A Bienal do Livro e o Flu (por Paulo-Roberto Andel)

BienalDoLivro2013

Letras, versos, contos, pontos, dramas, história.

A vanguarda e o Fluminense sempre foram namorados de mãos dadas numa tarde no Leme.

Por isso, mais uma vez, o tricolor faz história: no evento literário mais importante do país – a Bienal do Livro –, lá está o velho bardo das Laranjeiras de guerra com ares tão juvenis – o primeiro clube de futebol do Brasil a ter um stand próprio abrigando o nosso acervo de literatura do esporte bretão, dos mais pujantes do mesmo futebol brasileiro, senão o maior. Programação diária multifacetada para todos os gostos.

Desde anteontem, fincamos nossa bandeira no cenário maior da literatura brasileira.

Mas nem precisava de tanto, embora seja mais do que merecido e desejado: o fato de ter entre seus autores simplesmente o gênio Nelson Rodrigues já faz do Fluminense uma bandeira da literatura mundial. O Velho não está mais entre nós, mas sua obra é duradoura e de franca inspiração para todos aqueles que querem – ou ao menos tentam – injetar letras no futebol.

Há de tudo um pouco: livros organizados pelo clube, historiografias, crônicas, poemas, contos, romances esportivos, cada um de acordo com a preferência do leitor – os pluralizados acabam lendo tudo – nada de fofocas da Candinha. Autores de procedências, formatos, estilos e navegações diferentes. Decanos e também gente que chegou ontem (como eu, ahahahahahahahahahahahah!), mas que já mostrou que veio para ficar. Cada um tem suas preferências, lógico, mas o fundamental é que o Fluminense tem uma vasta literatura contemporânea da qual pode se orgulhar. Deixo de lado meu papel de escritor e falo em meu principal teatro, o de leitor: sigo as diretrizes de meu amigo Carlito Azevedo, o maior poeta contemporâneo brasileiro. Disse o gigante dos versos: “Eu não sou vigia da poesia alheia”. Impecável. Já um outro sujeito simplório  – mas honesto – diria em outro formato e tom: “Eu não estou aqui para ser um babaca que pretende julgar quem é o bom, o rei das letras, o dono da verdade, o latifundiário da história – é estúpido demais – o resumo é de cada um – pensando bem, é mesmo.” – quem sabe de mim sou eu, quem sabe do que é melhor ou não é o leitor.

Durante muito tempo o futebol foi tratado com certo desdém pela literatura nacional. Dizia-se que era coisa de “alienado”, de quem “não pensava”. Bolas! Uma bobagem sem tamanho. O mesmo comportamento foi adotado por outras searas artísticas e isso só constituiu um enorme prejuízo para o país: tínhamos e temos muito a contar. Portanto, a iniciativa do clube é mais do que bem-vinda: rompe com paradigmas ocos, desafia definições e põe o futebol em seu devido lugar dentro da importância da vida cultural brasileira. Tudo com matizes tricolores da eterna vanguarda.

A parte que me cabe nesse processo, minúscula por sinal, coisa de formiguinha diante do mundo, mesmo assim me causa muita satisfação: apesar de militar na literatura não-esportiva há dezessete anos (sim, e é por isso que você, caro/cara amigo/amiga, acha meu texto “diferente” do costumeiro, porque ele não tem nenhuma imitação de Nelson Rodrigues, mas sim de João Saldanha, Achilles Chirol, Ivan Lessa, Jack Kerouac e Cacaso (risos!), mais trocentos autores), a verdade é que eu não tinha antes o desejo fiel de ser publicado como um escritor “convencional”. Pensava que ninguém se interessaria; afinal, quando você entra numa grande livraria, são milhares de títulos e um livro de autor desconhecido é apenas mais um livro, um número qualquer.

Até que em belo dia de 2006, cansado de ler o museu de grandes novidades dos jornais – quase todos prevendo a morte do Fluminense -, usei meu lado de torcedor constante em todos os jogos: para ler aquelas besteiras, preferi escrever e ler as minhas próprias. Então vieram 2009, 2010 e o resto todos os meus quinze leitores já sabem: deu nisso aí. Publiquei antes sobre futebol do que a literatura convencional propriamente dita.

Foi o Fluminense que me permitiu ser um autor publicado e humildemente até pago, sem recorrer ao natural desembolso de dinheiro próprio para publicar – e eu nem tinha mesmo – sou um escritor falido! -, o que infelizmente ainda acontece dentro de um mercado editorial muito conservador e – porque não dizer? -, míope. Então, lançar quatro livros sem tirar nada do bolso é uma tarefa árdua da qual posso ter algum orgulho. Pequena, porém importante. Mas nem tudo é dor no mercado de livros: não posso deixar de agradecer às editoras 7Letras (casa de muito orgulho) e Multifoco (idem) pelas minhas publicações passadas, nem à 5W pelas próximas – todas acreditando em meu potencial em vender pelo menos meia-dúzia de livros – uma das novas publicações já a caminho (infelizmente não deu tempo para o evento), bastante desafiadora do ponto de vista literário e que todos saberão em breve, ao lado de verdadeiros craques do texto, juntos pela primeira vez em torno de um tema inédito.

E, claro, mais uma vez agradecer ao meu amor em forma de time pela oportunidade de estar por lá, Bienal, no dia 08, ao lado de meu amigo, sócio, companheiro de trabalho e irmão João Marcelo Garcez – o John Coltrane dos nossos escritores tricolores atuais.

Muitos são os colaboradores dentro do Fluminense, mas não poderia deixar de mencionar os nomes essenciais dos escritores Dhaniel Cohen, Heitor D’Alincourt e João Boltshauser. E muito mais gente que, mesmo aqui não mencionada por esquecimento, sabe ser amada e apaixonada em meu coração: os amigos, as musas, a mulher amada, a bonequinha, os companheiros de longe, muita, muita turba.

A generosidade de gênios como Marcos Caetano – o nosso Miles Davis das letras tricolores.

Para finalizar, a eterna gratidão a todos os meus companheiros jogadores aqui do PANORAMA (é que não somos um site, um blog ou uma turma de deslumbrados perdidos em falácia caixa-alta, mas sim um time!). Obrigado por tudo.

Qualquer coisa, me desculpem: é que sou novo aqui.

Duzentas colunas e um milhão de visitas são nada diante do tamanho do amor que é o Fluminense. A ele, tudo!

Aí estão nas prateleiras e estantes os nossos livros que não me deixam mentir.

O Fluminense é uma biblioteca.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

http://www.travessa.com.br/Paulo-Roberto_Andel/autor/F7333BF0-3DC8-463E-BF22-E1F68763EE3D

http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=1184&idProduto=1216

gilscott

2 Comments

  1. Paulo,
    parabéns!! Você e tantos outros – como o citado Marcelo – fazem parte de uma nata de blogueiros, escritores, amantes do Fluminense.

    Sucesso!!!

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