modo venal, criminoso, certamente seria apresentado desavergonhadamente como um time de bandidos, traficantes, espancadores, assassinos, criminosos, enfim.

É justa a associação do Flamengo com o crime pela conexão entre episódios em si dissociados? Eu tenho certeza que não. O Flamengo não é um clube de bandidos. Assim como o Fluminense não é o clube do tapetão. Conexões como essas são uma afronta a instituições centenárias adoradas por milhões de fanáticos torcedores. São uma ofensa, para dizê-lo numa palavra.

Acontece que o Fluminense tem sido formalmente ofendido há décadas e tem agido com relativa passividade diante das agressões. Desta vez, aparentemente, o clube partiu para a briga. Que leve às últimas consequências. Estamos juntos.

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Quando o Fluminense entrou no Brasileirão deste ano de 2016, as expectativas não eram muito altas. Levir havia recém-chegado e conquistado a Primeira Liga e, por seu currículo e pelo próprio título da Liga, trazia algum conforto às Laranjeiras. Fred também estava entre nós e, por isso, ainda podíamos dizer que o campeonato estava em aberto. Se Jonathan se firmasse, se Richarlison, recuperado da contusão, mostrasse algum talento, se apostas como Felipe Amorim tivessem um pouco de bola, quem sabe, com contratações na janela, poderíamos chegar a algum lugar lá em cima?

Não vou recapitular todos os solavancos da montanha russa que nos trouxe de maio a hoje, em meados de outubro. Posso mencionar rapidamente a saída de Fred, a chegada de novos jogadores, quase todos horrorosos, o retorno surpreendente de Wellington, as falhas da defesa, a oscilação das intervenções de Levir. Não são os detalhes que quero ressaltar aqui, mas a linha geral de evolução.

O Fluminense primeiro foi obrigado, por sua performance, a abdicar do sonho do título. Hoje, estamos a nada menos do que dezoito pontos do líder, o que é absolutamente patético para um clube com nossa tradição. Eu, particularmente, espero do Flu, sempre, a luta pelo título até as últimas rodadas. Só reconheço o autêntico Flu nessa condição, ganhando ou não ao final.

O fato é que, na maior parte do campeonato, oscilamos entre sonhar ou não com a Libertadores. Em algum momento, nos aproximamos mais do Z4 do que do G4 e tememos pelo pior. Depois, numa subida da montanha russa, passamos a projetar nossa fixação no andar de cima. Houve alguns de nós, mais otimistas, que chegaram a reativar o sonho do título. Como disse antes, ninguém pode pedir a um tricolor que não sonhe com o improvável, porque nossa história é sinônimo mesmo de improbabilidade.

O fato é que, em pouco tempo, precisamente em três rodadas, a decepção bateu novamente às portas da Rua Álvaro Chaves, número 41. E o golpe nos atingiu quando pareceu impossível perder a vaga na Libertadores. Como todos sabem, o G4 virou G6 e pode virar G7. O Fluminense não ganhou mais depois que a Conmebol divulgou a mudança, de modo que hoje, pasmem, estamos atrás do Botafogo.

O jogo com o São Paulo desta segunda-feira foi uma síntese de nossa participação. Começamos sem saber o que esperar, nos animamos com a boa performance individual de Wellington, imaginamos no início do segundo tempo uma vitória segura, depois fomos ladeira abaixo. O incendiário Marquinho botou fogo no jogo, atrapalhando a saída de Gum (cujos reflexos hoje perdem para o de uma tartaruga). Mas, vamos ser sinceros?, a lambança de Marquinho apenas fez jus ao massacre do São Paulo àquela altura dos acontecimentos.

A última decepção está levando os tricolores a refazer as contas. Hoje um amigo, grande e respeitável tricolor, perguntou se o corte da Sulamericana era o G11. Fiquei pensando o seguinte: se uma nova decepção vier, será que teremos de comemorar a classificação no G16? Porque parece mesmo que esse time foi forjado com essa meta: não cair e, se possível, abiscoitar alguma sobra jogada fora por aqueles que disputam o título.

Eu, particularmente, não me conformo com essa situação. Gostaria que o clube estivesse agora mesmo afastando definitivamente do clube o responsável pela contratação de vários “jogadores”, dentre os quais puxam a fila Dudu, Aquino, Dourado, Wellington Silva, William Matheus, Maranhão, Giovanni, Osvaldo e Pierre (para ficar numa lista modesta). Os caras foram contratados com salários polpudos e não são capazes de render absolutamente nada pela simples falta de futebol. Pergunto eu: fica por isso mesmo? O clube não cobra com seriedade os responsáveis por equívocos desse porte?

O ano de 2016 conta com um planejamento de futebol digno de rebaixamento. O Fluminense não vai cair porque torrou uma fortuna no meio do caminho para trazer uma penca de jogadores, dos quais apenas um indubitavelmente vingou, Wellington. Os outros apenas permitiram aos que estavam no elenco descansar, nada mais do que isso. O elenco ficou inchado e os atrasos salariais só não apareceram porque o orçamento foi sangrado seriamente para impedir a tragédia.

É certo: é melhor torrar os tubos do que cair. Mas essas não são as duas únicas alternativas. Há pelo menos outra, muitíssimo mais adequada: planejar, usar a base, contratar criteriosamente, ter um elenco bem montado, enxuto, mas suficiente. O planejamento começa pela escolha do técnico, no ano anterior. Começa pela concepção de jogo que se reflete no técnico, para ser preciso, passa pela relação com empresários, pela política para a base. O Fluminense não demonstra ter nada disso.

Com o perdão da palavra, fizeram merda. Das grandes. Não planejaram e torraram grana de um clube sufocado por dívidas desnecessariamente. Sofremos com problemas de planejamento sérios desde 2013, pelo menos. A década de 1990 já deveria ter ensinado que um dia a casa cai. Que não se transforme o Flu num time que luta pelo G16.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: jlm

 

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