1984 – Cara de campeão (por Mauro Jácome)

CARAAs Olimpíadas de 1984 marcaram a arrancada do vôlei nacional. A medalha de prata em Los Angeles foi um dos primeiros sinais da notável ascensão desse esporte. Incomum uma categoria esportiva brasileira sair da posição em que se encontrava o vôlei para o topo do ranking mundial, em tão pouco tempo. O futebol brasileiro poderia aprender algumas práticas adotadas pelo vôlei, exceção à torcida que frequenta os ginásios, que mais parece com aquela contratada do Telecatch Montilla dos anos 60.

Na Copa Brasil, o terceiro jogo do Fluminense na fase em curso foi contra a Portuguesa de Desportos, em São Paulo. Na Lusa jogava Mendonça, excelente meio-campo e que havia feito sucesso no Botafogo. Ainda, tinha Tite, atual técnico campeão mundial com o Corinthians, Odirlei, com várias passagens pela Seleção, Marinho Rã, titular da Seleção de Juniores, campeã mundial em 1983. No comando, o ex-goleiro são-paulino José Poy. Enfim, ao contrário dos dias atuais, a Portuguesa era muito bom time.

Pelo lado tricolor, numa dessas coisas estranhas que acontecem no futebol, Carbone foi demitido na noite de 13 de abril. O motivo principal eram atritos com alguns dirigentes que tentavam ingerir nas decisões relativas ao time. Paralelamente, Parreira, que saíra da Seleção, estava sendo cortejado:

Flu convida Parreira para ir a São Paulo

Como um torcedor ilustre, o técnico Carlos Alberto Parreira será convidado pelo Fluminense para assistir ao jogo contra a Portuguesa de Desportos, amanhã à tarde, em São Paulo, no Canindé. Segunda-feira ele já poderá estar em campo treinando a equipe, em substituição a Carbone, que foi demitido ontem à noite (JB, 14/04/1984).

FICHA TÉCNICA

PORTUGUESA 0 X 1 FLUMINENSE

Árbitro: Nei Andrade Nunesmaia (BA); Renda: Cr$ 26.077.000,00; Público: 16.089
Gol: Delei 25 do 2º Tempo.
Portuguesa: Éverton, Mauro, Cláudio, Leiz e Odirlei; Almir, João Batista e Mendonça; Tite, Marinho (Ramírez, 22 do 2º) e Heriberto. Técnico: José Poy.
Fluminense: Ricardo Lopes, Aldo, Vica, Ricardo e Branco; Rogério, Delei (Wilsinho, 30 do 2º) e Assis (Renê); Romerito, Washington e Tato. Técnico: José Carlos do Amaral.

Tato só não fez o gol da vitória

Ontem foi o dia de Tato. Ele levou a Portuguesa à loucura do princípio ao fim do jogo. Quando ele fez a jogada do gol, marcado por Delei, aos 25 minutos do segundo tempo, o goleiro Everton já tinha espalmado uma bola sua, logo no início da partida, e Washington desperdiçado a melhor oportunidade, também num lance seu (JB, 16/04/1984).

Surgia mais um nome que imortalizou aquele time de Assis, Romerito & Cia.: Tato. A Folha de São Paulo do dia seguinte ao jogo contra a Lusa o definiu bem:

A torcida da Portuguesa descobriu, ontem à tarde, porque o tão badalado Paulinho da seleção de novos foi parar entre os reservas do Fluminense (…) e Carlos Alberto de Araújo Prestes, nascido a 27 de março de 1961, é mesmo um craque, desses que empolgam velhos sonhadores de um futebol que se pratique com talento e cabeça erguida, menos com esquemas, retrancas e outras sandices inventadas pela incompetência que anda solta.

Na reta final do Brasileiro de 1984, entrava em cena um dos técnicos mais reverenciados no mundo do futebol moderno: Carlos Alberto Parreira. Parreira fora preparador físico do Fluminense e, também, da Seleção do Tri e na Copa de 74. Como técnico, já assumira o comando tricolor por algumas vezes nos anos de 74 e 75, para cobrir vacâncias entre as trocas de técnicos. Vinha de uma longa experiência no Kuwait e de uma rápida passagem na Seleção Brasileira.

Parreira vai manter o time de Carbone

Com o objetivo de começar sem problemas o desafio de levar adiante a boa campanha do Fluminense na atual Copa Brasil, o novo técnico do time, Carlos Alberto Parreira, disse que “por enquanto” não fará qualquer modificação no trabalho deixado por Carbone, afastado do cargo sexta-feira à noite por não admitir “interferência de dirigentes” (JB, 17/04/1984).

Mais ou menos. No dia seguinte, o discurso politicamente correto acabou:

Romerito finalmente joga na meia-esquerda

A torcida do Fluminense tem boas razões para ir a São Januário, esta noite, incentivar o time contra o Operário de Mato Grosso do Sul. Ver como Assis se sairá no comando do ataque, substituindo Washington, suspenso pelo terceiro cartão, é uma delas; mas a que pode despertar ainda mais sua curiosidade é a presença de Romerito na meia-esquerda, sua verdadeira posição, que era ocupada até aqui por Assis. Mas o técnico Carlos Alberto Parreira tomou outra providencia para sua estreia. Como a vitória pode antecipar a classificação do Fluminense para a terceira fase da Copa Brasil, ele já decidiu que a equipe marcará o adversário por pressão, se possível no campo inteiro. (JB, 18/04/1984).

FICHA TÉCNICA

FLUMINENSE 2 X 0 OPERÁRIO

Árbitro: Emídio Marques de Mesquita (SP); Renda: Cr$ 18.318.000,00; Público: 8.186
Gols: Assis 41 do 1º Tempo; Assis 27 do 2º Tempo.
Fluminense: Paulo Victor, Aldo, Duílio, Ricardo e Branco; Rogério (Renê, 22 do 2º), Delei e Assis; Wilsinho, Romerito e Tato. Técnico: Carlos Alberto Parreira.
Operário: Paulão, César, Dito, Beto Fuscão e Dionísio; Gérson Andreotti, Marcinho e Vandinho; Biro-Biro, Lima e Nenê (Silvano, intervalo). Técnico: Carlos Castilho.
Em nova fase, Placar muda para cobrir todos os esportes

Com a explosão dos esportes no Brasil, a pátria do futebol transformou-se também no país do vôlei, do basquete, do atletismo e até de outros recentes interesses nacionais no terreno esportivo, como é o caso das maratonas, por exemplo. Acompanhando esse alargamento, acaba de ocorrer a mais importante alteração editorial em uma revista esportiva brasileira – a reformulação de Placar, semanário publicado pela Editora Abril. (…) O futebol, agora, deverá ocupar apenas 40% das 84 páginas semanais de Placar. Os demais 60% terão vôlei, basquete, natação, atletismo e qualquer outro esporte que merecer notícia. Além do conteúdo, muda também a abordagem dos temas (Veja, ed. 815, de 18/04/1984).

Um duro golpe em quem aguardava ansiosamente a revista semanal para folhear a rodada, saber mais dos ídolos, colar os pôsteres na parede do quarto, destacar as tabelas dos campeonatos. Em tempos sem internet, o Tabelão transportava-nos pelo Brasil e pelo mundo. A Placar funcionava como o irmão mais velho que sabia tudo de futebol. Infeliz ideia.

No próximo capítulo, o fim de um sonho.

Até lá.

Mauro Jácome

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Revisão preliminar: Rosa Jácome

Capítulo 10: http://www.panoramatricolor.com/1984-x-por-mauro-jacome/

Demais fontes: www.futebol80.com.br

 

3 Comments

  1. Foi uma pena o vôlei não ter conquistado o ouro. Na primeira fase contra os
    yankees, vencemos por 3 sets a 0.
    Geração de grandes jogadores: o tricolor Bernard, Montanaro, Renan, Xandó e cia.
    Sobre o flu: nós tínhamos 2 excelentes pontas: Tato e Paulinho.
    ST.

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