Nem o FMI segura o Fluzão!

Depois do “milagre brasileiro” da primeira metade da década de 70, quando o PIB apresentou números bastante expressivos, os anos 80 foram trágicos. A bomba-relógio armada nos tempos de milagre, crescimento com alto endividamento, explodiu. E mais, o mundo foi golpeado por duas crises do petróleo – 73 e 79 – que jogaram o preço do barril na estratosfera. Para contornar a crise (ou aprofundá-la), o governo militar pegou, sistematicamente, megaempréstimos do FMI. Eram empréstimos para pagar empréstimos, ou seja, rolava-se a dívida. Ir ao FMI de pires na mão era igual a recorrer a agiotas: milhões de atrativos para entrar, mas para sair… Previsível, criou-se uma relação de submissão aos ditames do Fundo, que demorou mais de vinte anos para se romper:

Enfim, Brasil fecha o “jumbo”

Ontem à tarde o Banco do Brasil em Nova York emitiu um comunicado oficial, assinado pelo presidente do Banco Central, Afonso Celso Pastore, e pelo presidente do Comitê de Assessoramento da Dívida, o vice-presidente do Citibank, William Rhodes, anunciando o fechamento do “jumbo” de US$ 6,5 bilhões. (…) Todo o pacote depende em primeiro lugar de o Brasil cumprir a última carta de intenções que enviou ao Fundo Monetário (…). O FMI afere trimestralmente o cumprimento da carta. (Folha de São Paulo, 27/01/1984).

Brasil e o FMI: de devedor a credor

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou no dia 10 de junho um empréstimo de US$ 10 bilhões do Brasil para o FMI. Será a primeira vez na história em que será realizada uma operação dessa natureza. (Administradores, 17 de junho de 2009).

FMI pede que G-20 ajude Europa a ampliar recursos

O Fundo Monetário Internacional (FMI) está pedindo às maiores economias do mundo que ajudem a zona do euro a ampliar os recursos para combater a crise na região (…) (Agência Estado, 25/01/2012).

Saindo do mundo das finanças e voltando ao futebol, a Copa Brasil ainda estava na sua primeira fase e, no segundo giro da tabela, o Fluminense reencontraria seus adversários, mas com o mando de campo invertido. Sendo assim, voltou a enfrentar o Confiança. O jogo foi em Aracaju (Lourival Batista), dia 19 de fevereiro. Pela primeira vez, o futebol do time agradou:

Flu reencontra bom futebol e vence fácil

Incrível. Ontem, nesta cidade, contra o Confiança, o Fluminense jogou um futebol digno de suas melhores atuações no Campeonato Estadual do ano passado e assim venceu por 2 a 0, gols de Washington e Assis no segundo tempo, garantindo praticamente sua classificação.

Foi um futebol de campeão. Marcação cerrada no meio-campo e contra-ataques irresistíveis, alternadamente pela direita, com Ronaldo, e pela esquerda, com Tato. O time esteve tão bem que nem se abalou com a agressão do bandeirinha Laercio Ribeiro dos Anjos ao lateral-esquerdo Branco, que era o melhor em campo quando foi expulso, aos 14 minutos do segundo tempo. Continuou tocando a bola, fez mais um gol e acabou dando um show para sua pequena, mas eufórica torcida (JB, 20/02/1984).

FICHA TÉCNICA

CONFIANÇA 0 X 2 FLUMINENSE

Árbitro: Jair Pereira Guimarães (PR); Renda: Cr$ 16.766.800,00; Público: 17.015
Gols: Washington 8 e Assis 28 do 2º Tempo.
Confiança: Luisinho, Clodivaldo, Fiscina, Fernandes e Guilherme; Fanta, Marcos Costa (Adílton, 20 do 2º) e Zé Raimundo; Gílson Lopes, Luís Carlos e Albertino. Técnico: Givanildo Oliveira.
Fluminense: Ricardo Lopes, Getúlio, Duílio, Vica e Branco; Jandir, Delei (Leomir, 25 do 2º) e Assis; Ronaldo (Carlos Eduardo, 17 do 2º), Washington e Tato. Técnico: Carbone.

Branco diz como foi a agressão do bandeirinha

– Olhem a marca aqui na minha barriga. Pode acontecer isso? Um bandeirinha agredir um jogador? Eu apenas fui até a linha do campo para pegar a bola, porque ele havia marcado lateral, quando, de repente, me surpreendi com ele cutucando minha barriga com o pau da bandeira. Nunca vi isso, deve ser um louco. Sabem que fiquei com raiva e pensei em revidar? Felizmente me controlei e não perdi a cabeça. Se não, como ficaria minha carreira? (JB, 20/02/1984).

Surreal. Imagine se o garoto, ainda sem fama, tivesse revidado? Um caso desses poderia dar uma suspensão salgada. Talvez, hoje, não tivéssemos conhecido um dos melhores laterais do futebol; um garoto que, uma década depois, arrancaria uma Copa do Mundo para o Brasil.

ABC, três letrinhas que já causaram arrepios aos tricolores. Melhor nem lembrar 1998 e voltar a 84. O jogo em Natal (Castelão), 22/02, seria o quinto consecutivo contra equipes nordestinas. Os jogadores do Fluminense já estavam falando “oxente!” e “da gota serena”. Com esse sotaque, o time partiu de Sergipe rumo à capital potiguar, ainda sem todas as estrelas consagradas: Paulo Vitor e Ricardo (ainda na Seleção), Aldo (sem contrato), Branco e Delei (suspensos) e Romerito (ainda um sonho).

FICHA TÉCNICA

ABC 1 X 2 FLUMINENSE

Árbitro: Nei Andrade Nunes Maia (BA); Renda: Cr$ 15.196.500,00; Público: 20.194
Gols: Marinho 32 do 1º Tempo; Leomir 10 e Washington 12 do 2º Tempo.
ABC: Rafael, Vassil (Saraiva, 20 do 2º), Joel, Sérgio e Dudé; Baltazar, Dedé de Dora (Nicácio, 14 do 2º) e Marinho; Curió, Silva e Severinho. Técnico: Erandir Montenegro.
Fluminense: Ricardo Lopes, Getúlio, Duílio, Vica e Renato (Carlos Eduardo, 22 do 2º); Jandir, Leomir e Assis; Ronaldo (Édson, 29 do 2º), Washington e Tato. Técnico: Carbone.

E a novela continuava…

Luqueño pode ficar com Romerito

O atacante Romerito está autorizado pelo Cosmos, de Nova Iorque, a jogar pelo Sportivo Luqueño, vice-campeão paraguaio, durante a Taça Libertadores da América, em virtude do iminente fracasso das negociações do jogador para ingressar no Fluminense, do Rio (JB, 21/02/1984).

No próximo capítulo, as marcas das ditaduras da América do Sul e o fim da novela Romerito.

Até lá.

Mauro Jácome

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Contato: Vitor Franklin

Revisão preliminar: Rosa Jácome

Capítulo 3: http://www.panoramatricolor.com/1984-iii-por-mauro-jacome/

Demais fontes:
RSSSF Brasil
www.flumania.com.br
www.futebol80.com.br