“A economia, idiota” (por João Leonardo Medeiros)

Former U.S. presidents George W. Bush and Bill Clinton shake hands after Bush gave Clinton advice on how to be a grandfather, as they participate in an onstage conversation at a Presidential Leadership Scholars event at the Newseum in Washington September 8, 2014. The Presidential Leadship Scholars program is a joint venture of the presidential centers of former presidents Lyndon B. Johnson, George H. W. Bush, Bill Clinton and George W. Bush. REUTERS/Jonathan Ernst (UNITED STATES - Tags: POLITICS EDUCATION)

Na campanha presidencial dos Estados Unidos em 1992, a equipe do candidato democrata Bill Clinton forjou slogans que pudessem simultaneamente levar a perspectiva do partido ao grande público e desqualificar o candidato rival, o então presidente George Bush (pai). Dentre os três slogans escolhidos (“Mudança x mais do mesmo”; “Não se esqueça do sistema de saúde” são os outros dois além do destacado a seguir), aquele que ficou definitivamente na memória foi: “A economia, idiota”.

É fácil compreender a rápida difusão e a perenidade do slogan “A economia, idiota”. A economia norte-americana estava em recessão desde 1988 e percorreu o ano de 1991 em queda livre, com taxa de crescimento negativa do produto doméstico bruto real, o que ocasionou um aumento acelerado das taxas de desemprego e todas as consequências nefastas associadas. O cenário econômico pavoroso finalmente minava o prestígio dos republicanos, que governavam o país desde 1981 com uma política que casava neoliberalismo com belicismo.

A mensagem curta era mais do que direta: em lugar de um nirvana econômico, o ajuste neoliberal entregava uma economia esfacelada que, por si só, comprovava a necessidade da mudança política. Qualquer idiota podia entender que não se tratava de um problema de desgaste político puro e simples, da perda de atratividade de palavras de ordem, mas da economia. A economia, idiota.

Corta para o Fluminense. Depois de uma fartura de títulos no conturbado e irresponsável período Horcades, Peter Siemsen assumiu o posto de presidente do clube com uma missão nada trivial: administrar o orçamento-bomba venal legado por seu antecessor, romper com décadas de descaso com a estrutura do clube e ainda manter o time de futebol em condições de disputar títulos.

O abre-alas de 2011 não fez feio, mas a temporada extraordinária de 2012, que nos deu um estadual, um tetracampeonato brasileiro e ótimas memórias, parecia comprovar que a administração tinha realmente encontrado uma fórmula para tratar do curto e do longo prazos ao mesmo tempo. Tratava-se de um milagre festejado por todos ou quase todos, que certamente inviabilizava qualquer candidatura contrária ao status quo no clube. Certamente isso explica por que Siemsen conseguiu eleger-se com um massacre sobre a oposição no duro ano de 2013, ano esse em que o Flamengo nos salvou da segunda divisão por seu erro administrativo típico de time de várzea. Lembrem-se que a eleição tricolor foi nas últimas rodadas do brasileiro, quando o rebaixamento parecia ser iminente e dificilmente contornável.

O segundo mandato de Siemsen foi mais bem-sucedido que o primeiro na política de longo prazo. A dívida foi finalmente equacionada, Xerém nos orgulha mais que nunca, a sede passou por mudanças expressivas, o CT vai de vento em popa. É pouco para ti? Para mim, não. Acontece que, no que se refere ao curto prazo, a realidade é insofismável: vamos fechar nada menos que três anos sem títulos. Pior, três anos sem sonhos suaves, três anos de pesadelos. É duro reconhecer que, projetando a administração atual do futebol para o futuro, teremos um quarto ano terrível, que pode ter consequências sérias para o clube – perceberam, para o clube, mas não necessariamente para o time.

A candidatura da situação está ruindo. Há quem diga de tudo: querem trazer de volta o passado (e tem gente que quer mesmo), querem acabar com a administração do longo prazo (e tem gente que parece querer mesmo), a situação já está desgastada após tanto tempo à frente do clube (e está mesmo), o candidato mais identificado com a situação demonstrou-se péssimo administrador do futebol (demonstrou mesmo). Tendo ou não um pouco de razão isso tudo (e tem mesmo), para mim a explicação para o desgaste da situação é uma só: o futebol, idiota.

Meus queridos: o nome que consta na nossa cédula de identidade é Fluminense Football Club. Não somos Fluminense Budget Club, Fluminense Sub-20 Club, ou Fluminense Marketing Club. Ou a gente ganha alguma coisa no futebol profissional urgentemente ou quem está à frente do clube e do time vai se queimar. Isso vai do presidente ao último jogador do elenco, passando pelo vice de futebol, por toda a comissão técnica, pelos jogadores mais afamados do elenco até o último reserva. A lata na cabeça de Fred esse ano mostra que nem ele, o mais querido dentre todos no elenco atual, fica imune ao péssimo futebol.

Querem revolucionar a estrutura do Fluminense e ajustar as finanças? Façam isso, é necessário, importante, indispensável. Agora, isso exige o comando político do clube, o que, por sua vez, cobra resultados de curto prazo. Sem resultados no futebol, ninguém preserva esse comando por muito tempo, ainda mais num clube que (por ação acertadíssima do primeiro Siemsen) acabou de democratizar-se, transformando a torcida em ator político. É o futebol, idiota, desculpe-me a repetição.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: the guardian

LANÇAMENTO O ESPIRITO DA COPA RJ

1 Comments

  1. Aplausos!!!!!

    Será que existe (ou venha a existir) uma candidatura alternativa?

    ST

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